Depois de quedas consecutivas, em 2018, as vendas de sistemas solares térmicos em Portugal retomaram a trajectória ascendente, à semelhança do que aconteceu na Europa, onde o mercado cresceu 8%. Para o território nacional, a Solar Heat Europe, associação industrial europeia deste sector, aponta um crescimento de 2 %, impulsionado pelo aumento da nova construção. Todavia, o potencial do país nesta matéria está subaproveitado e na Europa podem encontrar-se alguns exemplos a seguir, diz Pedro Dias, secretário-geral da entidade europeia.

“Em Portugal, há muito para explorar e, comparando com mercados similares, como o da Grécia, a diferença é brutal. Há uma indústria grega consolidada, exportadora, mas também porque há um mercado interno que suporta isso”, aponta o responsável. Em 2018, o mercado grego cresceu pelo nono ano consecutivo, segundo os dados da Solar Heat Europe, o que se deveu a uma maior competitividade entre os fabricantes nacionais e a sua capacidade de reduzir os custos dos equipamentos. Internamente, a Grécia instalou cerca de 328 mil metros quadrados de novos colectores solares térmicos, o que equivale a um aumento de 4 % face ao ano anterior.

Mas não é só às terras gregas que Portugal pode ir buscar inspiração. Em entrevista à Edifícios e Energia, Pedro Dias dá ainda o exemplo da Polónia, que conseguiu um aumento extraordinário de 179 % face a 2017, muito devido à aplicação das exigências da Directiva para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD). “Na directiva, existem obrigações para as autoridades públicas tomarem a dianteira e transformarem os edifícios públicos aos níveis da eficiência e das renováveis. Na Polónia, o que aconteceu esteve relacionado com isso: lançaram-se programas, usando fundos comunitários, sobretudo, o FEDER, que ajudavam os municípios a fazer essas alterações. E, em vez de se alterar só uma escola, faziam-se vários edifícios, abrindo a possibilidade a privados para investirem em solar térmico e noutras opções. Isto é, fez-se uma agregação da procura e, com essa procura adicional, foram feitos acordos e negociações mais vantajosas, abrindo concursos muito competitivos, nos quais já estavam directamente os fabricantes, o que reduzia o número de intermediários. Tudo isto com preços muito competitivos e o apoio dos fundos europeus e do governo polaco. Foi juntar o útil ao agradável – havia a obrigação de transformar os edifícios públicos e queriam melhorar a qualidade do ar, então, juntaram-se as várias coisas e, em vez de aplicar isso apenas aos edifícios públicos, alargaram a privados, coordenados pelos municípios”, conta o porta-voz, acrescentando – “É um exemplo interessante para ver visto em Portugal”. 

Sobre o mercado português, que registou, em 2018, uma nova área instalada de 47 mil metros quadrados, o responsável defende que é importante dar  a devida importância ao tema do aquecimento. Apesar da aposta do actual Executivo na descarbonização, Pedro Dias considera que esta é uma estratégia muito focada na electrificação. “Em Portugal, há uma percepção de que o aquecimento é uma questão mais da Europa Central, mas Portugal consome quase tanto em aquecimento, como em electricidade – esta última é um bocadinho superior. Subestima-se muito a questão do aquecimento, ainda para mais num país com as condições de Portugal”, lamenta.

Determinante para aproveitar o potencial da energia solar térmica na estratégia portuguesa é a existência de uma associação da indústria solar forte, considera Pedro Dias. No entanto, recorde-se que, nos últimos anos, a APISOLAR, a quem cabe esse papel, tem estado praticamente inactiva. “Já há alguns meses que não temos contactos formais, mas estamos disponíveis para ajudar. É uma questão que tem de ser tratada entre os stakeholders na indústria de Portugal”.

No panorama europeu, o ano de 2018 foi positivo para a energia solar térmica, com a nova área instalada a chegar aos 2,1 milhões de metros quadrados. A Solar Heat Europe estima que o volume de negócios do sector tenha representado 1,85 mil milhões de euros nesse ano, estimando-se a existência de cerca de 10, 1 milhões de sistemas solares térmicos em operação na União Europeia (na altura, com 28 Estados-membros e Suíça).

Leia a entrevista com Pedro Dias, secretário-geral da Solar Heat Europe, na edição de Janeiro/Fevereiro 2020 da Edifícios e Energia.