Qualquer edifício com acesso ao público deve, por lei, incluir iluminação de emergência. A Daisalux, uma empresa familiar com mais de 30 anos, é um dos agentes que tem actuado no mercado deste tipo de iluminação. A convite da distribuidora da marca em terras lusas, Aura Light Portugal, a Edifícios e Energia visitou, em Outubro, as instalações da Daisalux e ficou a conhecer o trabalho desenvolvido por esta fabricante espanhola.
Na fábrica da Daisalux, na cidade basca de Vitória, tudo começa com uma ideia. Desde essa fase, que requer múltiplos ajustes, até à comercialização de um produto, podem passar um a dois anos. Numa altura em que o contexto internacional desafia os mercados com subida de preços e quebras em cadeias de fornecimento de matérias-primas, um empreendimento é, nas palavras de David Pérez de Albéniz, responsável de vendas da Daisalux em Espanha e Portugal, “um acto de fé”.
Essa fé apoia-se, no entanto, nalguns princípios orientadores da empresa, que emprega 115 pessoas. Um deles está presente desde logo no departamento de ID (Investigação e Desenvolvimento), em que engenheiros, físicos e outros profissionais aliam o seu conhecimento e arquitectos consultores dão o seu input com o objectivo de conceber e testar produtos, calibrando-os, o melhor possível, às necessidades do mercado.
Segundo David Pérez de Albéniz, esta forma de trabalhar tem sido benéfica. “Neste ano, em termos de projectos, creio que cresceremos entre 10 e 20 %. Provavelmente, será o ano com maior número [mais de dois mil] no nosso departamento de desenvolvimento de projectos”. O crescimento é resultado de dois factores. Por um lado, melhores cálculos de iluminação de emergência, onde o Software de cálculo Daisa também desempenha um papel importante, até para adequar os objetivos luminotécnicos dos diferentes países e facilitar, assim, a exportação (responsável por cerca de 12 % da facturação da Daisalux). Por outro, é resultado da necessidade de beber de várias competências para dar resposta à inconsistência do mercado.
Maior autonomia para responder aos desafios
Num contexto afectado por uma pandemia, que derrubou várias empresas, não só a oferta de alguns serviços diminuiu, como algumas cadeias de fornecimento de materiais sofreram disrupções e aumento de preços. “Temos sofrido muito com o aumento de preços dos componentes electrónicos. De 60 cêntimos, [o custo de um componente passou] para 18 dólares, e com tempos de resposta [à aceitação das condições de venda] muito curtos”, exemplifica Ramon Merino, managing director da Daisalux.
Perante este desafio e a dependência de terceiros, a Daisalux optou por uma resposta em quatro frentes: diversificar o fornecimento de matérias-primas, dependendo de, pelo menos, dois ou três fornecedores; montar, na própria empresa, até 50 % de alguns circuitos electrónicos; começar a fabricar novos materiais; e implementar (processo a decorrer) a filosofia Kaizen para ordenar o processo de fabrico e racionalizar os recursos. “Isto permite-nos ter um pouco mais de independência”, sublinha Ramon Merino, que acrescenta a vantagem secundária de acabarem por “aprender como desenhar melhores peças”, facilitando a moldagem e colmatando custos desnecessários.
Apesar dos avanços, há dificuldades que permanecem. “Somos capazes de fabricar [fabricam 100 % das luminárias], mas a dificuldade que temos é estender a capacidade de produção”, realça o director. Na instalação basca, o processo de fabrico é muito manual. Apesar de alguma automatização, por exemplo, na montagem de determinados circuitos electrónicos ou na verificação de LEDs, alargar esse processo é “difícil”. David Pérez de Albéniz argumenta que a dificuldade jaz no facto de os pedidos serem “à medida” e de, no universo de produtos já acabados e acessorizados da Daisalux, existirem “mais de 200 mil combinações possível”, ainda que “duas a três mil” sejam mais comuns. Para a empresa, a solução recai em ter “muito material semi-elaborado” para que a montagem final seja mais rápida – em 24 horas, conseguem, por norma, dar resposta a cerca de mil equipamentos.
Já outras dificuldades ultrapassam as dificuldades do mercado, prendendo-se, em grande parte, com a legislação. “A iluminação de emergência é muito normativa, na aplicação e na construção”, constata Ramon Merino. O facto de haver diferentes requisitos de país para país e de alguns serem menos flexíveis condiciona a inovação na “utilização de novas tecnologias de forma eficiente” e o carácter estético dos produtos. Como exemplo, o managing director refere os edifícios de espectáculos onde há pouca luminosidade e não é possível diminuir a intensidade da luz de emergência. Com a discrição a ser, nas palavras de Hugo Jorge, técnico-comercial da Aura Light Portugal, o “factor diferenciador da Daisalux”, a empresa espanhola tem intervindo junto das entidades competentes para tentar mudar alguns aspectos regulamentares na área.
Outro exemplo da procura por maior autonomia é a aposta recente na produção de energia renovável, através da implementação de 200 painéis fotovoltaicos. Com uma capacidade instalada total de 200 kW, estes equipamentos são responsáveis pela produção de 70 % da energia que é consumida. “E queremos instalar mais 100 [painéis]”, avança Ramon Merino.
Controlo de qualidade e inovação
Todos os produtos são sujeitos a vários testes dentro da própria empresa para assegurar que, quando chegam ao mercado ou são testados num laboratório externo, cumprem as características desejadas e os requisitos necessários. Neste sentido, a Daisalux investe nalguns equipamentos para medir fluxos luminosos (esfera integradora), avaliar a distribuição da intensidade luminosa (fotogoniómetro) e realizar os testes de protecção contra impactos mecânicos externos (teste de Charpy), bem como os de Índice de Protecção contra intrusão, poeira, contacto acidental e água (admitindo haver melhorias a fazer no reaproveitamento da água utilizada durante os ensaios).
A empresa dispõe ainda de uma sala com temperaturas mais elevadas e de câmaras climáticas, para verificar o funcionamento dos componentes em qualquer circunstância (por exemplo, num túnel, onde existe muita variação térmica), e de “um laboratório de óptica”, onde não só se medem propriedades fotométricas e se faz o controlo de qualidade, como se procura encontrar “mais-valias” e inovar.
Um exemplo mais recente dessa inovação é uma série de produtos que contempla microestruturas a nível óptico. Como explica David Pérez de Albéniz, estes produtos aproveitam a refracção da luz como uma ferramenta que pode ser moldada. Ao recorrer a diferentes microestruturas, a luz expande-se de maneira distinta, criando os efeitos desejados. “Simplifica a iluminação, ilumina bem na mesma e consegue-se, num só elemento, substituir a lente refletora, o que é um avanço muito importante, sobretudo para o desenvolvimento de mais produtos.”
*a jornalista viajou a convite da Aura Light Portugal