Falar em materiais, em energia incorporada, nos processos de construção ou na pegada de carbono implica valorizar um conjunto de factores, como o processo de extracção das matérias-primas, o fabrico, o transporte, a aplicação, a demolição e a valorização de tudo o que faz parte da estrutura de um edifício. Implica integrar estas variáveis no ciclo de vida do edifício. Tudo indica que estes temas vão dominar as atenções do nosso sector nos próximos anos.
Não é para menos. Que sentido faz definir metas, criar etiquetas e arranjar parangonas para processos importantes, mas insuficientes, se quisermos levar a sério aquilo a que chamamos de sustentabilidade? Descarbonizar significa olhar para tudo onde haja carbono e não apenas para uma parte.
Começámos bem, em 2006, com uma regulamentação focada na energia e nos edifícios na qual se pretendia reduzir as necessidades energéticas e dar atenção aos aspectos construtivos dos edifícios. Sucede que, passados estes anos, o balanço não é tão positivo como gostaríamos. Valorizámos em excesso o desempenho energético em detrimento de outros aspectos. Descurámos a reabilitação energética e centrámos o balanço energético na fase de utilização do edifício. Atribuímos classificações e etiquetas em função desses critérios e premiámos a eficiência energética dos sistemas e equipamentos. O resultado já o conhecemos: promove-se a electrificação dos edifícios, que se pretende renovável, e a utilização de equipamentos, também com base em fontes de energia renováveis, como forma de minimizar in house os consumos energéticos, que inevitavelmente vão aumentando.
É aqui que estamos e é curto. Muito curto. Como podemos falar em descarbonizar o parque edificado e em edifícios carbono zero apenas com estas variáveis? A Comissão Europeia já deu o primeiro passo e aguardamos uma nova directiva para os edifícios que obrigue a uma análise e a uma ponderação que vão muito mais longe. Nesta revista, procurámos aprofundar este tema obrigatório de que ninguém fala e dá-lo a conhecer com a ajuda de vários especialistas.
Aqui chegados, é impossível não incluir estes temas numa nova e desejável dimensão da sustentabilidade que engloba ainda a reciclagem e a economia circular no aproveitamento ou na reutilização de produtos. Temas que estão completamente ligados aos materiais e ao seu impacte ambiental. Falar em balanço energético e não contemplar esta nova dimensão é deixar o ciclo de vida do edifício em aberto e continuar a fingir que está tudo bem.
A edição n.º 145 é a primeira revista de 2023 e, por isso, um número especial. Passado um ano da criação de um fórum de opinião de excelência, verificamos que é uma fórmula de sucesso que os nossos leitores valorizam e partilham. Eduardo Maldonado, Ernesto Peixeiro Ramos, Serafín Graña, Isabel Sarmento e Carlos Oliveira são os “nossos” especialistas, que dispensam apresentações e que, em todas as edições, dedicam o seu tempo a reflectir sobre os assuntos e a aprofundar os temas mais importantes do nosso sector. É cada vez mais importante fazê-lo. É importante recordar o essencial, porque a tendência de nos desviarmos do que realmente é importante tem marcado os últimos anos e pelas piores razões. Há um certo adormecimento que importa travar. É este espírito de missão que nos acompanha desde o primeiro número da Edifícios e Energia. Procuramos, nesta rubrica, ir orientando ou relembrando a trajectória que todos queremos e, por isso, deixo aqui um agradecimento, que será sempre insuficiente, para a dedicação que estes autores têm demonstrado para com os nossos leitores. A eles, muito obrigada!
Obrigada também a todas as empresas que continuam nossas parceiras neste caminho que defendemos com o rigor de uma informação e uma análise isentas. Um óptimo 2023 para todos os nossos leitores!
Nota de abertura originalmente publicada na edição nº145 da Edifícios e Energia (Janeiro/Fevereiro 2023). Assine já!
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores.