A Qualidade Ambiental Interior está relacionada, como sabemos, com a coexistência de múltiplos requisitos, conforto térmico, conforto visual, conforto acústico e qualidade do ar interior.
No nosso dia-a-dia, identificamos e reagimos mais facilmente ao conjunto dos primeiros parâmetros anteriormente indicados, dado que: sentimos frio ou calor; permanecemos em locais com boa ou má iluminação, seja ela natural, seja ela artificial; estamos em locais silenciosos ou expostos a ruídos incómodos; etc. No entanto, em relação ao ar interior, a perceção não é tão óbvia, e os sintomas motivados por má qualidade do ar poderão não se revelar, no imediato, mas apenas no médio ou mesmo longo prazo.
Poderemos ficar expostos a ações silenciosas em todos os planos, pois, quando se trata de ar, em geral, não sentimos, não vemos e não ouvimos. Ocorrências persistentes de má qualidade do ar poderão provocar, aquilo que hoje se designa, por uma “epidemia silenciosa”, e que são obviamente altamente penalizantes para os ocupantes dos edifícios, originando doenças, muitas vezes, crónicas e, por vezes, irremediáveis.
Com o surto epidémico COVID-19, passamos da normalidade para uma forte e assustadora virulência, ressaltando como indispensável que a ventilação mecânica dos espaços ocupados, no seu modo de funcionamento, seja incrementada de modo a que o ar novo e o ar de extração possam ser incrementados, evitando-se a recirculação de ar interior, e que seja mantida a ventilação em modo de 24/7 nos locais ocupados e eventualmente em modo de reduzida ventilação nos períodos de não ocupação, mas não desligada. A ventilação mecânica também poderá der complementada recorrendo a mais arejamento através de janelas.
Particulares atenções devem merecer os sistemas de ventilação das instalações sanitárias, pois devem ser sempre mantidos ligados 24/7, assegurando que é criada uma depressão, especialmente para evitar a transmissão fecal-oral.
Em tempos de grande virulência, como o atual, a comunidade profissional, técnica e científica no setor da climatização terá de se mostrar disponível para alargar cada vez mais as suas esferas de intervenção e assumir uma abordagem totalmente colaborativa neste domínio.
Nos tempos de hoje, deparamo-nos cada vez com mais riscos e com uma maior imprevisibilidade!
“You think it will never happen to you, that it cannot happen to you, that you are the only person in the world to whom none of these things will ever happen, and then, one by one, they all begin to happen to you, in the same way they happen to everyone else.”
Auster, Paul (2012), Winter Journal
As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.