É já amanhã a II Conferência das Comunidades de Energia Renovável (CER) em Portugal, organizada pela Coopérnico. O evento, que vai ter lugar no Museu Marítimo de Ílhavo entre as 10 e as 13 horas, vai focar-se no papel das CER na transição energética, no combate à pobreza energética e na flexibilidade do consumo e em medidas para acelerar a implementação deste modelo no país, apresentando também três projectos distintos que revelam diferentes dinâmicas de CER: o COMSOLVE, o POCITYF e o COMMUNITAS. “Queremos que as pessoas se cheguem à frente e consigam implementar estes projectos sem muita burocracia”, defende Alekson Luz, Técnico de Produção da Coopérnico.
“O caminho das CER já está a ser traçado e está a ter alguns desenvolvimentos em Portugal”, sublinha Alekson Luz, em entrevista à Edifícios e Energia. É precisamente para “mostrar projectos já aplicados na prática, (…) passar alguma informação sobre o que se está a fazer com as CER em Portugal”, que a Coopérnico está a organizar a II Conferência das Comunidades de Energia Renovável em Portugal. Neste evento, que conta também com palestras e uma mesa redonda, haverá ainda oportunidade de esclarecimento de dúvidas.
“Queremos que as pessoas se cheguem à frente e consigam implementar estes projectos sem muita burocracia”, também para combater a transformação de uma CER num modelo de negócio de empresas enquanto prestação de serviços, desvirtuando a gestão democrática. Mas este caminho, alerta Alekson Luz, implica também acelerar, amadurecendo e automatizando, os processos de licenciamento e alavancar as condições financeiras e infraestruturais necessárias para a criação destes projectos.
CER como mecanismo de combate à pobreza energética
Uma das questões que será abordada no evento de amanhã é precisamente o papel das CER no combate à pobreza energética. Alekson Luz avança, no entanto, que este papel está subjacente à própria essência das CER, cujo um dos objectivos é propiciar aos membros e às comunidades “benefícios ambientais, económicos e sociais, em vez de lucros financeiros”. “É nesta parte que a CER poderá entrar como um mecanismo de combate à pobreza energética. O lucro obtido pela venda de excedentes poderá ser utilizado para ajudar as famílias em pobreza energética a pagar uma factura de electricidade, ou para desenvolver acções de melhoria da eficiência energética ou até para apostar, aproveitando a própria experiência acumulada dentro da CER, em [acções de] literacia energética para a localidade onde está inserida.”
É certo que a integração de pessoas em maior situação de vulnerabilidade poderá não ser feita logo à partida. “Se tivermos uma empresa ou uma entidade pública a investir numa CER, normalmente uma câmara municipal, já com as famílias previamente identificadas, essa inclusão pode ser feita logo de início. Se temos um grupo de cidadãos sem maior capacidade de investimento, essa inclusão pode ser feita num período posterior, de acordo com os seus estatutos, quando a produção é suficiente para os membros que estão a investir na CER e o excedente pode ser doado.”
Além desta questão, o evento organizado pela Coopérnico vai também enquadrar as CER e as suas perspectivas futuras, reflectir sobre formas de acelerar a criação de CER em Portugal e discutir a importância das CER na transição energética – um papel que, segundo Alekson Luz, não se esgota na utilização de energias renováveis, estando também patente logo no simples facto de incluir cidadãos que se vão informando autonomamente sobre o sector de energia. “Com a sociedade mais informada sobre estes temas, é mais fácil conseguir envolver os cidadãos e os membros das CER” no processo, escalando-o, explica.
Projectos em destaque
Entre apresentações, uma mesa redonda, e uma sessão de Perguntas e Respostas, há também espaço para divulgar os desenvolvimentos do projecto COMSOLVE, no âmbito do qual esta conferência é desenvolvida, bem como os projectos POCITYF e COMMUNITAS. Serão abordados três “projectos pilotos que já incidem na parte da inovação, por exemplo, no que diz respeito à partilha de energia dinâmica ou hierárquica”, refere o técnico de produção da Coopérnico.
O COMSOLVE, que envolve a integração de veículos eléctricos e sistemas de armazenamento energético numa CER, “está mais relacionado com a comercialização de energia entre pares sendo que os próprios membros podem tomar a decisão de partilhar ou não energia com o vizinho ou de vender para a rede pública” e, além disso, inclui edifícios públicos e privados.
Já o POCITYF, embora adopte tecnologia semelhante ao primeiro, é diferente em termos de tipologia de inclusão dos membros. “Vai incluir somente edifícios patrimoniais públicos”, um tipo de interveniente que “é mais difícil inserir numa CER”. Esta iniciativa, que visa ainda implementar e testar edifícios e bairros de energia positiva em cidades históricas, pretende assim também “mostrar que a parte burocrática não pode ser um obstáculo à inclusão destes edifícios”.
O COMMUNITAS, por sua vez, foca-se na promoção da cidadania energética e no empoderamento dos cidadãos no caminho para a sustentabilidade através da participação nos mercados energéticos.