Salientando que o protocolo KNX aporta valor para o desenvolvimento de edifícios e cidades mais sustentáveis, Rui Horta Carneiro, secretário executivo da Associação KNX Portugal, disse, ontem, que o objectivo é “atingir um desperdício zero [de energia] pelo lado da automação inteligente absoluta”. Esta foi uma das mensagens transmitidas pelo engenheiro durante a sessão “As soluções do Protocolo KNX e os Edifícios nZEB”, organizada pela Lisboa e-Nova no âmbito da iniciativa Ponto de Encontro.

Já utilizada por mais de 500 fabricantes pelo mundo fora, a norma KNX agrega um conjunto de normas técnicas que dizem respeito a várias funções dos edifícios ou a aplicações que podem ser integradas nestas estruturas. Iluminação, estores, ventilação, vigilância, climatização, água, energia, vigilância, segurança (e cibersegurança), electrodomésticos são alguns dos vectores que podem ser alvo de controlo inteligente num edifício ou num conjunto de edifícios através deste protocolo, mas não só, uma vez que se trata de uma norma aberta.

“Apesar de este protocolo técnico ter nascido com a finalidade de dotar os edifícios de inteligência e eficiência energética, e já agora também de conforto, este protocolo tem sido usado para as coisas mais extraordinárias”, referiu Rui Horta Carneiro, ilustrando como também pode, por um lado, ser aplicado em barcos e na indústria automóvel, e, por outro, expandido para incluir softwares que não estão tão focados no edifício – por exemplo, comunicando com um serviço de gestão de recursos humanos, com o serviço de bombeiros da cidade ou com as redes de energia (smart grids).

Explicando que “há cada vez mais aplicações” do protocolo KNX, o orador da sessão organizada pela Lisboa e-Nova apontou, nesta vertente de domótica, para a possibilidade de a norma contribuir para “edifícios à prova de futuro cada vez mais resilientes, flexíveis, mais eficientes mais sustentáveis, mais saudáveis no sentido de contribuírem para  a melhoria da qualidade de vida”. 

Com a exigência de edifícios nZEB, cujo foco está não só na gestão passiva de energia, mas também no recurso a fontes de energia renovável próximas ou locais e na eficiência energética, a aplicação de domótica torna-se cada vez mais fundamental, argumentou Rui Horta Carneiro. “Não importa a dimensão dos projectos. As respostas [da KNX] são para todos os perfis de edifícios”, declarou o responsável, dizendo, no entanto, que a solução ainda é mais aplicada à área empresarial do que à habitacional. 

No caso da vertente habitacional, em particular, a procura é maior em habitações de luxo, o que pode ser explicado pelo facto de ainda haver, segundo o orador, uma “preocupação de evitar o investimento inicial” em soluções que podem gerar poupanças mais tarde, durante a fase de operação.

A aplicação de KNX pode ser feita a nível residencial, onde se tem o exemplo do Protótipo HOME ZERO, da dreamdomus, da FEUP e da MagnumCap, um “edifício com um consumo de energia praticamente autossustentado e perfeito do ponto de vista conceptual nZEB”. Também pode ser feita a nível dos edifícios de serviços, onde o Aeroporto de Londres Heathrow é um exemplo pela recuperação do investimento inicial em quatro meses devido à norma KNX. Já a nível das cidades, Rui Horta Carneiro afirmou que o protocolo KNX pode ser uma ferramenta de ligação de tudo, tal como acontece numa zona costeira egípcia que foi criada ou numa zona de docas em Helsínquia que foi recuperada por iniciativa dos órgãos de poder.

Além da possibilidade de aplicar o protocolo KNX aos vários perfis de edifícios, Rui Horta Carneiro aproveitou ainda para destacar que a aplicação, embora seja mais fácil de raiz – tal como acontece na aplicação de KNX na criação de uma cidade –, pode ser realizada em edifícios existentes. “Mesmo em casos de edifícios antigos, monumentos antigos, têm sido encontradas e implementadas soluções envolvendo KNX”, afirmou, indicando a agregação de edifícios como uma hipótese, sobretudo nos geridos por uma só entidade (como uma câmara municipal), ou a integração de KNX nem que seja parcial. “Não tem de ser uma solução de A a Z.”

“[Com o protocolo KNX] O essencial é conseguirmos ganhos em termos de eficiência energética”, sendo que, com uma integração total, o objectivo é “atingir um desperdício zero pelo lado da automação inteligente absoluta”, concluiu. Para isso, o representante da Associação KNX Portugal salientou também que esta solução integrada que “encerra essencialmente quatro dimensões” – eficiência energética, conforto, flexibilidade e segurança – terá de ultrapassar alguns desafios no futuro próximo devido às exigências crescentes em termos de conectividade, de conforto, de eficiência energética, de controlo, de transformação digital, de cibersegurança e, como “desafio novo”, de flexibilidade dos edifícios que “hoje são um hotel e amanhã podem ser um escritório”.

A sessão “As soluções do Protocolo KNX e os Edifícios nZEB” realizou-se ontem à tarde, por via ZOOM, no âmbito da iniciativa Ponto de Encontro. Recorde-se que esta iniciativa da Lisboa e-Nova consiste na organização de encontros temáticos regulares cujo objectivo é promover o diálogo em áreas relevantes para o desenvolvimento sustentável na cidade de Lisboa, nomeadamente energia, água, economia circular, smart cities, entre outros.