No seguimento de uma carta aberta assinada por 239 especialistas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu, na passada quinta-feira, o potencial de transmissão aérea da Covid-19. A Federação Europeia das Associações de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (REHVA) reagiu no mesmo dia à tomada de posição, considerando que as “soluções de ventilação continuam a ser a mais importante medida de controlo de infecção”.
Depois de a OMS ter considerado publicamente a transmissão aérea do vírus como uma possibilidade, entendendo que este tipo de contágio em espaços interiores repletos de pessoas e em áreas mal ventiladas “não pode ser colocado de parte”, a REHVA reagiu através de uma nota de imprensa, na qual se congratula com a decisão pelo facto de este ser “um passo há muito aguardado” e que promove a “aplicação das medidas de mitigação necessárias”. Desde o início da pandemia que associações do sector AVAC têm lançado recomendações no sentido de assegurar a continuidade de operação de sistemas de ar condicionado, aquecimento e ventilação, considerando que esta medida pode ajudar no controlo da propagação do vírus.
O reconhecimento desta possibilidade por parte da OMS acontece depois de ter sido tornada pública uma carta aberta, publicada no Clinical Infectious Diseases – publicação científica da Universidade de Oxford – e assinada por 239 especialistas, que pedia à comunidade médica que reconhecesse “o potencial de transmissão aérea” da Covid-19. Esta possibilidade – que significa que o vírus poderá permanecer infeccioso no ar durante um determinado período de tempo – vem dar maior importância à operação dos sistemas de ventilação em edifícios e à consequente renovação do ar.
“Enquanto o medicamento e a vacina não estiverem disponíveis, as soluções de ventilação continuam a ser a mais importante medida de controlo de infecção”, referiu Jarek Kurnitski, do comité de tecnologia e investigação da REHVA. O representante da Federação Europeia das Associações de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado considerou que estas medidas, “se implementadas correctamente”, podem conduzir a um alívio das medidas de confinamento “necessárias na segunda onda” de contágios. “Agora que sabemos que o risco de infecção depende da concentração de aerossóis e do tempo de ocupação” dos espaços, passa a ser possível “calcular o risco de infecção” nos espaços interiores e passam a poder “ser tomadas medidas que melhorem a ventilação nos edifícios”, afirma.
Na nota enviada às redacções, Atze Boerstra, membro da direcção da federação europeia do sector AVAC, classificou como “infeliz” o facto de “até agora o papel dos aerossóis em divisões mal ventiladas ter sido subestimado” pela OMS. “Mudar de rumo vai salvar muitas vidas no futuro”, diz, aludindo à adopção de medidas que garantam a renovação do ar no interior dos edifícios.
Depois de ter publicado as suas primeiras orientações sobre a transmissão aérea do vírus durante o mês de Março, a REHVA anunciou ainda que se encontra “actualmente a trabalhar” numa nova versão do documento e numa “calculadora do risco de infecção”. Em Setembro, a federação deve lançar uma formação on-line focada na operação “segura e saudável” de edifícios para o período pós-confinamento e durante a pandemia.