Um sistema no qual se carregam os veículos com electricidade gerada nos painéis solares nos telhados dos edifícios, que, por sua vez, são aquecidos com o calor que é desperdiçado num data center localizado nas proximidades, que, para funcionar, usa hidrogénio limpo produzido num parque eólico off-shore – esta é, para a Comissão Europeia, a descrição de um sistema energético integrado e que deverá ser a base para a transição energética necessária para a descarbonização. A estratégia para alcançar este cenário foi apresentada no passado dia 8 de Julho.

Para tornar isto uma realidade, a estratégia europeia para a integração do sistema energético, conhecida na semana passada, assenta em três pilares: uma maior circularidade do sistema energético e que terá a eficiência energética no centro das atenções; o reforço da electrificação directa para sectores de consumo final, aproveitando a crescente penetração de renováveis no mix eléctrico; e a promoção de combustíveis limpos, incluindo hidrogénio renovável, biocombustíveis e biogás sustentáveis.

Nesta estratégia, a intervenção no sector dos edifícios tem um papel preponderante, em particular através da iniciativa “Renovation Wave”, anunciada no Pacto Ecológico Europeu, e com a qual se aguardam acções concretas para acelerar a implementação de medidas de eficiência energética e a adopção de tecnologias de energias renováveis no parque edificado europeu. A par disso, a Comissão mostra-se também atenta ao facto de as fontes de energia não estarem a ser usadas de forma eficiente nos edifícios e comunidades. Ao reforçar o princípio da circularidade, espera-se que a estratégia desbloqueie o potencial da reutilização de calor que é desperdiçado, por exemplo, em data centres, fábricas, etc.

Estimando-se que, no sector residencial, a quota de electricidade para fins de aquecimento alcance os 50-70 % em 2050, a tendência para a crescente electrificação dos edifícios não surge como uma novidade. Nesta matéria, a Comissão destaca o papel das bombas de calor, cuja adopção tem vindo a crescer na Europa. O facto de as bombas de calor serem consideradas energia renovável, cumprindo os devidos requisitos, coloca esta tecnologia como uma das mais promissoras para garantir uma maior quota de renováveis no sector.

Com base nos três eixos, estão previstas 38 acções que ajudarão à maior integração do sistema energético. Neste lote, incluem-se revisão de legislação, apoio financeiro, investigação e desenvolvimento de novas tecnologias e instrumentos digitais, orientação em matéria fiscal para ajudar os Estados-Membros a abandonar os subsídios aos combustíveis fósseis, encetar reformas de governance de mercado, melhorar o planeamento de infra-estruturas e a informação prestada aos consumidores.

A integração do sistema energético significa um sistema planeado para operar como um todo, ligando diferentes cadeias de transmissão, infra-estruturas e sectores de consumo, explica o comunicado europeu. Desta forma, é possível obter um sistema conectado e mais flexível e que é, ao mesmo tempo, mais eficiente e com menos custos para a sociedade, refere a Comissão.

Com esta visão, Bruxelas quer abandonar um modelo de funcionamento por silos, nos quais o uso de energia nos transportes, indústria ou edifícios acontece praticamente sem ligação entre estes sectores e com cadeias de valor, regras, infra-estruturas, planeamento e operações separadas. Integrar passa a ser a palavra de ordem da Comissão, que apela à criação de ligações entre estes elementos, assim como à exploração do progresso tecnológico.

A par da estratégia para a integração do sistema energético, nesse mesmo dia, foi também apresentada a estratégia europeia para o hidrogénio, acompanhada pelo lançamento da Aliança Europeia para o Hidrogénio Limpo. O documento contempla uma abordagem faseada, estimando-se que, entre 2030 e 2050, as tecnologias de hidrogénio renovável atinjam a maturidade e possam ser disseminadas em larga escala.