É a incerteza que nos domina neste momento. Em todos os domínios e em todos os sectores da actividade económica. Inevitavelmente, a incerteza gera expectativas totalmente diferentes. Olhares diferentes. Se juntarmos os estados de alma e o contexto de cada um, acontece de tudo um pouco e as opiniões vão para todo o lado. Se juntarmos ainda a chamada economia informal, podemos ter uma tragédia mundial. Mais de metade da população mundial não integra o mercado de emprego tradicional e não ter trabalho, significa não ter comida. Números assustadores. Esta contabilidade sobe para mais de 80 % em todo o continente africano. A Organização das Nações Unidas já chamou a atenção para a urgência e coordenação no relançamento da economia no sentido de não esquecer esta realidade. Uma vulnerabilidade que devemos olhar de frente com sentido de solidariedade e com consciência colectiva. É que isto também nos diz respeito.
Num outro mundo, o nosso, onde as coisas são mais fáceis e onde temos uma casa confortável para passar qualquer confinamento, também não se sabe como vão ser os próximos meses. Ainda assim, há algumas coisas que temos como quase certas. Há uma energia, confiança e vontade enormes de arregaçar as mangas e recuperar o tempo perdido. Temos essa responsabilidade.
Temos condições muito desfavoráveis como o impacto na economia, o desemprego real, a incerteza sobre a continuidade do investimento imobiliário ou do turismo e para quando haverá essa retoma. Mas há muitas coisas positivas e que nos dão doses reforçadas de optimismo. Esta crise que agora começa não tem nada a ver com a crise financeira de há uns anos! Convém não esquecer de que, nessa altura, a casa caiu. O sistema financeiro que criámos faliu. Hoje não há a falência de um sistema! Não estamos animicamente derrotados. Até há dois meses, a economia estava a desacelerar, como era previsível, mas a funcionar. A construção não parou e temos milhares de projectos a andar e em carteira.
Ainda em relação ao nosso sector, aproveitar esta situação para voltar a esmagar orçamentos e honorários é de uma irresponsabilidade e falta de ética que não vamos aceitar.
Saímos da última crise sem chão. Hoje, sabemos o que temos que fazer porque sabemos onde pôr os pés. É previsível que nos vá faltar muita coisa nos próximos tempos mas os danos não são estruturais. Só temos de ter confiança e voltar a erguer a casa. A nossa casa! E temos algumas coisas a nosso favor. Portugal já não é só um país trendy e dos mais seguros do mundo. É também seguro em matéria de saúde. Pode parecer estranho falar nisto, mas, a partir de agora, este tema vai a ganhar uma importância que não esperávamos. Não foi por acaso que milhares de estrangeiros vieram para cá passar a quarentena. Bons serviços de saúde, clima de excelência, segurança, etc. Numa Europa cada vez mais fragmentada, nós, no nosso canto, estamos firmes e ávidos para continuar a receber as empresas que se vão instalando por cá. E tudo indica que vamos continuar a fazer um bom trabalho. A fragilidade estará no tempo até conseguirmos erguer a nossa casa. Saibamos nós tomar as medidas certas, todos!
Para todos nós, esperamos dedicação e muito espírito positivo. Aos nossos governantes, apenas pedimos medidas de apoio às pequenas empresas e à fileira da construção, com rapidez e agilidade. Não as deixem cair! Aos governantes europeus pedimos um olhar sério para o Pacto Ecológico Europeu, que nunca fez tanto sentido como agora. Não aproveitem para voltar a meter os edifícios na gaveta com mais programas e medidas desajustadas. E atenção! Pela segunda vez, a quebra dos consumos energéticos não é sinónimo de desempenho ou eficiência energética. Sejamos sérios!
Ainda em relação ao nosso sector, aproveitar esta situação para voltar a esmagar orçamentos e honorários é de uma irresponsabilidade e falta de ética que não vamos aceitar. É altura de sermos sérios e solidários e abandonar expedientes manhosos.
Nota de abertura originalmente publicada na edição nº129 da Edifícios e Energia (Março/Abril 2020)
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