A Estufa Fria, em Lisboa, acolheu, no passado dia 9 de Setembro, uma conferência organizada em parceria pelo ISQ e o Turismo de Portugal, que teve como objectivo alertar o sector turístico para a necessidade de avançar com boas práticas, mostrando exemplos do que já se faz em Portugal rumo a um turismo mais sustentável. Isto porque, e esta foi a expressão mais repetida em todo o evento, “não há um planeta B”.

A Estratégia Turismo 2027, delineada pelo Governo, pretende tornar Portugal num dos destinos mais competitivos e sustentáveis do mundo. Esse foi o mote para um evento que contou com a participação de diversas empresas que levaram ao certame diversas soluções na área do turismo e da sustentabilidade, mas também muitos oradores que deram o seu testemunho sobre o que de melhor se faz em Portugal. Mas os exemplos também vieram de fora, como o do investidor Xander Bueno de Mesquita, com a sua visão única sobre sustentabilidade e economia circular aplicada a este sector. O criador do conceito, e do hotel sustentável QO Amsterdam, lembrou que o tempo é escasso e que optar pela sustentabilidade é, neste momento, uma questão de sobrevivência.

Numa sessão temática dedicada à Eficiência Energética e Ambiental, moderada por Ricardo Rato, do ISQ, foi possível ouvir as experiências e as boas práticas que se têm aplicado em empreendimentos diversos e bem diferentes. Com a participação de Gilberto Jordan, CEO Andre Jordan Group, Roland Bachmeier, do Hotel Galomar, Osório Tomás, da Fundação Calouste Gulbenkian, e Ricardo Leite, da Galp, partilharam-se as boas práticas de áreas diversificadas.

Gilberto Jordan começou por lembrar a enorme diferença entre criar um projecto de raiz ou reconstrui-lo. Deu como exemplos a Quinta do Lago ou Belas como sendo mais fáceis de levar a cabo do que a reconversão de Vilamoura, onde a correcção de erros e acções rumo a um caminho mais sustentável foi um desafio mais complexo. Centrando-se no loteamento do Belas Clube de Campo, Gilberto Jordan revelou que aderiram ao LiderA (acrónimo de Liderar pelo Ambiente para a construção sustentável, um sistema voluntário português de apoio, avaliação e certificação do ambiente construído que procure a sustentabilidade), que utilizam tanto na parte edificada, como na do urbanismo. Considera que construir bem contribui para se alcançar um bom impacto energético e que perceberam isso quando o Andre Jordan Group alcançou mais de 500 certificações energéticas, no ano da entrada em vigor da norma, uma vez que os edifícios estavam construídos já nesses moldes. Um dos moldes a que se refere é a não utilização de ar condicionado em nenhum dos empreendimentos, apostando, ao invés, num grande investimento a nível dos isolamentos. Criaram também uma solução de acumulação energética nos empreendimentos que construíram de raiz: além dos painéis solares térmicos, instalaram painéis fotovoltaicos com baterias de acumulação em todas as casas.

Mas os exemplos de boas práticas não se ficam por aqui. Depósitos de água, reciclagem, circuitos bitérmicos, sanitas com duas fontes de água (da chuva e da companhia) e electrodomésticos A+ são alguns dos factores que contribuem para fazer a diferença energética nos empreendimentos deste grupo que procura constantemente inovar. O próximo passo, em oito casas que vão ser construídas, vai ser a instalação de painéis solares térmicos que acompanham o sol, em duas dimensões. Um projecto a ser concluído a curto prazo e em que será, depois, analisada a eficácia, de modo a perceber se vale ou não a pena replicar a ideia.

Os painéis fotovoltaicos são uma solução sempre presente quando se fala de boas práticas energéticas. Roland Bachmeier, do Hotel Galomar, na Madeira, também os aplicou naquele que foi pensado ao detalhe para ser o primeiro Green Hotel da Madeira, 100 % autossuficiente em termos energéticos, com um edifício sustentável, apesar de já ter 49 anos quando começou a ser alterado. Na altura, Roland Bachmeier procurou várias soluções, sempre tendo em mente a sustentabilidade e a autossuficiência, em termos energéticos. Tem 66 painéis solares para aquecimento de águas, utiliza a água do duche e do lavatório para as sanitas e os 520 painéis fotovoltaicos instalados na unidade permitem uma autonomia de 24 horas sem recurso a baterias. Os elevadores recorrem também aos painéis fotovoltaicos para funcionar, mas apenas durante o dia, à noite ainda tem de recorrer a baterias incorporadas no aparelho.

Nos quartos, um tablet informa os clientes dos seus consumos de véspera, em água quente, fria e electricidade, incentivando a uma competição pelo menor gasto. Quem conseguir ficar abaixo da média do hotel habilita-se a uma viagem. As pessoas, aliás, são, para Roland Bachmeier, fundamentais para que a sustentabilidade seja alcançada. Não só os hospedes, mas, e sobretudo, o staff.

Uma opinião que também é partilhada por Osório Tomás, coordenador de Edifícios e Infra-estruturas Técnicas dos edifícios da Fundação Calouste Gulbenkian. A Fundação implementou um programa de racionamento de consumos energéticos, mas, para o levar a cabo, criou também uma campanha para sensibilizar quem lá trabalha. Para Osório Tomás, a mudança de comportamento por parte das cerca de 400 pessoas que trabalham na Fundação foi fundamental para a diminuição do consumo energético.

O programa implicou, aquando da renovação de equipamentos, a troca por modelos mais eficientes, a alteração da iluminação para LED e a instalação de sistemas de solar térmico para aquecimento de águas sanitárias. Para estas medidas, teve de se ter em conta que os edifícios são classificados e Património Nacional. Como tal, qualquer intervenção que se faça deve ser muito cuidadosa e autorizada pelo Património. Ainda assim, desde 2007 até à data, conseguiram poupar cerca de 15 mil toneladas de CO2 e cerca de 3 milhões de euros. Este trabalho de poupança energética foi reconhecido pela Comissão Europeia, que considerou a Fundação Calouste Gulbenkian como parceiro GreenBuilding (reconhecimento de projectos em edifícios não residenciais que se tenham distinguido como notáveis e exemplares ao nível das poupanças energéticas).

O painel sobre a Eficiência Energética e Ambiental terminou com o testemunho de Ricardo Leite, responsável da Galp Soluções de Energia, que levou como exemplo o projecto do Corinthia Hotel Lisbon, para o qual foi desenvolvido um plano de eficiência energética por parte do ISQ, em parceria com a Galp Soluções de Energia. Foi considerado o melhor projecto energético da Europa, pela utilização de soluções particulares de engenharia desenhadas à medida que permitiram obter, logo nos primeiros seis meses, uma redução do consumo de energia superior a 25 %, correspondente a 600 000 kWh e 290 toneladas de CO2. Segundo Ricardo Leite, o desafio foi ainda maior uma vez que obrigou à substituição de tudo o que estava relacionado com a água e a sua climatização sem nunca poder faltar água aos clientes de um hotel que estava com mais de 90 % de taxa de ocupação.

Diferentes soluções e desafios que tiveram como objectivo mostrar que a sustentabilidade é uma mais-valia para o ambiente, mas também para os próprios edifícios, uma vez que as soluções que existem permitem, quando bem aplicadas, grandes reduções também a nível financeiro.

 

Foto: ©ISQ