Quase dois milhões de portugueses (19 %) são afectados pela pobreza energética. Quer isto dizer que não têm acesso ou tem acesso deficitário a serviços de energia eléctrica. Trocado por “miúdos”, as suas casas são frias no Inverno e demasiado quentes no Verão. A Coopérnico, cooperativa portuguesa de energias renováveis, coordenadora do programa Powerpoor em Portugal, quer alterar esta situação, utilizando fundos comunitários para criar gabinetes permanentes que irão ajudar a população a sair da pobreza energética.

Neste momento, a cooperativa está à procura de parceiros e/ou entidades que queiram fazer parte de uma rede que, numa primeira fase, vai identificar as famílias que estejam em pobreza/vulnerabilidade energética. A rede, com o nome de Apoiantes de Energia e Mentores de Comunidades de Energia, pretende ajudar os cidadãos, mas também “organizar iniciativas para a consciencialização e capacitação, tais como webinars e workshops sobre a temática da pobreza energética e medidas de mitigação do problema”. 

As primeiras iniciativas terão início em Abril, quando a Coopérnico começar a formar os primeiros Apoiantes de energia para que se possam identificar, contactar, envolver e ajudar famílias em pobreza energética. Entre as metas definidas destaque para a formação e informação sobre para a importância da climatização das habitações, mas também o desenvolvimento de programas que combatam a pobreza energética. Para tal, serão dadas formações/informações que permitam aos cidadãos ler e compreender as facturas de electricidade no sentido de os ajudar a tomar decisões informadas e conseguir melhorar a eficiência energética das suas habitações, o que pode passar pela ajuda na obtenção de apoios de melhorias nas habitações (por exemplo, substituição de telhados, janelas ou mesmo isolamento).

Os números obtidos pelo Eurostat, referentes a 2019, sobre a pobreza energética mostram um cenário ainda mais negro do que o revelado pelos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e são prova da importância deste programa. Os dados revelam que 27 % dos agregados familiares portugueses vivem em pobreza energética. Portugal surge em 5.º lugar da lista de países com maior fatia da população em situação de pobreza energética, logo a seguir a Chipre (22 %), Grécia (23 %), Lituânia (28 %) e Bulgária (34 %).

Financiado pelo programa de Investigação e Desenvolvimento Horizonte 2020, além de Portugal, o projecto Powerpoor vai desenvolver programas de mitigação da pobreza energética em mais sete países europeus – Bulgária, Croácia, Estónia, Grécia, Hungria, Letónia, e Espanha – que, além de Portugal, são dos países mais afectados pela pobreza energética a nível europeu. O programa teve início em Setembro de 2020, com uma verba de dois milhões de euros e tem como meta tirar da pobreza energética mais de 22 mil famílias europeias até 2023.