Entre 2010 e 2017, o sector residencial português recorreu mais a fontes de energia renovável e conseguiu diminuir o uso de energia, havendo ainda um potencial de poupança de 60 % – esta é uma das conclusões que se podem retirar dos dados que constam na primeira edição do “Energia em Números”, do Observatório da Energia. A publicação, apresentada esta segunda-feira, em Lisboa, reúne os principais indicadores estatísticos sobre a energia em Portugal.
Pela primeira vez, os dados mais relevantes sobre o sector da energia, entre os anos de 2010 e 2017, estão agora agregados numa única publicação, com base nas análises realizadas pela Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG) e noutros dados sistematizados pela ADENE – Agência para a Energia. A informação permite verificar o ponto de situação de Portugal face às metas estabelecidas para 2020, nomeadamente no que se refere às energias renováveis e eficiência energética.
Com um objectivo estabelecido, para 2020, de 31 % de penetração de renováveis no uso final bruto de energia, o relatório refere que, em 2017, as energias renováveis representavam 28,1 % desse consumo. Já o consumo de energia primária (sem usos energéticos), também em 2017, apresentou um valor de 22,7 Mtep (milhões de toneladas equivalentes ao petróleo), ligeiramente acima dos 22,5 Mtep, que é a meta nacional da eficiência energética para 2020.
Segundo o documento, o potencial de poupança de energia nos edifícios residenciais é de 60 %, tomando por base as medidas de melhoria constantes dos certificados energéticos emitidos. Entre 2010 e 2017, o uso de energia no sector residencial diminuiu 13 %, com uma redução do consumo dos produtos de petróleo (maioritariamente), gasóleo de aquecimento e GPL em 38 %. Nesse mesmo período, os consumos de gás natural e electricidade diminuíram 16 % e 13 %, respectivamente, e o uso de energia proveniente de fontes renováveis, como é o caso da biomassa e solar térmico, cresceu 11 %.
O relatório faz também referência aos dados do Sistema de Certificação Energética (SCE). Uma vez que a maior parte do parque edificado se destina a habitação, este tem sido o sector com o maior volume de certificados emitidos, com uma predominância de certificados destinados a edifícios existentes. Dos 1,57 milhões de certificados energéticos emitidos entre 2009 e 2018, em média, 88 % refere-se a imóveis do sector da habitação (1,39 milhões) e os restantes 12 % a edifícios do sector do comércio e serviços.
Em termos de intensidade energética, os indicadores do estudo revelam que “Portugal está mais eficiente”: em 2017, para gerar um milhão de euros de riqueza, foram usadas 87 toneladas equivalentes de petróleo (tep) em energia final, quando, em 2007, para gerar o mesmo valor de riqueza, eram necessárias 103 tep. Já a intensidade energética no Consumo Privado tem evoluído de forma positiva, tendo diminuído 3,19 % em 2017, face ao ano anterior. Comparando com 2007, a diminuição regista uma diferença de menos 25,7 %.
No que toca à dependência energética, o documento compara Portugal com os restantes países da União Europeia (a 28), concluindo que, em 2017, este era o 4º país com a maior dependência energética, com 79,7 % (cerca de 25 p.p. acima da média, que se situa nos 55,1 %, sendo a meta para 2020 de 31 %).
Sobre o balanço energético, a produção doméstica (ktep) em 2017 registou uma diminuição de 13,1 % face a 2016. A produção doméstica/energia primária registou também uma redução, de 4,4 %, devido à forte quebra da produção de hidroelectricidade em 2017.
Na sessão pública de apresentação da publicação “Energia em Números”, que teve como mote “Mais e melhor informação em energia”, foi também apresentada uma outra novidade: a aplicação Poupa Energia. Dois anos depois de ter lançado o portal Poupa Energia, a ADENE lança esta nova ferramenta que permite, à semelhança do portal, comparar tarifários de gás e electricidade com o objectivo de escolher o que melhor se adequa às necessidades de cada um. A simulação pode ser feita na aplicação (já disponível para ser descarregada), assim como o processo de alteração de operador.
Na apresentação do “Energia em Números”, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Salteiro, da DGEG, referiu que, este ano, e pela primeira vez, será possível contar com informação sobre aquecimento e arrefecimento com bombas de calor, referente ao ano de 2018. Esta informação nunca foi contabilizada nas estatísticas da DGEG, incluindo-se, agora, na energia renovável e passando a contar no balanço energético nacional que deverá ser publicado ainda este ano.