O mais recente relatório da EHPA examina os obstáculos financeiros que têm travado uma adopção generalizada das bombas de calor e sugere algumas soluções para inverter o retrato actual deste sector.
“As bombas de calor são um substituto eficiente e renovável para as caldeiras à base de combustíveis fósseis: são funcionalmente equivalentes, mais eficientes e de base renovável, fornecem aquecimento e água quente sanitária e as unidades reversíveis também podem fornecer arrefecimento para dias de calor, o que melhora a eficiência e acrescenta conforto adicional ao utilizador”, começa por referir o relatório “Financiamento de bombas de calor – obstáculos e soluções” da Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA).
Sendo um sistema eficiente e versátil, porque é que não se trata de uma opção atraente que leve os consumidores a mudar? A resposta acaba por ser simples: o custo. “Embora, inicialmente, as bombas de calor custem mais do que uma caldeira a gás, no passado ganhavam frequentemente a longo prazo devido aos seus custos operacionais muito mais baixos. No entanto, nos últimos tempos, esta trajectória tem sido alterada em vários mercados devido à descida dos preços dos combustíveis fósseis e ao aumento dos custos da electricidade”, explica o relatório. O resultado? Uma relação preço/energia menos favorável para as bombas de calor.
Como reduzir os custos?
Sendo esta a realidade actual das bombas de calor, a EHPA apresenta algumas abordagens para reduzir os custos e, consequentemente, incentivar a adopção destes sistemas:
- O sector e os decisores políticos devem sensibilizar para o custo total de propriedade (valor que define o custo total de um produto ao longo da sua vida útil) e para os benefícios secundários dos sistemas de bombas de calor: “os factores influenciadores são o aumento da eficiência a custos actuais e as reduções de custos ao longo da cadeia de valor que oferecem valor acrescentado ao consumidor, como a integração das bombas de calor no sistema de ventilação do edifício, a utilização de electricidade gerada no local, a utilização do calor residual proveniente dos processos de arrefecimento para aquecimento e água quente sanitária”;
- Estabelecer objectivos a curto, médio e longo prazo numa trajectória de descarbonização. A nível europeu, a publicação do Plano de Acção para as Bombas de Calor e o desenvolvimento e aplicação dos planos nacionais em matéria de energia e clima (PNEC) são considerados passos importantes para o sector, incluindo investidores, fabricantes, instaladores e cidadãos. De acordo com o relatório, a nível nacional são igualmente necessárias políticas e medidas claras e coerentes. “Se for claro que as regiões serão desligadas da rede de gás, os investidores deixarão de escolher a tecnologia de combustão, no presente, para evitar a desvantagem de uma mudança de sistema no futuro”, refere a publicação.
O relatório indica que a relação entre o preço da electricidade e o do gás – o principal combustível fóssil utilizado para aquecimento na Europa – desencoraja frequentemente os agregados familiares de mudarem para bombas de calor, algo que dificulta o progresso para os objectivos de sustentabilidade. Assim sendo, para que sejam incentivadas a comprar bombas de calor, as pessoas precisam de ver um rápido retorno do investimento que precisa ser feito. Para que tal aconteça, a EHPA considera que a electricidade não deve custar mais do dobro do preço do gás.
O problema é que este não é o caso na maioria dos países europeus e vários são os factores que contribuem para esta situação, como os componentes da factura da eletricidade, incluindo o preço da energia, os custos da rede e os impostos e taxas, que afectam a estrutura global dos custos.
Que soluções existem?
No documento, a EHPA apresenta quatro sugestões para acelerar a implementação de bombas de calor. A primeira é eliminar das facturas de electricidade os impostos e taxas que não estejam relacionados com a energia (a contribuição audiovisual (CAV) paga juntamente com a factura de electricidade é exemplo disso).
Outra das possíveis soluções passa pela definição de um preço para as emissões de carbono, no sentido de reduzir práticas com elevada intensidade de carbono e encorajar o investimento em tecnologias com baixo teor de carbono, como as bombas de calor. Oferecer tarifas de electricidade mais baixas ou variáveis aos consumidores que optem por bombas de calor flexíveis é também uma estratégia que a EHPA considera que “não só promove a eficiência energética como também incentiva a integração de fontes de energia renováveis na rede, contribuindo para os esforços globais de descarbonização”.
Por último, a associação acredita que a finalização da revisão da Directiva Tributação da Energia poderia permitir que a electricidade fosse menos tributada do que os combustíveis fósseis.
Apesar dos desafios e barreiras que o sector das bombas de calor tem enfrentado, a EHPA finaliza o relatório convicta de que, “com esforços concertados dos decisores políticos, das partes interessadas da indústria e das instituições financeiras, e através da aplicação de políticas de apoio, mecanismos de financiamento e programas de incentivo, os consumidores e as empresas podem ser encorajados a mudar para a tecnologia das bombas de calor, contribuindo para os objectivos climáticos”.
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