A sustentabilidade e a transição energética são temas que têm vindo a ganhar cada vez mais espaço na agenda mediática, assumindo-se como tópicos prioritários para os próximos anos. Esse caminho para uma maior eficiência energética faz-se de diversas formas, contempla vários modos, soluções, equipamentos e tecnologias, e passa por diferentes áreas – indústria, edifícios, transportes e mobilidade, e, também, as nossas casas.
É precisamente no tema das habitações que pretendo focar, e, mais concretamente, nos sistemas de aquecimento de água. As necessidades de água quente representam entre 10 % a 20 % da procura de energia no setor residencial a nível europeu. Por esta razão, a opção por uma solução mais eficiente tem um impacto considerável na fatura de energia dos consumidores. Um bom sistema de aquecimento e de preparação de água quente é fundamental em todas as habitações para conseguir uma maior poupança de energia e de recursos naturais.
Realidade ambiental
O ministério do Ambiente e Ação Climática tem vindo a providenciar apoios para infraestruturas que maximizem a eficiência energética das habitações. É de notar uma maior preocupação generalizada face aos desperdícios energéticos e às consequências ambientais que estes acarretam. E se, a isto, associarmos aumentos de eficiência com uma melhoria de sensação de conforto para o utilizador, então, atingimos o balanço perfeito.
A dúvida
Uma fonte de possível desperdício energético está relacionada com a geração de água quente sanitária. Há, em vários países, a possibilidade de aquecimento geral de água para edifícios com múltiplas famílias e, até, a disponibilidade de água quente para todo o bairro.
Esse tipo de distribuição de água quente não é muito comum em Portugal, por isso, vamos focar-nos no aquecimento de água ao nível da habitação. Nestes casos, devemos ter em consideração o tipo de equipamento que é utilizado para aquecimento de água sanitária; a questão que se impõe é a seguinte: “será o melhor ter uma solução central ou descentralizada?” Boa pergunta; a resposta, tal como em muitas ciências exatas, é: “depende!”
Sistemas centrais
Uma das principais lacunas no conforto de utilização de um sistema de aquecimento de água central está relacionada com os longos tempos de espera pela água quente. É normal, dependendo dos comprimentos da instalação hidráulica, esperar 30 segundos ou mais para que a água quente comece a chegar à torneira desde o momento da sua abertura. Isto causa uma natural sensação de frustração no utilizador e, acima de tudo, desperdício de água (podendo chegar a valores de desperdício superiores a cinco litros por utilização).
Existem já no mercado soluções que permitem mitigar a frustração dos tempos de espera – sistemas de recirculação permanente –, mas estes não são energeticamente mais sustentáveis ou económicos, por exigirem um constante aquecimento e movimentação da água na instalação da casa.
E os sistemas descentralizados?
Nesta situação, poderá haver, no limite, um aparelho por cada ponto de utilização. Desta forma, cada aparelho é instalado muito próximo da torneira e, como tal, os tempos de espera por água quente são quase inexistentes (passam a depender apenas da capacidade de resposta do aparelho).
Dependendo da taxa de água quente necessária por utilização (uma torneira de cozinha tem mais necessidade de caudal que uma de casa de banho), também os aparelhos podem ser dimensionados para unidades de maior ou menor potência consoante a necessidade.
Outra vantagem deste tipo de sistemas é que podem funcionar como boosters de temperatura. Nestes casos, utiliza-se uma unidade de alta eficiência para aquecimento a baixas temperaturas (e.g. bomba de calor para piso radiante), que, após permuta de calor, consegue entregar água sanitária a temperatura tépida (30-40 ºC). Os aparelhos instalados no ponto de utilização (e.g. elétricos instantâneos de dimensão reduzida) seriam responsáveis por elevar a temperatura da água para valores de conforto definidos pelo utilizador. Desta forma, maximiza-se a eficiência energética do sistema e, ao mesmo tempo, mitigam-se as frustrações por elevados tempos de espera.
É esta a solução ideal? Mais uma vez, depende. Os comprimentos de instalação hidráulica, a frequência de instalação, a capacidade para realizar um investimento inicial, entre outros, são fatores que influenciam certamente as escolhas para o agregado familiar.
De qualquer modo, nos dias que correm, a disponibilidade de água quente não tem de estar sempre ligada a apenas uma única unidade de produção – aparelhos dedicados ao ponto de utilização poderão ser uma solução mais económica (considerando o custo de aquisição e operação), confortável e com minimização de consumo de recursos naturais.
As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.