Apesar de o investimento em eficiência energética nos edifícios estar a aumentar e a intensidade energética a diminuir, a procura energética e as emissões operacionais ligadas ao sector também subiram. O cenário de um “fosso” maior em relação ao objectivo da neutralidade climática é retratado pelo 2022 Global Status Report for Buildings and Constructions, publicado em Novembro pela Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC), que apela à acção conjunta.
Em 2021, mais de 34 % da procura energética foi atribuída ao sector dos edifícios e da construção, que, para fins operacionais de climatização, iluminação e utilização de equipamentos em edifícios, aumentou a sua procura energética em cerca de 4 % face a 2020 e 3 % em relação a 2019.
Este cenário contribuiu também para um retrato pior de emissões de CO₂ ligadas à energia e a processos associados em relação aos anos anteriores: sendo responsável por cerca de 37 % destas emissões, o sector emitiu dez gigatoneladas de CO₂ equivalente – mais 5 % e mais 2 % do que em 2020 e 2019, respectivamente.
Ao mesmo tempo, o ano passado verificou o maior investimento em eficiência energética de sempre. Esta aposta atingiu um montante de 237 mil milhões de dólares americanos, representando uma subida de 16 % quanto a 2020. Enquanto isso, também a intensidade das emissões do sector em kg de CO₂ por m² e a intensidade energética em kW/hora diminuíram – a primeira passou de 43 em 2015 para 40 em 2021, e a segunda de 153 em 2015 para 152 em 2021.
Não obstante a melhoria nalguns aspectos, a GlobalABC alerta que “o fosso entre o desempenho climático do sector e o caminho para a neutralidade [carbónica] em 2050 está a aumentar”. Este fenómeno de aumento da procura energética e de aumento de emissões é explicado também pelo aumento da área total de construção entre 2015 e 2021, já que houve um crescimento global de cerca de 24 mil km², o equivalente à superfície terrestre ocupada pela Alemanha, pela França, pela Itália e pelos Países Baixos.
Como reorientar o sector para a neutralidade?
No relatório apresentado, a GlobalABC delineia uma série de “recomendações-chave para os decisores” para enfrentar o problema, entre as quais a implementação, por diferentes níveis de governação, de roteiros para a descarbonização dos edifícios, directivas obrigatórias para a energia nos edifícios para a neutralidade carbónica e de políticas promotoras da economia circular. A eficiência energética deve também continuar a ser alvo de investimento e de forma mais intensa, quer pelos governos, quer por outros actores.

Aos vários stakeholders, como a indústria de construção e de materiais de construção ou o sector imobiliário, cabe também a responsabilidade de implementar estratégias para a descarbonização dos edifícios novos e existentes e de reduzir as emissões de carbono ao longo das cadeias de valor, incluindo a diminuição da pegada carbónica dos materiais.
A GlobalABC deixa ainda uma nota aos países e às economias em rápido desenvolvimento: é preciso investir na melhoria das capacidades e nas cadeias de fornecimento que promovam desenhos eficientes em termos de energia e hipo-carbónicos e uma construção sustentável.