A associação ambientalista ZERO analisou os programas de apoio à eficiência e pobreza energéticas actualmente em vigor e elaborou um conjunto de recomendações para melhorar a sua eficácia. Mais ambição estratégica e coordenação entre os diversos sectores são algumas das sugestões deixadas pela entidade.

A análise, na qual participaram também técnicos municipais, Peritos Qualificados (PQ), candidatos/proprietários, instaladores e outros profissionais do sector, incidiu sobre os programas Edifícios Mais Sustentáveis e Vale Eficiência, promovidos pelo Fundo Ambiental, e focou-se nas seguintes áreas: comunicação; processo de candidatura e plataforma; ligação ao mercado; modo de implementação do aviso; critérios de elegibilidade; tipologias de intervenção; valor limite e taxas de comparticipação; majoração da comparticipação.

Embora se aponte que os apoios “estão no caminho certo”, estes apresentam “diferentes fases de maturidade”, são ainda “insuficientes e o modelo actual precisa de melhorias” face à exigência do desafio de renovar o parque edificado nacional. A análise considera ambas as iniciativas “essenciais para a melhoria das condições de habitabilidade e conforto térmico, contribuindo para a dinamização do mercado da eficiência e renovação energética, e promoção de energias renováveis nas habitações”.

No sentido de contribuir para uma maior eficácia dos programas, a ZERO elaborou um conjunto de recomendações (ver abaixo), destacando como “crucial para um avanço nas metas de renovação do parque edificado e no combate à pobreza energética” a “parceria” entre o Fundo Ambiental e “a partilha de perspectivas para a melhoria dos apoios”.

 

Recomendações

Fonte: Comunicado da ZERO, com as devidas adaptações

Comunicação

PAE+S II (Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis II)

Apesar da evolução positiva do Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis, e correcções efectuadas ao longo do processo, existem um conjunto de recomendações ao nível da comunicação e divulgação, das próprias candidaturas e material de apoio associado, que se expõe de seguida, tais como:

  • A Comunicação e Divulgação, além de tornar o público-alvo mais interessado e informado para uma melhor decisão, pode-se traduzir numa redução de custos associados à gestão e avaliação de candidaturas;
  • Uma comunicação mais efectiva conseguiria manter ou aumentar o número de potenciais candidatos (abrangência), mesmo com possíveis taxas de comparticipação mais baixas, não hipotecando o sucesso e crescimento que se tem verificado;
  • O processo de Comunicação do Aviso deveria ser mais alargado, de forma a chegar à grande maioria dos públicos, ou seja, diversificar a fonte de comunicação, como: influencers e programas de TV; já a nível regional, utilizar meios de comunicação regionais/locais onde há menor adesão aos programas.

VE (Vale Eficiência)

No programa Vale Eficiência também foram mencionadas a importância da alocação de mais verba para divulgação geral e de proximidade, bem como o papel dos governos locais e associações para a dinamização das medidas.

Processo de Candidatura e Plataforma

PAE+S II

  • Trazer uma linguagem menos técnica e mais acessível associada às tipologias de medidas e às candidaturas, como exemplos de preenchimento com gráficos e imagens, apresentação de tipos de documentos pretendidos ou maior detalhe na informação que deve ser apresentada, com objectivo de melhoria da taxa de sucesso das candidaturas;
  • Atenção à diferença de literacia (energética, financeira, tecnológica). Poderiam ser elaborados guias/vídeos para auxiliar no processo;
  • Simplificar a candidatura ao máximo seria desejável e benéfico;
  • Outra questão relacionada relaciona-se com a apresentação de vários recibos. Seria mais fácil simplesmente incluir vários documentos quando se coloca informação da despesa elegível.

Ligação ao Mercado

PAE+S II

  • Facilitar o processo de ligação ao mercado, onde a maioria dos consumidores se sente desorientada, nomeadamente através do melhor funcionamento da Plataforma CASA+. CASA+ e CasaEficiente, portais parceiros do Aviso, necessitam de melhorias;
  • Formação gratuita a técnicos no terreno para melhor aconselhamento técnico dos proprietários e acompanhamento do processo de candidatura. Além da implementação da formação através de projectos, redes e plataformas já existentes (Classe+, Academia ADENE, Agências locais de energia, Associações Sectoriais – ANFAJE, APIRAC, APFAC);
  • Implementação de Fiscalização de obra por amostragem, que à data presente não é perceptível.

 Implementação dos Avisos 

PAE+S II

  • Prazos de Avisos mais prolongados para dar mais confiança aos consumidores no investimento, face aos tempos de orçamentação e disponibilidade para executar obras pelos fornecedores;
  • Contabilização mais exata do impacto dos Avisos, com maior transparência nos métodos de cálculo e pressupostos utilizados;
  • A importância das intervenções sistémicas nas habitações deve ser analisada, podendo ser reforçado o papel do aconselhamento através da Certificação Energética, e medidas de melhoria aí recomendadas;
  • A valorização do papel dos Peritos Qualificados no acompanhamento técnico das intervenções deveria ser precedida de campanha de comunicação junto dos mesmos.

