Artigo publicado originalmente na edição de Janeiro/Fevereiro de 2024 da Edifícios e Energia.

Ao receber as certificações internacionais WELL e LEED ao nível platina, o Sonae Tech Hub apresenta-se como “um dos edifícios mais sustentáveis do mundo” e mostra credenciais em várias frentes, nomeadamente ao nível da eficiência energética e hídrica, da qualidade do ar e da utilização de materiais. Embora inspirado no código binário, este edifício é muito mais do que zeros e uns.  

Juntar eficiência, sustentabilidade e bem-estar é o desígnio de qualquer edifício, mas fazê-lo ao nível dos mais exigentes critérios internacionais tornou-se o compromisso do Sonae Tech Hub. Já depois de concluído, em 2019, o imóvel do Sonae Campus, na Maia, tem acumulado certificações que fizeram dele uma referência em Portugal.  

Primeiro foi a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um dos mais importantes sistemas de avaliação da sustentabilidade do ciclo de vida dos edifícios, cuja metodologia exige que só possam ser considerados eco-eficientes os que conseguirem oferecer um ambiente saudável, confortável e atractivo, sem que isso penalize (mais do que o estritamente necessário) o ambiente exterior. 

Em todo o mundo, apenas 50 mil edifícios construídos de raiz alcançaram o nível Platinum e o Sonae Tech Hub, mais do que o conseguir, recebeu uma das 100 melhores pontuações (89 pontos em 110 possíveis), algo inédito no nosso país. Entre os pré-requisitos obrigatórios estão, por exemplo, a eficiência hídrica, a energia e atmosfera, os materiais e recursos e a qualidade ambiental interior.  

“O Sonae Tech Hub, além de optar por um sistema de isolamento térmico e por vidros com factor solar e coeficiente de transmissão térmica reduzidos, para reduzir consumos de energia para aquecimento/arrefecimento dos espaços, aposta na eficiência dos equipamentos de geração de água quente e das unidades de tratamento de ar (classe A).” 

 

Com seis pisos (quatro acima do solo e dois abaixo), o Sonae Tech Hub junta eficiência e sustentabilidade num edifício de características únicas no país.

Já neste ano foi a vez de obter a certificação WELL na classificação mais elevada, um estatuto exclusivo de apenas 300 edifícios mundiais. Atribuída pelo International WELL Building Institute e pelo US Green Building Council, é considerada a primeira do mundo focada unicamente em critérios de saúde e bem-estar, como o ar, a água, a iluminação, os materiais e o conforto térmico, mas também a nutrição, a mente, a mobilidade, a acústica e a comunidade.  

Com seis pisos e uma área total de 7 673 metros quadrados, este imóvel inspirado nos zeros e uns do código binário (ou não fosse ele ocupado por equipas tecnológicas e de inovação) é, para já, o único edifício de escritórios em Portugal com ambas as certificações. Mas, afinal, o que faz dele um caso singular no país? 

CIRCULARIDADE, EFICIÊNCIA E TECNOLOGIA  

O foco do Sonae Tech Hub na sustentabilidade começou logo na fase inicial do projecto, com a escolha de materiais de impacto reduzido no meio ambiente, e prolongou-se por todos os momentos do ciclo de vida do edifício. De acordo com Marco Aurélio Nunes, management director da Sonae Sierra (empresa do grupo dedicada ao sector imobiliário), “95% dos resíduos de construção foram reaproveitados ou reciclados, 30% dos materiais utilizados são de origem local e houve também uma incorporação de materiais reciclados em 15%”.  

Sonae Campus

A eficiência energética é outro dos principais atributos do edifício, expressa numa poupança de 40% no consumo de electricidade e numa igual percentagem na redução de emissões de CO2 (face a um edifício de referência). Para isso contribuem, por exemplo, os 570 metros quadrados de painéis fotovoltaicos, a iluminação 100% LED de baixo consumo, a regulação automática em função da luz exterior e da ocupação dos espaços, a função de automatic shut-off e um sistema de contagem que permite aferir consumos em cada área. Mas a lista não fica por aqui, diz Marco Aurélio Nunes, que menciona ainda “um sistema de isolamento térmico e a tipologia de vidros utilizados (com factor solar e coeficiente de transmissão térmica reduzidos), que ajudam a reduzir consumos de energia para aquecimento/arrefecimento dos espaços, bem como a eficiência dos equipamentos de geração de água quente e das unidades de tratamento de ar (classe A)”. Também por isso “o edifício é classificado com um nearly zero energy building [edifício com necessidades quase nulas de energia]”, conclui.

Já em matéria de eficiência hídrica, destaca-se a utilização de equipamentos sanitários de baixo consumo e de um sistema de recolha de águas pluviais (a partir de um reservatório na cobertura), que são depois reutilizadas para descargas sanitárias e para rega. Com este sistema, é possível assegurar 30% dos consumos totais de água e uma redução em 75% no consumo de água potável usada em descargas sanitárias. Nesta linha, o responsável da Sonae Sierra nota ainda que os sistemas de irrigação por sectores de gota-a-gota possibilitam uma maior eficiência na rega das espécies herbáceas e subarbustivas. “Devido às espécies autóctones e à irrigação exterior eficiente, o edifício apresenta ainda menos 60% de consumo de água para irrigação face a um edifício de referência”, acrescenta. Por fim, todo o sistema de rega automático está ligado a um programador, que tem capacidade de zonamento e de controlo horário.  

“A qualidade do ar interior é assegurada através de sensores de velocidade do ar instalados na admissão de ar exterior nas unidades de tratamento de ar e sensores de CO2 nos espaços mais ocupados.”  

