Deverá ser já no próximo ano que Guimarães vai ter o primeiro edifício híbrido construído segundo o sistema CREE em território nacional. Usando a madeira como matéria-prima, esta proposta para a construção sustentável, assente no pré-fabrico padronizado de componentes individuais, chega a Portugal através do Grupo Casais.

A parceria entre o Grupo Casais e a CREE Buildings, rede de empresas que promove o sistema de construção com o mesmo nome, foi celebrada em finais de Maio e vem apresentar ao mercado nacional uma forma de construir mais sustentável. Para além do primeiro edifício CREE em Portugal, que será feito com investimento próprio, a construtora vai também assegurar a fabricação de produtos estruturais deste sistema através da unidade industrial Blufab.

O sistema consiste em “soluções de construção de vários andares em madeira híbrida pré-fabricadas, comprovadas, consistentes e em desenvolvimento contínuo”, explica a empresa nacional. A utilização da madeira como matéria-prima e a prefabricação padronizada de componentes individuais, como painéis de tecto e de fachada, pilares e estruturas, que podem ser rapidamente montados no local da obra, fazem deste um sistema com menor impacto ambiental e mais económico para o sector. “Por um lado, a utilização de madeira permite grande flexibilidade e tem a vantagem de actuar como sequestradora de carbono; por outro, a industrialização na fabricação permite ganhos de eficiência e limita o desperdício a um mínimo. Portanto, trata-se de uma solução mais sustentável, tanto do ponto de vista ambiental, como económico, com uma abordagem de pré-fabricação sistematizada por forma a conseguirmos aumentar a produtividade, utilizando o mínimo de recursos e, ao mesmo tempo, minimizando as emissões de CO2”, explica Pedro Lopes, coordenador de inovação e Conhecimento da Casais.

O melhor da madeira e do betão

A proposta da CREE resulta na construção de edifícios híbridos, “numa combinação madeira-betão” que aproveita as “melhores características” de cada um destes materiais. Ao reduzir para menos de 40 % a utilização do betão e ao usar um sequestrador de carbono natural (madeira), o ambiente beneficia “duplamente”, reforça Pedro Lopes.

Para além disso, por ser uma solução mais leve, a escavação necessária é menor, minimizando também a degradação dos solos que dela resulta. Por sua vez, o betão aporta durabilidade, resistência e inércia térmica ao projecto. “Conjugam-se estes materiais num ambiente industrial, minimizando os desperdícios, e prevendo a sua utilização para a possibilidade de desmantelamento e reutilização de grande parte dos materiais”, acrescenta.

Ao utilizar esta combinação, o sistema permite a construção de edifícios até 100 metros de altura (cerca de 30 andares), compostos por grandes vãos e paredes exteriores não estruturais, de modo a obter um elevado grau de flexibilidade, quer para o design interior, quer para a fachada. A solução, defende Pedro Lopes, é “particularmente interessante” para edifícios de grande dimensão, comércio, estabelecimentos de ensino, hotéis e residenciais, mas, acima de tudo, para escritórios. Isto não só porque a flexibilidade do sistema permite ocultar as instalações existentes nos locais de trabalho, mas também porque permite a criação de ambientes agradáveis e saudáveis. “Os edifícios de escritório são edifícios de ocupação intensiva e, por essa razão, com exigências técnicas e de design rigorosas em termos de qualidade do ambiente. É particularmente importante criar uma atmosfera que seja agradável e produtiva com espaços inspiradores e multifuncionais que promovam a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, o que, por sua vez, leva a maior produtividade e melhores resultados para uma organização.  O uso da madeira em espaços interiores é uma forma de criar uma ligação entre pessoas e a natureza, principalmente quando a madeira se mantém no seu estado mais rústico e texturizado”, argumenta.

Não obstante as vantagens do sistema, na perspectiva de um modelo sustentável, a utilização da madeira na construção exige cuidados para os quais o Grupo Casais se mostra consciente. Além de garantir a persecução das melhores práticas de sustentabilidade na exploração da floresta, é necessário que, mais à frente na cadeia de produção, existam parceiros locais de engenharia de madeira, “por forma a limitar as necessidades de transporte e a tornar a solução ainda mais ambientalmente responsável”.

E como é que a informação sobre o sistema pode chegar aos arquitectos e engenheiros portugueses? De modo a facilitar a sua integração nos projectos, está disponível uma plataforma global na qual o simples registo dá acesso ao conhecimento necessário aos profissionais. “A plataforma CREE proporciona uma ferramenta onde podemos trabalhar, obter informação, comunicar e partilhar conhecimento de uma forma fácil e ágil. Ao mesmo tempo, permite tirar ideias e encontrar soluções para as especificações de um determinado projecto em que possamos implementar a solução CREE”, refere Pedro Lopes. A ferramenta conta com o contributo de parceiros CREE de todo o mundo, o que acaba por “proporcionar um ecossistema de que todos poderão beneficiar, ajuda a uma cooperação dinâmica para suportar cada um na criação de valor”.

Todavia, o facto de este sistema utilizar tecnologia BIM – Building Information Modelling (BIM) como fonte de informação única é também uma mais-valia na sua aplicação. “Agregando modelos individuais a um modelo BIM comum, podemos encontrar diversos problemas e conflitos numa fase muito mais precoce do que em modelos de planeamento 2D”, explica.

Evoluir na forma de construir

Ao trazer o sistema CREE para Portugal, o Grupo Casais assume uma posição “pioneira” nesta matéria no mercado nacional, mas sabe que é preciso “contrariar algum cepticismo que ainda existe relativamente a soluções que utilizem madeira”. “Além de comprovadamente uma solução estrutural de total fiabilidade no âmbito desta aplicação, é uma excelente solução para resolver o problema e sequestrar CO2 de forma permanente. O Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) refere a necessidade de aumento da capacidade de absorção de carbono das nossas florestas. Esta utilização motiva à gestão sustentável das florestas e utiliza os seus produtos sem libertação de carbono. Trata-se, portanto de ciclo positivo, faz sentido no cenário económico e é tecnicamente exequível”, refere.

Para o responsável, a parceria é também uma forma de “manter a relevância num mundo em constante mudança” e de ter uma resposta “mais completa” para os desafios actuais. No entanto, o tema da sustentabilidade não é novo para a empresa portuguesa, que desenvolveu a marca GO GREEN BUILDINGS, com vista aos edifícios de carbono zero e aos edifícios com necessidades quase nulas de energia e que evoluiu, entretanto, para a marca EPA – Edifícios de Alto Perfil Ambiental. Recentemente a construtora reforçou o seu desempenho ambiental com a adopção de critérios ambientais, sociais e de governance, que abrangem áreas desde a energia aos sistemas de construção.

Sobre a chegada da CREE, é mais um passo em frente: “A CREE faz parte da nossa estratégia de evolução na forma de pensar a construção”, afirma Pedro Lopes. “A industrialização é a ferramenta da Casais para aumentar a eficiência e será essencial para a transição da construção, onde cada vez mais, veremos produtos e sistemas pensados e produzidos de uma forma integrada, garantindo sinergias e permitindo transformar a construção num processo de montagem de componentes que podem ser configurados de diferentes formas para atingir o resultado final contratado”, conclui.