O nome não é fácil de pronunciar à primeira, mas o trabalho que o GEOTPU.LAB (acrónimo para Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Planeamento Urbano) desenvolve tem precisamente o objectivo de simplificar e melhorar a vida de pessoas em todo o mundo, sobretudo as que vivem em situações precárias, através de modelos de desenvolvimento urbano sustentável que promovem a autonomia e a melhoria das condições de vida.
Denominado por GEOTPU.LAB – Laboratório do Território, Planeamento Urbano e Arquitectura, este grupo de investigação multidisciplinar tem a sua base no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa. No entanto, as suas sementes estão espalhadas por todo o mundo, com projectos nos Países de Língua Oficial Portuguesa, mas também nos Estados Unidos, Índia, Reino Unido, Suécia ou Dinamarca.
Nascido, em 2004, da vontade de um arquitecto em trabalhar com a Engenharia, de uma forma multidisciplinar e agregadora, com espaço para poder desenvolver investigação não só com doutorados mas também com estudantes, o GEOTPU.LAB cresceu e alastrou-se pelo mundo, pondo ao serviço das comunidades mais carenciadas projectos e boas práticas que visam contribuir para ajudar a alcançar os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O objectivo maior é um: a sustentabilidade. Para tal, os seus participantes realizam investigação de modo a desenvolver metodologias para a sustentabilidade no ambiente construído. Na sua apresentação, o grupo, constituído por estudantes, mestres, doutorados e investigadores, propõe “uma abordagem baseada na integração dos princípios da sustentabilidade e de parâmetros ambientais, bem como, aspectos socioculturais e económicos no ordenamento do território, design urbano e projectos arquitectónicos”.
O arquitecto Miguel Amado, fundador e coordenador deste Laboratório, explicou à Edifícios e Energia que o desenvolvimento sustentável é o “chapéu enquadrador” de toda a actividade que o grupo desenvolve e, a partir daí, tenta estruturar na área da arquitectura, do planeamento e do desenho urbano. Pegando no tema da “habitação mais focada nos programas habitacionais e na resposta das diferentes sociedades para a carência da habitação”, o laboratório cruza o assunto com o desenvolvimento e a economia e tem, assim, articulado “projectos de auto-construção, ajudando países a desenvolver as suas políticas de habitação mais focados na auto-construção e no desenvolvimento de competências próprias”.
Conforme refere o responsável, o GEOTPU.LAB tem actuado maioritariamente nos países em desenvolvimento e em particular com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O trabalho passa pelo desenvolvimento de treino profissional e, ao mesmo tempo, formação de competências em ministérios, direcções-gerais e também colégios de profissionais, como ordens de engenheiros e associações de arquitectos, no sentido de “disseminar conhecimento”. Os projectos são, sobretudo, na área do sector público e desenvolvem também alguma investigação associada para criação de novas soluções, conta Miguel Amado. Foi assim que surgiram alguns protótipos “a nível urbano”, a Parede Eco-estrutural e a Parede Técnica. Esta última foi desenvolvida a partir das últimas definições dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e foi já aplicada em países como Cabo Verde (que foi o primeiro), Angola, Timor-Leste, e está agora prestes a chegar à Guiné-Bissau e a São Tomé e Príncipe.
O que é a Parede Técnica?
Segundo o conceito definido pelo Laboratório do IST, a solução Parede Técnica visa “promover o desenvolvimento sustentável, combatendo a exclusão social, economizando recursos naturais e melhorando a saúde pública através de uma parede como elemento gerador do planeamento, habitação e criação de áreas urbanizadas em países em desenvolvimento”.
“Faz parte das infra-estruturas públicas do processo de urbanização”, explica Miguel Amado. “A Parede agrega todas as infra-estruturas de água, electricidade, esgoto, gás, ventilação, exaustão e telecomunicações, para que as pessoas possam, de acordo com as suas possibilidades e as suas competências, construir habitação em torno dela. O modelo induz um processo de urbanização e também de parcelamento e ocupação do território, para garantirmos que conseguimos evitar que as pessoas consumam mais do que necessitam [ou] que haja quem consuma e não pague, ao nível da água e da energia, e, ao mesmo tempo, que promova o desenvolvimento. Aí, encontramos o desenvolvimento no sentido lato: em termos económicos, com a promoção de habitação, e em termos sociais, pelas trocas e oportunidades de uns venderem serviços e de outros adquirirem serviços, uma vez que muitas pessoas que têm um emprego mais formal não podem estar a construir a sua casa, mas podem adquirir esse serviço a outros que, não tendo competências para ter um emprego formal, podem fazer esse tipo de trabalho”.
A monitorização do desenvolvimento e progresso das áreas onde a Parede Técnica é implementada também faz parte do trabalho deste Laboratório, que viu resultados positivos, como revela Miguel Amado: “Em Timor, no caso concreto da região de OeCusse, temos monitorizado a evolução e esta tem sido abismal. O nível de competências e de aquisição de novas capacidades de desenvolvimento são muito fortes”. Os resultados também foram visíveis em Cabo Verde, Angola (onde o grupo deverá regressar em breve, para a região de Luanda) e também na Índia, em Bangalore.
Para o futuro, além do desenvolvimento da Parede Técnica na Guiné-Bissau e em Moçambique, o GEOTPU.LAB está a trabalhar com a UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa na ilha de Moçambique. As entidades estão a estudar a hipótese de retirar a população que ali vive com poucas condições, levando-a para o continente e aplicando também o modelo da Parede Técnica.
Um grupo multicultural
Sendo um Laboratório de investigadores, o GEOTPU.LAB recebe pessoas de todo o mundo. “Nos últimos dois anos, têm vindo alunos de outros países trabalhar connosco durante períodos de cinco a seis meses, para, depois, levarem estas competências para os seus países, nomeadamente no norte do continente africano, Argélia, Marrocos, Egipto e também o Senegal”, revela. Assim, mais do que um laboratório de análise, testes e experimentação, o GEOTPU.LAB é um disseminador de boas práticas, a partir dos resultados obtidos. “Os alunos saem daqui não só a saber investigar como a trabalhar autonomamente. São técnicos”, explica Miguel Amado. O responsável considera também que as diferentes culturas que o Laboratório congrega são uma mais-valia, tanto para a investigação como para as soluções encontradas: “Temos, connosco, um australiano, uma argelina, um marroquino. Agora, vem um iraniano e um paquistanês exactamente para poderem trabalhar nestas metodologias que nós fazemos, de integração de muitos conhecimentos para resolver um só problema. Não trabalhamos as coisas sectorialmente, mas sim de uma forma integrada”.
Mas esta equipa multidisciplinar não se foca apenas no desenvolvimento urbano e em países em vias de desenvolvimento. A energia é, segundo Miguel Amado, “uma área muito forte”, com a qual o grupo tem trabalhado a nível internacional e também nacional. Em terras lusas, o especialista aponta o trabalho desenvolvido com o município de Oeiras – que, diz, “é o mais paradigmático e o mais aberto a estas inovações” –, nomeadamente o OEIRAS E-CITY – Modelo de Cidade Energeticamente Eficiente. Além-fronteiras, participa em projectos da Agência Internacional de Energia que visam integrar e desenvolver soluções solares para integração no contexto urbano e arquitectónico, e actua na área do Ambiente, integrando os programas ambientais, acções das actividades humanas desenvolvidas em cada país.