As vantagens das coberturas verdes estão comprovadas e são uma ajuda na luta contra as alterações climáticas. No entanto, uma má instalação desta solução pode trazer mais desvantagens do que vantagens. Para que nada falhe, seja no projecto, seja na sua execução, a Associação Nacional de Coberturas Verdes (ANCV) lançou um Guia Técnico, com todas as informações necessárias.
Aplicação e finalidade das coberturas verdes e sua caracterização, as especificações de desenho e projecto, com aplicações práticas, os requisitos de construção, as operações de manutenção e a prevenção de riscos laborais são alguns dos muitos itens que compõem o primeiro Guia Técnico para Projecto, Construção e Manutenção de Coberturas Verdes. O manual foi apresentado nos dias 16 e 17 de Janeiro, em Coimbra e Lisboa, respectivamente, em duas conferências com oradores de várias áreas, que participaram no seu desenvolvimento.
Enquadradas nas chamadas soluções de base natural (NBS, da denominação inglesa Nature Based Solutions), a instalação de vegetação sobre coberturas já construídas apresentam uma série de utilidades, conforme explicou Paulo Palha, presidente da direcção da ANCV. São benéficas para os edifícios uma vez que lhes proporcionam um maior conforto térmico, e, por consequência, poupança de energia, por exemplo; mas também para as cidades, ao minimizar o ruído ambiente, contribuir para o arrefecimento e atenuar as ondas de calor e as consequências das cheias, ao reter parte da água das chuvas. Estes e outros benefícios são de tal modo reconhecidos que algumas cidades europeias, como Paris, obrigam já à implementação destas coberturas verdes nos edifícios.
As vantagens podem ser muitas, mas passam facilmente a problemas se as coberturas não forem bem implementadas, alertam os especialistas. Assim, Ana Mesquita, arquitecta e tesoureira da Associação, lembrou que, para se considerar a instalação de coberturas verdes, devem ser tidos em conta diversos factores, tais como a inclinação da cobertura, que não pode ser acentuada. Um dos erros mais cometidos, contou a especialista, passa pela manta de protecção, a base de tudo. Esta manta é fundamental, pois ajuda a impermeabilizar o edifício, mas também a reter água para as plantas. Ainda assim, a sua utilização é tão desvalorizada que chega a não ser utilizada em algumas coberturas verdes.
Este não é o único erro cometido, existem também relatos de elementos de drenagem vertical utilizados como elementos de drenagem horizontal, utilização de substractos ou a mistura de componente de sistemas fazem parte das falhas mais identificadas pela ANCV no que toca à implementação de coberturas verdes em Portugal. Falhas essas que, segundo a Associação, passam muitas vezes pelas várias nuances feitas em obra que diferem muitas vezes do projecto.
Na apresentação do Guia em Lisboa, esteve também presente o geólogo italiano Maurizio Crasso, especialista neste tipo de coberturas, que levou a sua perspectiva de Itália antes e depois da aplicação de padrões específicos de coberturas verdes. Crasso lembrou que por baixo de cada cobertura verde há sempre tecnologia.
Também a vice-presidente da ANCV, Cristina Matos Silva, marcou presença. A também docente do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, tem desenvolvido uma investigação centrada nas infra-estruturas verdes e, entre outros temas, na sua avaliação económica. Na apresentação do Guia explicou que os benefícios das coberturas verdes são maiores do que as suas desvantagens, que passam, essencialmente, pelo preço da instalação e da sua manutenção. Ainda assim, este factor leva a que o retorno financeiro seja negativo e os investidores privados não queiram investir. Para esta investigadora, a situação pode ser alterada através de incentivos.
Em representação da câmara municipal de Lisboa, Duarte Mata, arquitecto e adjunto do vereador do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia, realçou a importância das coberturas verdes, explicando que estas ajudam a minimizar o impacto das ondas de calor nas cidades, um fenómeno muito relevante actualmente, e já considerado um problema social devido ao pico de mortes que ocorrem nos 30 dias subsequentes. Para Duarte Mata, as coberturas são um bom complemento para as cidades, mas nunca um substituto dos espaços verdes, ao nível do solo, que estas devem ter.
Como referiu a ANCV, este primeiro Guia Técnico para Projecto, Construção e Manutenção de Coberturas Verdes, “um documento único para projectistas e municípios que queiram garantir qualidade das instalações de coberturas verdes”, foi lançado no seguimento do Programa do XXII Governo Constitucional, em que “é referida e incentivada a instalação de fachadas e coberturas verdes. Para tirar o máximo partido delas é necessário que os projectistas tenham conhecimento das especificidades técnicas dos seus constituintes”.
O Guia, de 184 páginas, serve assim para ajudar a evitar os erros que têm sido cometidos neste tipo de coberturas, desmitificar os problemas que muitos pensam que podem existir e incentivar à implementação de mais coberturas por todo o país. Como notas finais da conferência de apresentação, Paulo Palha lembrou que as características de um país fazem toda a diferença no resultado final de uma obra deste género e, por isso mesmo e tendo em conta que as especificidades de cada prédio são únicas, deve ter-se sempre em mente que as coberturas verdes são todas diferentes.
Defendendo que a “vegetação deve ser considerada um material de construção obrigatório”, Paulo Palha lembra que a luta das cidades (e do mundo) contra as alterações climáticas e os problemas que as suas consequências estão a causar são uma realidade. Como tal, se existe uma necessidade e uma solução que ajuda a diminuir estes problemas, esta deve ser usada.
O Guia Técnico para Projecto, Construção e Manutenção de Coberturas Verdes está disponível para qualquer pessoa que queira aprofundar os seus conhecimentos sobre esta matéria e pode ser adquirido enviando um e-mail para a Associação Nacional de Coberturas Verdes. (baseancv@greenroofs.pt). O manual contou com o apoio da ANQIP – Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais e o patrocínio da Ordem dos Engenheiros – Região Centro.
Foto: ©Argex S.A.