A fabricante de unidades de tratamento de ar e condutas portuguesa Sandometal e o gabinete de engenharia Navitas uniram esforços para criar uma solução de purificação de ar de implementação “simples e imediata” com vista a responder às necessidades de ventilação urgentes do Hospital São José, em Lisboa, neste período de pandemia. A iniciativa resultou na doação de seis máquinas, que foram já entregues ao serviço de urgência da unidade, e, garantem os seus criadores, pode ser “replicada em muitos outros locais com características semelhantes”.
A acção, que contou também com o apoio da empresa Visteon e do empreiteiro ArClasse, surgiu como forma de ultrapassar as condicionantes existentes à implementação de sistemas de AVAC do Hospital de São José e que, face às necessidades provocadas pela pandemia de covid-19, podem prejudicar o desempenho desta unidade de saúde.
“O Hospital de São José opera num edifício construído no século XV, tendo sido inaugurado nos primeiros anos do século XVI, apresentando grandes condicionantes arquitectónicas à implementação de sistemas de ar condicionado em conformidade com os exigentes requisitos actuais aplicáveis”, explica Carlos Lisboa, responsável pela Navitas. “Esta situação contribui relevantemente para a situação actual de existência de zonas servidas por sistemas de ar condicionado com desempenho muito limitado e não adaptado à resposta que hoje se torna necessária e urgente face à actual situação de pandemia que atravessamos”. A isto, juntaram-se também dificuldades em termos logísticos de ocupação de espaço, o que impossibilita a instalação de sistemas de ventilação fixo, dotados de ventiladores, redes de condutas e sistemas de controlo activo de pressões e de caudais.
Ao ter conhecimento da situação neste hospital de Lisboa, o gabinete de engenharia desenvolveu uma solução “modular, portátil, constituída por múltiplas unidades portáteis de purificação do ar por recirculação e filtragem do ar em filtros HEPA”. Para tal, a acção contou com a disponibilidade da Sandometal para fabricar, num curto espaço de tempo, as máquinas necessárias, e com o apoio da empresa Visteon, que forneceu três filtros HEPA H13, a pedido do empreiteiro ArClasse.
Criadas em tempo recorde, as seis máquinas “foram dimensionadas para conseguir 12 recirculações de ar em salas de 20m2, requisito da norma ANSI/ASHRAE/ASHE 170 Ventilation of Health Care Facilities para quartos/enfermarias de isolamento de doentes com doenças infectocontagiosas transmissíveis por via aérea” *, explica o projectista.
Em termos de especificações, as máquinas fabricadas dispõem de um caudal de ar de 200 l/s (720 m3/h); ventilador de velocidade variável do tipo ecFan; alimentação monofásica através de ficha para ligar a tomada de parede normal, com terra; caixa de ventilação com aspiração frontal e insuflação superior, insuflando o ar na direcção vertical e sentido ascendente; caixa de ventilação dotada de rodas para permitir a sua fácil movimentação; botão para regulação da velocidade do ventilador; e interruptor de corte local.
As unidades modulares foram entregues a 8 de Abril, mas só depois de um ensaio final na manhã desse dia, durante o qual se constatou que as máquinas “movimentam o caudal especificado com o ventilador apenas a 40 % da sua velocidade de rotação máxima, com um nível de ruído muito baixo, quase inaudível”. Já no local da instalação, juntamente com a direcção das urgências hospitalares, estabeleceu-se o seguinte procedimento: em sala ocupada, a máquina opera na posição 4 (40 % da velocidade máxima) ou a velocidade superior caso não provoque incómodo acústico; após desocupação, a máquina deve ser colocada na velocidade 10 durante 10 minutos, com as portas fechadas e sala desocupada, para promover uma rápida purificação de todo o volume de ar da sala.
“Dado existirem compartimentos com mais elevada geração de aerossóis, mas ocupação intermitente, o facto de as máquinas serem dotadas de rodas e, portanto, serem facilmente transportáveis, constitui uma importante vantagem pois permite operar as máquinas em contínuo levando-as para os compartimentos que, em cada momento, sejam mais críticos”, acrescenta o especialista.
Depois desta iniciativa, Carlos Lisboa admitiu que esta pode ser uma solução “repetida em muitos outros locais com características semelhantes”. Por sua vez, também António Beirão, fundador da Sandometal, confessou à Edifícios e Energia que a empresa está disponível para avaliar a integração da solução desenvolvida no seu portefólio de produtos.
*Para melhor perceber o fenómeno da transmissão por via aérea e a utilidade dos sistemas de AVAC para a redução da referida transmissão, recomenda-se o estudo dos seguintes documentos:
- “Uma análise sobre os modos de transmissão da COVID-19 à luz dos conceitos de Qualidade, do Ar Interior”, Manuel Gameiro da Silva, Universidade de Coimbra, 2020;
- “ASHRAE Position Document on Airborne Infectious Diseases, published 2014, Revised 2020”.