Ao nível de AVAC, o Sonae Tech Hub está equipado com sensores de ocupação em gabinetes, com temporização, controlo horário e ajuste da velocidade em função da temperatura média dos espaços abertos. Há ainda controlo termostático nos open spaces com regulação de temperatura via GTC (Gestão Técnica Centralizada), com base em sensores de temperatura ambiente. “Todos os sistemas/unidades de zona têm o seu arranque em função da temperatura exterior, mediante programação predefinida na GTC2”, explica Marco Aurélio Nunes. O management director da Sierra faz ainda questão de sublinhar que “a qualidade do ar interior é assegurada através de sensores de velocidade do ar instalados na admissão de ar exterior nas unidades de tratamento de ar e sensores de CO2 nos espaços mais ocupados”.

SUSTENTABILIDADE E BEM-ESTAR EM TONS DE BRANCO  

Com linhas minimalistas, grandes áreas abertas dominadas pelo branco e uma fachada dupla que também teve em consideração os requisitos acústicos, o Sonae Tech Hub cruza a componente construtiva com uma série de espaços e serviços que procuram assegurar o máximo conforto e bem-estar das 600 pessoas que trabalham no edifício. Essa é, de resto, uma das razões que explicam a obtenção da certificação WELL, lembra Marco Aurélio Nunes, ou não fosse ela “a primeira do mundo focada exclusivamente na saúde e no bem-estar humano, considerando as pessoas o centro do projecto, da construção e do uso dos edifícios”.

O Sonae Tech Hub conta com 570 metros quadrados de painéis solares,
que fazem parte dos 12 mil painéis existentes em todo o Sonae Campus.

Para tal, descreve, contribuíram factores como “a grande exposição solar – 95% dos colaboradores estão expostos à luz natural – e a ventilação correcta de todos os espaços, mas também uma oferta alimentar saudável e a existência de balneários para suporte à prática desportiva no Sonae Campus e na sua envolvente”.  

Com o objectivo de promover a transição para a mobilidade sustentável, o parque do edifício está equipado com vários postos de carregamento eléctrico, existindo também um shuttle que liga o Sonae Campus às principais estações de metro da Maia, além de vários espaços e diversas acções que visam promover a mobilidade suave, nomeadamente a utilização da bicicleta. 

UM LABORATÓRIO VIVO DE SUSTENTABILIDADE  

O Sonae Tech Hub está integrado no Sonae Campus, a sede do grupo, que ocupa mais de 30 hectares distribuídos por edifícios de escritórios, armazéns de logística, uma fábrica de painéis derivados de madeira e diversas áreas verdes no exterior. Aqui, existe mais um edifício com certificação LEED, o Sonae Maia Business Center, que foi o primeiro da Península Ibérica a receber uma classificação de nível Gold, em 2010. Também neste caso a eficiência energética e a hídrica são uma prioridade, uma vez que o projecto alcança uma poupança de 50% no consumo de energia para iluminação (face a um edifício de referência) e uma de 40% no consumo de água potável, com a totalidade das descargas sanitárias a serem asseguradas por água reciclada de lavatórios e chuveiros.  

As áreas de jardim são compostas por espécies vegetais nativas e
adaptadas ao local.

O Sonae Campus integra ainda uma cobertura verde de 20 mil metros quadrados no topo de um dos armazéns de logística, que, além de funcionar como isolamento térmico, possibilita a absorção das águas das chuvas. Em paralelo, foram instalados 12 mil painéis fotovoltaicos que, de acordo com Marco Aurélio Nunes, “permitem-lhe ser auto-suficiente em 32% e evitar anualmente a emissão de mais de 1 600 toneladas de CO2”. No exterior, também foram criadas paredes verdes 100% naturais, charcas, uma zona de compostagem e uma horta, equipada com um reservatório que ajudou a poupar mais de 100 mil litros de água e mais de 1 300 kg de CO2 em pouco mais de ano e meio (de Abril de 2022 até Novembro de 2023). Além deste, existem outros reservatórios para a água captada nas coberturas de edifícios, em poços e num ribeiro, que é utilizada para irrigação de zonas verdes, sistemas de incêndio e refrigeração de equipamentos.  

Todos estes espaços e edifícios integram a estratégia da Sonae em tornar a sede da empresa num laboratório vivo de inovação e sustentabilidade. Nesse sentido, o grupo integra um projecto europeu, o PROBONO, que junta 47 parceiros de 15 países e é financiado pelo Horizonte 2020 na vertente “Construir e renovar com eficiência em termos de energia e recursos”. Com um investimento total de 25 milhões de euros, destinados à criação de áreas sustentáveis e de referência para o futuro, o projecto prevê que até 2026 sejam realizadas diversas experimentações na área da energia e biodiversidade, bem como exploradas as “mais recentes tecnologias de energia verde e ferramentas de gestão e controlo para redução de emissões”. No caso específico da Maia, um dos quatro laboratórios vivos que integram o projecto, estão a ser testadas soluções em áreas como a biodiversidade, a sustentabilidade e a energia. Neste âmbito, o management director da Sonae Sierra lembra “os resultados muito positivos da horta, nomeadamente em matéria da poupança de água e do consumo de CO2”, e acrescenta que “ao nível da energia também serão criadas soluções integradas, eficientes e sustentáveis nas áreas de mobilidade eléctrica, solar e armazenamento, promovendo sempre a inovação e a sustentabilidade e facilitando a transição energética e a descarbonização”.