O uso de hidrogénio nos sectores da indústria, energia, transportes e edifícios poderá levar a mais de 20 % da redução global de dióxido de carbono (CO2) até 2050. Os dados são de um relatório desenvolvido pela consultora McKinsey & Company e pelo Hydrogen Council, lançado em Novembro, onde é apresentado um cenário de implementação “ambicioso, mas realista” até 2030 e 2050.

Segundo o relatório Hidrogénio para o Net Zero, o hidrogénio tem um potencial para uma redução acumulada de 80 gigatoneladas de CO2, até 2050, contribuindo para a descarbonização a nível mundial e para o cumprimento dos objectivos climáticos definidos na COP26. No cenário traçado até 2030, o potencial desta diminuição é o equivalente ao volume total de CO2 que é emitido pelo conjunto formado por Reino Unido, França e Bélgica.

O hidrogénio tem o potencial de desencadear a descarbonização precoce dos recursos existentes de produção energia que ainda dependem de combustíveis fósseis, aponta a mesma fonte. Em relação ao aquecimento de edifícios residenciais e comerciais, que é responsável por cerca de 5 % das emissões globais, o relatório diz que há um trabalho a desenvolver para escalar o uso de hidrogénio com estes fins. Apesar de se considerar que “misturar hidrogénio em redes de gás natural existente poderá desenvolver-se como um passo inicial para redes de condutas completamente preparadas para o hidrogénio”, o relatório admite que ainda existem “incertezas significativas quanto ao papel das soluções de hidrogénio neste sector e a competitividade de custos versus soluções electrificadas como bombas de calor”.

De acordo com o comunicado de imprensa, o hidrogénio poderá também ser uma opção “rentável e eficiente” para diferentes usos, desde utilizações industriais e produção de aço, até à mobilidade terrestre e aos combustíveis à base de hidrogénio para a aviação e aplicações marítimas.

O documento considera factores como procura, oferta, infra-estruturas, potencial de redução e investimentos necessários, bem como dados sobre o custo e desempenho das tecnologias de hidrogénio. Posto isto, a análise prevê que a procura de hidrogénio poderá crescer 50 % até à próxima década, esperando-se que 30 % da nova procura ocorra na Europa, no Japão e na Coreia.

 Concretizar implica quadriplicar o investimento actual e fortalecer colaboração público-privada

Em 2021, foram anunciados, a nível mundial, mais de 520 projectos de grande escala que recorrem ao hidrogénio, representando o dobro em relação ao ano anterior. O investimento em hidrogénio, até ao momento, corresponde a cerca de 25 % daquele que é considerado necessário para atingir o cenário de net zero em 2050. Para essa realidade, é preciso investir 700 mil milhões de dólares (623 mil milhões de euros), dos quais 300 mil milhões se destinam à produção de hidrogénio, 200 mil milhões às infra-estruturas e outros 200 mil milhões para as utilizações finais.

As estimativas de capacidade de produção para 2030 têm triplicado todos os anos, desde 2019 a 2021. Quem o diz é Bruno Esgalhado, sócio da McKinsey & Company em Espanha, acrescentando que, ainda assim, a concretização do cenário previsto no relatório depende de um “aumento significativo da produção”, de um aumento de infra-estruturas e da criação de escala dessas mesmas para reduzir custos, e também de um crescimento nas “utilizações finais de hidrogénio”.

O relatório defende que estes objectivos deverão ser apoiados pelos Governos para criar competitividade, através de incentivos, regulamentação e mecanismos de apoio, e pelo sector privado para assegurar um investimento e um nível de ambição e normas comuns entre sectores e regiões.