Falar em revolução na mobilidade é falar num tema que agrada a todos. Um tema que dá cor a conversas e páginas de revistas e jornais. As trotinetas eléctricas e as bicicletas partilhadas, os automóveis inteligentes, as aplicações e uma panóplia de outras tecnologias circulam hoje nas nossas vidas e nos nossos smartphones com um à vontade incrível. Uma animação e um mundo de possibilidades que, interligadas, chegam com o objectivo de nos facilitar a vida e contribuir para uma maior sustentabilidade das cidades e do planeta. Este é o ponto de partida: conseguir não perder de vista a sustentabilidade no meio de tanto frenesim e distração. Nesta experiência, há mais dois pontos fundamentais. Sabemos que esta electrificação das cidades está acoplada à mobilidade, mas não só, é uma realidade que começa a mudar a fisionomia dos centros urbanos e a forma como nos relacionamos com ele. E os edifícios também fazem parte desta história.

Quando falamos em energia e em electrificação, falamos em solar fotovoltaico. Um elemento fulcral nesta mudança. Mas será necessário eliminar o solar térmico? Não promover a geotermia? E o hidrogénio? Será que devemos ir a reboque do mercado e da tecnologia?

Os milhões de Bruxelas para as ciclovias e o argumento da modernidade ambiental criaram uma enorme agitação nos nossos governantes. Todos querem cidades vibrantes, bonitas e, sem dúvida, que as faixas coloridas deram um novo élan a vários centros urbanos portugueses. Mas nem tudo foi planeado como devia e outros problemas surgiram, como a insegurança para os ciclistas ou a eliminação de passeios para os peões.

As vantagens destas transformações são muito grandes, mas, como em tudo, temos de garantir outros aspectos fundamentais e aqui há dois a considerar: o planeamento e o urbanismo. Temos de ter uma estratégia que case a mobilidade com o bem-estar das pessoas, com a orgânica da cidade, com o ambiente natural e com as infra-estruturas existentes. E aqui os edifícios são vitais. É esta reflexão que pretendemos passar neste nosso tema de capa. Pensar só em disponibilizar bicicletas e trotinetas e construir quilómetros de ciclovias sem garantir outros aspectos é de uma irresponsabilidade que não queremos. Veja-se o caso das maiores cidades da China, onde proliferam cemitérios de bicicletas e trotinetas ao abandono.

É que, quando falamos em sustentabilidade e responsabilidade, temos de ter cautela! Já sabemos que o entusiasmo pela tecnologia e pela modernidade não têm travões. Tipicamente a tecnologia vai à frente e nós atrás. Não valerá a pena voltar a pensar no que queremos quando falamos em sustentabilidade? O planeamento urbano é decisivo para todas estas questões. Se juntarmos a engenharia e a arquitectura nos mais variados domínios talvez se consiga segurar todas estas pontas.

A Noruega é a campeã (per capita) em carros eléctricos e pelas melhores razões. Os incentivos perduram, há excelentes infra-estruturas e sistemas de carregamento e, sobretudo, os cidadãos estão no centro de todas estas preocupações. Há menos carros nas ruas e melhores casas. As pessoas andam em bons transportes públicos (eléctricos), partilham automóveis, há jardins e passeios para caminhar e as casas estão bem isoladas. Há uma preocupação enorme pela electrificação renovável, mas também com a envolvente e a eficiência. Nós continuamos a vender carros a um ritmo frenético, construir ciclovias como se não houvesse amanhã e, pasme-se, o veículo eléctrico mais vendido em Portugal é o Tesla…

Na Noruega, como noutros países genuinamente empenhados, as soluções renováveis são várias e a visão é abrangente. O objectivo é reduzir a circulação automóvel, mesmo a eléctrica. Há muitas soluções para além das baterias “second life” dos carros quando falamos em armazenamento energético para as nossas casas. Claro que o modelo económico é um driver essencial, mas deverá ser o único? Quando falamos em energia e em electrificação, falamos em solar fotovoltaico. Um elemento fulcral nesta mudança. Mas será necessário eliminar o solar térmico? Não promover a geotermia? E o hidrogénio? Será que devemos ir a reboque do mercado e da tecnologia? Estes temas são de uma centralidade estrutural e demasiadamente importantes para viajarem sozinhos. Estes temas não podem existir isolados. A visão e a responsabilidade governativa passa por vê-los numa perspectiva integrada.

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