Num momento em que o país e a Europa definem o caminho para a recuperação económica, a eficiência energética do edificado apresenta-se como uma aposta prioritária, com benefícios económicos, ambientais e sociais. As necessidades e desafios crescentes da indústria da construção requerem uma gestão adequada e integrada dos projetos para que estes possam beneficiar de melhor value for Money.

O setor da construção e imobiliário é um dos mais importantes drivers da economia portuguesa, contribuindo para mais de 15 % do PIB, cerca de 50 % do investimento e 10 % do emprego. O investimento público e privado, nomeadamente em projetos complexos e de larga escala, tem representado uma crescente exigência de requisitos a cumprir, que reclamam standards e qualificações adequadas para a sua gestão.

A par disto, a construção é uma indústria altamente fragmentada e com várias questões ao nível da produtividade, qualidade, segurança, mão-de-obra, inovação e desenvolvimento, pelo que as empresas portuguesas devem incrementar a sua proposta de valor adotando estratégias de diferenciação significativas.

Neste cenário, qual é a importância da gestão de projetos para a indústria da construção portuguesa? A gestão de projetos é a aplicação de métodos, ferramentas, técnicas e competências a um projeto, garantindo a integração das várias fases do seu ciclo de vida. Isto inclui não só o planeamento, monitorização e controlo de todos os aspetos do projeto, mas também a motivação de todas as partes interessadas para atingir os objetivos do projeto no tempo e no orçamento, qualidade e desempenho previamente estipulados. O gestor de projetos é a entidade apontada para liderar e gerir o projeto, sendo o último responsável perante o promotor pelo seu sucesso.

À luz do investimento estrangeiro em ativos imobiliários e objetivando o sucesso dos projetos, a tendência tem sido para os clientes procurarem soluções integradas de gestão, desde a fase de consultoria até à entrega final do projeto, recorrendo a entidades independentes, especializadas e certificadas, com experiência local. De entre os tradicionais vetores da gestão de projetos (“the project management double triangle” – âmbito, custos, prazos, recursos, qualidade, risco), assegurar o melhor value for money, os limites orçamentais e a adequada identificação e análise dos riscos tem assumido crescente relevância para a gestão dos projetos de construção.

Por definição, os gestores de projeto devem acompanhar todo o ciclo de vida do projeto, promovendo a integração da sua cadeia de valor. Contudo, tipicamente estão mais envolvidos nas fases de pré-construção ou construção, sem participação relevante nos estudos de viabilidade e na pós-construção. Tal propicia falhas de continuidade e previne a aplicação homogeneizada de processos nas várias etapas do projeto, conduzindo frequentemente a ciclos de vida adaptativos, ou seja, em que são fixados custos e prazos, mas o âmbito é definido à medida que o projeto avança.

Por definição, os gestores de projeto devem acompanhar todo o ciclo de vida do projeto, promovendo a integração da sua cadeia de valor. Contudo, tipicamente estão mais envolvidos nas fases de pré-construção ou construção, sem participação relevante nos estudos de viabilidade e na pós-construção.

Os gestores de projetos de construção são em grande número engenheiros civis com formação complementar em gestão, o que, embora por princípio possa ser apropriado, não prescinde da adequada experiência em projeto e construção e do entendimento sobre as funções necessárias para desempenhar o seu papel como gestores de projeto.
A diversidade de projetos e stakeholders na cadeia de valor da construção, juntamente com a escassez de standards oficiais e geralmente aceites na indústria, favorece a adoção de abordagens diferentes entre projetos e, por vezes, entre fases do mesmo projeto, incrementando, assim, o risco de erros e a dificuldade em comparar ativos, custos de projeto, desempenho e potenciais investimentos.

O atual panorama enleva a importância da gestão de projetos na promoção das melhores práticas e qualificações profissionais na indústria da construção portuguesa, que se quer cada vez mais eficiente e competitiva no mercado global. Neste sentido, existe também espaço para instituições internacionais, como o RICS, PMI e IPMA demarcarem a sua posição neste setor, proporcionando benefícios como: certificação global; acreditação e reconhecimento; standards globais; formação avançada; rede de conhecimento mundial; e experiência.

Há assim uma oportunidade emergente para os gestores de projeto na construção portuguesa, fundada em formação, qualificação, regulação e standards, e capitalizada sobre o seu papel integrador e experiência em coordenação, colaboração e comunicação. Os gestores de projeto podem – e devem – também assumir um papel líder em iniciativas de inovação e desenvolvimento contribuidoras para um ambiente construído mais resiliente e sustentável, desbloqueando o potencial da transformação digital, economia circular e indústria 4.0.

A adequada incorporação do papel do gestor de projetos permitirá ao setor da construção e à economia portuguesa ultrapassarem alguns dos seus maiores desafios e beneficiarem de melhor value for money, mitigando os custos de oportunidade de não gerir e entregar projetos da forma mais acertada.

As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.