É a primeira de 100 comunidades de energia que a Cleanwatts quer implementar em Portugal nos próximos meses e foi inaugurada ontem. A iniciativa junta a empresa tecnológica de soluções de energia e a Santa Casa da Misericórdia de Miranda do Douro (SCMMD), que, segundo a própria, será a primeira instituição a fazer parte de uma comunidade deste tipo em Portugal.
O projecto terá como base a energia solar, aproveitando uma capacidade de 76 kW instalados em quatro edifícios desde Setembro de 2020 e recorrendo ao Sistema Operativo para Comunidades de Energia – uma solução desenvolvida pela Cleanwatts e que é suportada por uma Virtual Power Plant. Com a solução, é possível agregar “uma ampla gama de cargas de energia para permitir serviços de balanceamento da rede e flexibilidade, através da integração nas redes de distribuição”.
Nesta nova comunidade de energia em Miranda do Douro, a instalação, que actualmente permite à SCMMD gerir a energia que consome durante “praticamente todo o Verão” e reduzir os seus gastos energéticos em, pelo menos, 10 %, irá alimentar a SCMMD, assim como dois lares pertencentes à instituição, que, muito em breve, serão membros consumidores desta comunidade. “Em conjugação com o programa Cem Aldeias, a Cleanwatts vai agora agregar mais membros, nomeadamente nas aldeias onde a SCMMD tem o Lar Duas Igrejas e o Lar de Palaçoulo”, explica a empresa.
O projecto assenta num modelo de contrato de partilha de benefícios, sendo que o investimento inicial foi assegurado pela Cleanwatts, sem qualquer custo para a SCMMD. “Os equipamentos instalados são de fornecedores de primeira linha, e o software de gestão – Kisense – é propriedade da Cleanwatts, que o desenvolveu e através do qual gere a energia de cerca de 2000 edifícios em Portugal”, avança. Desta forma, cabe à empresa tecnológica a manutenção e o funcionamento optimizado do sistema desta comunidade, em contínuo, fazendo mensalmente a facturação da energia solar gerada ao cliente.
Com o apoio da Cleanwatts, a SCMMD vai também ser alvo de medidas de eficiência energética “e vai procurar formas de gerar mais energia limpa na comunidade de forma que possam aproximar-se da neutralidade carbónica total”. Segundo explica a empresa, estas práticas fazem parte de um roadmap para a neutralidade carbónica que é desenvolvido com as comunidades de energia que usam o sistema operativo e beneficiam, assim, do conhecimento proporcionado pelas soluções de monitorização e gestão de energia.
“Estamos orgulhosos de ser a primeira instituição com uma comunidade de energia em Portugal, acreditamos ser uma vantagem não só para a instituição como também para todos os membros da comunidade envolvente. A Cleanwatts teve uma colaboração muito próxima e a sua proposta não exigiu investimento, pelo que claramente recomendaria esta opção a outras instituições, de modo a reduzir custos de energia bem como a pegada carbónica”, avança Armênio Gomes, vice-provedor da SCMMD.
“Estamos particularmente orgulhosos desta conquista histórica, especialmente devido ao impacto social positivo que este projecto terá na comunidade”, disse, em comunicado, Michael Pinto, CEO e cofundador da Cleanwatts. “Numa altura em que os preços da energia estão a disparar em toda a Europa, é importante realçar que as comunidades da energia representam uma solução eficaz para dois enormes desafios: as alterações climáticas e a pobreza energética”, defende.
A possibilidade para a criação desta nova comunidade de energia, inaugurada ontem, surge no âmbito do regime jurídico aplicável ao autoconsumo de energia renovável, em vigor desde 2019 através do Decreto-lei n.º 162/2019, e do recentemente aprovado regulamento para a actividade.