Começa hoje a 7ª Conferência Passivhaus Portugal, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro. Sob o mote “Vamos contruir o futuro que queremos!” e com a duração de dois dias, o evento organizado pela Associação Passivhaus Portugal e pela Homegrid conta com 18 workshops práticos e muitas sessões temáticas, com oradores nacionais e internacionais.
O conceito ainda é desconhecido de muitos, mas a Conferência Passivhaus Portugal já vai na sua sétima edição. É uma das formas adoptadas pela Associação Passivhaus Portugal para mostrar como funciona esta norma, já obrigatória em edifícios de algumas regiões por esse mundo fora como o Luxemburgo, a Região de Bruxelas, o distrito de Frankfurt am Main ou Nova Iorque (nos edifícios públicos).
De entrada gratuita, mas sujeita a inscrição prévia, a sétima edição da Conferência Passivhaus Portugal conta com workshops práticos,no primeiro dia, que visam os temas “Envolvente do edifício”, “Estanquidade ao ar”, “Sistemas e equipamentos” e “Ventilação com recuperação de calor”, entre outros. O segundo dia é de conferência, com quatro sessões temáticas: “Em defesa da Passive House”, “O futuro que queremos”, “Como comunicar Passive House” e “Implementar Passive House”.
Na sessão de abertura, “Em defesa da Passive House”, haverá um painel sobre “A Passive House e a defesa do consumidor”, com um representante da DECO, para falar sobre a importância da certificação. Esta é uma questão muito importante, como explicou à Edifícios e Energia João Gavião, arquitecto e membro fundador da Associação Passivhaus Portugal: “ter edifícios certificados é a garantia que, de facto, aquele edifício corresponde a uma Passivhaus, avaliada por uma entidade certificadora ou pelo Passivhaus Institut [entidade que desenvolveu o único conceito Passivhaus reconhecido internacionalmente]. Trata-se de garantir a qualidade em todo o processo e em toda a cadeia de valor. Existem neste momento seis edifícios certificados, sendo que há muitos outros em fase de projecto, em fase de certificação e em fase de construção. E depois existem muitos outros que se dizem Passive House mas que, não havendo certificação não há garantia que são, de facto, Passivhaus. Para combater esse problema temos uma checklist, que elaborámos em conjunto com a DECO, para que um cliente, ou um potencial comprador, consiga perceber e distinguir o que é um edifício de desempenho Passivhaus das chamadas ‘falsas Passivhaus’, porque infelizmente é uma situação que, em alguns casos, já tem contornos muito graves”.
O objectivo da 7ª Conferência Passivhaus Portugal é a reunião de grande parte da rede Passivhaus em Portugal e, em ambos os dias está patente uma exposição dos parceiros da rede, como fabricantes, construtores e fornecedores dos produtos.
João Gavião revelou que, no dia dedicado à conferência (28 de Novembro), “oradores nacionais e internacionais vão fazer apresentações ligadas a Passivhaus mas que fazem ligações a outros conceitos. Ou seja, a ideia fundamental é ver a Passivhaus como a base para novas lógicas e filosofias para construir o futuro que queremos. Estamos a falar da Passivhaus como a peça fundamental para termos uma smartgrid, porque pode integrar a questão da produção de energia, gestão e armazenamento de energia e a mobilidade eléctrica. Neste caso, uma microgrid, à escala de um edifício ou à escala de uma pequena comunidade ou de um bairro. Esta integração faz todo o sentido pensando nas redes energéticas do futuro. Vamos também pensar a Passivhaus como base para abordagens em termos ambientais e de sustentabilidade mais largas, que procuram ter em linha de conta também o ciclo de vida dos materiais, a pegada ecológica e a energia incorporada. Portanto, esta conferência vai focar não só a questão do desempenho puro e duro, energético e térmico, mas também ter estas outras dimensões sempre presentes. A Passivhaus permite ter uma base que pode depois fazer as ligações a outras abordagens”.
Mas o que é, afinal, a Passivhaus (ou Passive House)? A Associação Passivhaus Portugal explica a abordagem como “um conceito construtivo que define um padrão de elevado desempenho que é eficiente, sob o ponto de vista energético, saudável, confortável, economicamente acessível e sustentável.”. Os edifícios que correspondem a esta norma são caracterizados pelo elevado isolamento, boa qualidade do ar interior e conforto térmico, contribuindo para o bem-estar e saúde dos seus ocupantes. Sendo, segundo a Associação, “o mais elevado padrão de eficiência energética a nível mundial”, com poupanças energéticas a atingirem os 75 % em comparação com os edifícios convencionais e correspondendo, assim, à definição do NZEB – Nearly Zero Energy Building (edifício com necessidades quase nulas de energia).
Apesar de já existir há cerca de 30 anos, este conceito só começou a ser desenvolvido em Portugal em 2011 e, após ser definida a estratégia entre o Passivhaus Institut e a Homegrid (entidade que desenvolveu as primeiras casas), foi criada a Associação Passivhaus Portugal. A Associação tem tentado criar e fortalecer a rede Passivhaus em Portugal através da formação de profissionais como arquitectos, engenheiros, consultores, construtores, instaladores, etc. para que adquiram a certificação Passivhaus. Por sua vez, existe também uma abordagem ao público em geral, através da realização de eventos de entrada livre que dão a conhecer o conceito. O meio académico também está incluído nesta estratégia de divulgação, através da ligação da Associação a universidades, institutos, centros de investigação, assim como municípios e os governos. Não ficam também de parte entidades como a ADENE – Agência para a Energia, com a qual estabeleceram um protocolo recentemente. João Gavião refere que têm “procurado apresentar a Passivhaus como uma solução que tem provas dadas. Não estamos a falar de um conceito teórico, é um conceito validado em Portugal e que corresponde à excelência, em termos do desempenho, que é possível ter num edifício. Estamos a falar de conforto térmico, eficiência energética, conforto acústico, qualidade do ar e ausência de patologias, um aspecto fundamental. Com isto conseguimos ter bons ambientes interiores. E isto liga-se a ao tema da relação entre a saúde e os edifícios que habitamos. A Passivhaus dá uma resposta cabal, quer em termos de qualidade do ar, [quer em termos de] condições de conforto e de humidade e já responde a tudo isso há 30 anos. Portanto, é mesmo um conceito que oferece excelência em termos de desempenho, com edifícios que não matam ou adoecem as pessoas e que, em casos de sismos, vão manter-se estáveis e preservar bens e vidas”.
Apesar de todas as vantagens e com um balaço positivo do lado “de quem procura”, como os clientes finais (sobretudo estrangeiros) mas também promotores e investidores, a Associação Passivhaus Portugal considera que, da parte da entidade legisladora, os sinais são “insatisfatórios”, com a transição para a lei nacional da Directiva europeia para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) a ficar aquém das ambições da lei comunitária. Assim, e para sensibilizar também os partidos com assento parlamentar para o que está em causa, a Associação elaborou um “Manifesto Passive House para todos”, no qual explica as vantagens deste sistema nos edifícios. Ainda assim, há um longo caminho a trilhar para se atingir em Portugal o que já é obrigatório a nível europeu: edifícios energeticamente eficientes e confortáveis para quem neles habita.