A fraca qualidade do ambiente interior nas salas de aula portuguesas é uma realidade preocupante. Segundo um estudo desenvolvido, em 2017, por uma investigadora da Universidade de Coimbra, a maioria das escolas do concelho da cidade dos estudantes apresenta uma má qualidade do ar no seu interior. Agora, uma nova investigação realizada por Luísa Dias Pereira, do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), aponta uma solução para o problema e garante que não só é possível melhorar a qualidade do ambiente interior, como se pode reduzir mais de 30 % do consumo de energia térmica útil nas escolas secundárias reabilitadas pela Parque Escolar, caso fossem desenvolvidos vários mecanismos para ajustar os vários parâmetros (ar condicionado, ventilação, etc.), tendo em conta as diferenças nos horários e da ocupação das salas.
Optimizar é a palavra de ordem
A palavra chave é optimizar. Só assim seria possível garantir uma redução no consumo da energia térmica útil dentro das escolas públicas. Nesse sentido, Luísa Dias Pereira, na esfera da sua tese de doutoramento na Universidade de Coimbra, integrada no projecto “3Es” (Escolas Energeticamente Eficientes), chegou a várias conclusões que poderiam, efectivamente, melhorar, de forma significativa, a qualidade ambiental interior.
Este estudo concluiu que era possível reduzir o consumo de energia térmica útil entre os 20 e os 36 %, se fossem optimizados os horários escolares e a ocupação das salas de aula, através dos sistemas de gestão centralizada. Isto é, seria possível reduzir entre 14,1 kWh/m2 e 24,7 kWh/m2 de energia térmica útil. Segundo a investigadora, autora do estudo, “é possível optimizar a eficiência energética sem comprometer o conforto e a saúde dos seus ocupantes, conseguindo-se obter uma redução entre 20 e 36 % do consumo de energia térmica útil nas escolas”. Nesse sentido, salienta Luísa Maria Dias Pereira, é premente sensibilizar as escolas para que, no início de cada ano, tenham em conta todos os parâmetros em termos de ocupação de salas e de horários, de modo a optimizar o consumo energético e melhorar a qualidade ambiental interior.
Para chegar às conclusões obtidas através do seu estudo, a investigadora desenvolveu um método que permitiu instituir planos personalizados de eficiência energética. Luísa Dias Pereira utilizou uma amostra de oito escolas secundárias, de várias zonas do país, que foram reabilitadas pela empresa pública Parque Escolar, e cuja conclusão da reabilitação aconteceu entre os anos de 2011 e 2012. De modo a chegar à escolha das oito escolas, a investigadora da Universidade de Coimbra avaliou os consumos energéticos, quer antes da intervenção desenvolvida pela Parque Escolar, quer depois da reabilitação, com base em informação disponibilizada pela própria empresa. Essas oito escolas representaram várias zonas do país, a nível climático e a nível social. Tendo em conta as nove zonas climáticas existentes em Portugal, que resultam das várias combinações possíveis entre as zonas de Verão (V1, V2 e V3) e de Inverno (I1, I2 e I3), foram selecionadas escolas em oito zonas de Portugal continental: Lisboa, Beja, Portalegre, Pombal, Montemor-o-Velho, Bragança, Guarda e Matosinhos.
Durante dois anos lectivos, Luísa Dias Pereira avaliou, acompanhou e compilou vários dados relativamente ao nível de conforto térmico, CO2, temperatura, humidade relativa, etc. Desta forma, tendo em conta as características do equipamento, como a ocupação, localização e outros parâmetros relevantes, foi possível definir um plano personalizado para cada escola. Foi a partir dessa ferramenta que, ao serem analisadas as escolas do objecto de estudo, se chegaram a estes resultados.
De acordo com Luísa Dias Pereira, o que se propõe “é uma abordagem metodológica abrangente sobre o consumo de energia que permite tirar partido das novas funcionalidades introduzidas nas escolas pela intervenção da Parque Escolar”. Desta forma, se os sistemas fossem ajustados no início de cada ano lectivo, tendo em conta o número de ocupantes das salas (docentes, não docentes, alunos, etc.), seria possível garantir uma optimização energética e uma redução bastante substancial do consumo energético. “O número de alunos e os horários variam de ano para ano. Por isso, é importante que, no início de cada ano lectivo, as direcções das escolas olhem para a ocupação que vão ter, sobretudo nas salas de aula, e ajustem os sistemas que são necessários nesses espaços de acordo com o número de ocupantes”, aponta Luísa Dias Pereira.
Regulamentos fora de prazo
Uma das críticas apontadas pela investigadora é a notória desactualização dos regulamentos nacionais. Segundo a investigadora, aquando da reabilitação das escolas, os projectos foram feitos de acordo com o RSECE (Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios), incluído no Sistema de Certificação Energética de Edifícios (SCE), publicado em 2006. Esse regulamento tinha uma majoração excessiva em vários aspectos, o que levava, por exemplo, a um sobredimensionamento do caudal de ar novo necessário. Segundo o RSECE, para uma sala de aula de 25 alunos, o volume de caudal de ar novo é de cerca de 900 m3 (hora.ocupante). No entanto, em termos genéricos, a nível europeu, o volume recomendado é de 500 m3 (hora.ocupante), o que levava a um valor superior em 400 m3 (hora.ocupante).
Nesse sentido, e como medida de poupança, as escolas, como não tinham orçamento para financiar o funcionamento dos sistemas de ventilação e climatização, desligavam-nos, o que acabava por prejudicar o rendimento dos alunos, já que está provado que a qualidade do ar interior tem influência bastante efectiva na produtividade escolar. De facto, quando existe uma qualidade do ar inferior, o desempenho intelectual é afectado negativamente. No entanto, a revisão de 2013 trouxe alterações no SCE, o que permitiu corrigir os sobredimensionamentos das reabilitações efectuadas pela Parque Escolar.
Recomendações, não obrigações
Este estudo desenvolvido pela investigadora da Universidade de Coimbra, e que foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, aponta várias recomendações, tendo em conta o objectivo último de garantir uma optimização energética da generalidade das escolas. Ainda assim, o documento não obriga as escolas envolvidas no estudo a fazer qualquer tipo de investimento, com o intuito de ir ao encontro das conclusões do mesmo.
No entanto, Luísa Dias Pereira aponta a necessidade do desenvolvimento de um Plano de Eficiência Energética (PEE), que, em termos gerais, pudesse ser um documento da própria escola, como acontece com o Plano de Segurança Contra Incêndios.
O trabalho desenvolvido pela investigadora, que foi publicado na revista científica Energy Efficiency, permitiu, igualmente, a elaboração de um manual de boas práticas, com vista a garantir um consumo energético eficiente das escolas, através de vários princípios de acção, de modo a definir planos para a eficiência energética nas escolas.