As soluções fotovoltaicas para integração em edifícios (na sigla, em inglês, BIPV – Building-Integrated Photovoltaics) podem acelerar o processo rumo a uma Europa livre de carbono, mas, para isso, as autoridades locais têm de agir, alerta relatório.

Sendo a descarbonização dos edifícios da União Europeia (UE) um poderoso meio para alcançar uma economia de consumo zero até 2050, a associação industrial SolarPower Europe e a European Technology and Innovation Platform for Photovoltaics (ETIP PV) lançaram um relatório que descreve como as BIPV podem ajudar a descarbonizar o parque edificado europeu, acelerar a transição de energia limpa nas cidades e gerar novos empregos.

O relatório tem como título “Solar Skins: Uma oportunidade para cidades mais verdes” e demonstra como as autoridades locais podem beneficiar com as BIPV e como a crescente adopção destas soluções pode impulsionar uma indústria promissora, a nível europeu, fornecendo empregos locais e altamente qualificados nos sectores da energia e construção.

Um aumento da percentagem da tecnologia BIPV no parque edificado iria contribuir significativamente para uma diminuição da pegada ecológica, criar emprego no sector da construção fotovoltaica e de instalação e melhorar a qualidade de vida e a atractividade das cidades europeias em geral.

Apesar do seu potencial, existem vários obstáculos a serem ultrapassados se quisermos ver as soluções BIPV como algo comum nas paisagens das cidades europeias. Esses obstáculos estão principalmente relacionados com a escassa e lenta integração das energias renováveis a nível local, nas cidades, mas também com a histórica falta de consciência dos benefícios dos produtos BIPV.

Como tal, o relatório refere que as autoridades locais podem ter um papel crucial na promoção activa das soluções BIPV e contribuir para acelerar o processo, rumo a cidades mais verdes, através de diversas medidas:

– convertendo o seu próprio parque edificado em Plus-Energy-Buildings (edifícios que geram mais energia do que aquela que utilizam) através da utilização das soluções BIPV e dando, assim, um exemplo de boas práticas;

– promovendo novas formas de financiamento para os proprietários privados, como contratos energéticos ou opções de leasing para instalações BIPV;

– implementando políticas eficientes, regulação e incentivos para uma electrificação sistemática dos edifícios, aquecimento, arrefecimento e transporte.

Dando como exemplos práticas levadas a cabo em cidades alemãs e dinamarquesas, o relatório refere que as cidades podem desempenhar um papel crucial no fornecimento de um impulso adicional para alcançar grandes reduções de CO2 através de uma adopção maciça da utilização de renováveis e sistemas BIPV. Como tal, a definição de uma meta anual de partilha de energia renovável, de modo a cobrir as necessidades de electricidade de uma cidade deve ser um primeiro (e importante) objectivo político. No entanto, este deve ser acompanhado de um programa de investimento detalhado, conceitos de financiamento e planos de gestão para a integração de energias renováveis no programa de renovação de edifícios públicos e privados, recomenda o documento.

As autoridades também devem desenvolver um planeamento adequado do sistema de energia, envolvendo a produção de energia renovável descentralizada. Ter um plano para incentivar e integrar os habitantes, que são, ao mesmo tempo, utilizadores e produtores de electricidade também vai ajudar a acelerar o processo de descarbonização.

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Segundo o relatório, sendo evidente a impressionante flexibilidade do design que se encontra nas maquetes de edifícios em toda a União Europeia, há espaço para a adopção deste tipo de estruturas, sendo que a maior parcela na cadeia de valor está e virá da UE, onde estão sedeados os pioneiros destas novas tecnologias de construção.

Esta unidade de energia modular pode ser integrada em quase todas as infra-estruturas como elemento de construção, incluindo telhados e fachadas. As instalações solares nos telhados estão a tornar-se cada vez mais competitivas e adaptadas ao mercado, mas os telhados representam apenas uma pequena fracção da área de superfície disponível do edifício. Como tal, a maior parte do potencial do edifício para gerar energia renovável nas fachadas permanece inexplorado. Para alcançar metas sustentáveis nas cidades, é necessário aproveitar todo o potencial dos edifícios (como as fachadas ou as janelas) para uma produção de energia renovável. A natureza única da tecnologia BIPV oferece uma oportunidade de enfrentar este desafio e multiplicar significativamente a contribuição que agora provém principalmente de instalações solares no telhado.

Actualmente, a energia solar fotovoltaica é considerada uma das fontes de energia mais económicas da Europa e a sua produção tem assistido a enormes progressos nos últimos anos. Continuam a ser estudadas, mas também já são postas em prática, várias formas de utilizar o melhor possível esta fonte de energia. Como tal, as cidades tornaram-se num dos grandes objectos de investigação, uma vez que 75 % dos edifícios na Europa foi construída antes de existirem normas de desempenho energético, o que faz com que 49 % dos edifícios da União Europeia represente metade do uso de energia dos seus Estados-Membros.

Recorde-se que o Acordo de Paris traçou como meta a redução de, pelo menos, 40 % dos gases de efeito estufa na União Europeia até 2030. Já para 2050 o objectivo é tornar a Europa neutra em termos de carbono, ou seja, com um balanço neutro entre as emissões e as remoções de carbono.