VE

  • Há que pensar alternativas de apoio personalizado para pessoas que não têm competências digitais e/ou outra forma de preenchimento, a papel, por exemplo, ou criando sinergias com entidades locais;
  • Tal como no PAES+II, também foram sugeridos a utilização de vídeos ilustrativos e exemplos de documentos ‘exemplo”;
  • Deve ser reforçada a promoção regular de ações formativas a empresas e cidadãos dando a conhecer o programa e suas condições.

Critérios de Elegibilidade

PAE+S II

  • Deve ser dada prioridade, na maioria das tipologias de intervenção, aos edifícios anteriores a 1990 (ano de publicação do primeiro regulamento de térmica de edifícios);
  • Sugere-se uma avaliação do impacto potencial de alargar o âmbito do programa aferindo as suas vantagens e desvantagens a arrendatários ou empresas proprietárias de imóveis, pelo menos em algumas das tipologias (ex. tipologia 1, 3 e/ou 4).

VE

  • Considerar corretamente múltiplas dimensões do problema é apenas o critério económico que prevalece neste programa para identificação de candidatos elegíveis;
  • Sugere-se saber o universo de pessoas dentro da tarifa social que são proprietárias da habitação onde vivem para melhor se avaliar o impacto deste tipo de programas;
  • A falta de enquadramento para arrendatários, que muitas vezes estão em piores situações nas habitações, é preocupante e deve ser explorada essa possibilidade na sua forma legal e operacional;
  • É de reforçar a necessidade de redução na demora da resposta à candidatura ao programa na fase de confirmação de elegibilidade para o Vale.

Tipologias de intervenção

PAE+S II

  • Colocar o foco no conjunto de medidas responsáveis por melhoria de conforto térmico, ou seja, as medidas passivas, seguindo a hierarquia de medidas existente no Sistema de Certificação Energética. Ou seja, agrupar as medidas, que se refletiria nas condições de comparticipação, seguindo a ordem decrescente de importância:

1) Medidas Passivas: tipologia 1, 2 e 6;

2) Medidas Activas: tipologia 3;

3) Produção renovável: tipologia 4;

Tipologia 5 não tem enquadramento directo neste ponto;

  • Promoção de autoconsumo colectivo em detrimento do individual. Não excluindo o autoconsumo individual, este apenas seria passível de ser instalado em edifícios com desempenho passivo comprovado.

VE

  • A promoção de aquisição de equipamentos assume igual prioridade face à renovação da componente passiva do edificado e aplicação de isolamento térmico. Esta última deveria ser a prioridade;
  • Sugere-se uma análise ex-ante das medidas potencialmente mais impactantes, apresentando exemplos de algumas situações típicas e recorrendo ao conhecimento dos certificados energéticos;
  • Em alternativa, poder-se-ia promover apoio técnico aos consumidores para hierarquização das medidas para a sua habitação.

Taxas de comparticipação e valores limite

PAE+S II

  • Sugere-se uma redução da taxa de comparticipação para um valor inferior a 85 % para alcançar mais beneficiários, e potencialmente um impacto superior;
  • Recomenda-se a revisão do nível de comparticipação (taxa e valor máximo) por medida;
  • Poderão ser considerados outros critérios para a seleção das tipologias, como a maturidade tecnológica e do mercado nacional, por exemplo, em função da maior ou menor adesão histórica às medidas.

VE

  • O valor do “Vale Eficiência” não permite efectuar alterações estruturais, indo à raiz do problema nas habitações;
  • Outra abordagem possível para aumentar o impacto real das medidas era privilegiar o apoio na intervenção nos edifícios de épocas de construção mais críticas (ex. 1960 a 1990);
  • Um problema identificado neste programa é a ausência de análise de impacto das medidas isoladas na situação integrada de pobreza energética na habitação específica;
  • Ligado ao ponto anterior, seria interessante ter um mix de apoios direcionados a promover renovações mais estruturantes nas habitações, com apoio técnico especializado e também na situação actual de valor mais baixo, mas mais abrangente, apoiando mais famílias;
  • Sugere-se a testagem de um esquema alternativo aos vales eficiência para combater a pobreza energética.

 Majoração da Comparticipação

PAE+S II

  • Tendo em conta que o programa já ultrapassou a fase inicial, atingindo uma taxa de crescimento significativa e de forma a obter-se o maior impacto potencial com os recursos disponíveis, recomenda-se a existência de majorações ao nível da comparticipação (taxa e/ou valor limite) pelo cumprimento de um conjunto de requisitos, tais como:
    • Distribuição Geográfica, Certificado energético com medida de melhoria candidata identificada, Zona climática e Candidaturas de edifícios multi-familiares/condomínios.