Projectar edifícios para o futuro e não para o passado, tendo em conta os efeitos das alterações climáticas – é a mensagem do especialista canadiano Michael Lacasse, durante a CEES 2021. O responsável do Construction Research Centre do National Research Council Canada (NRC) foi o primeiro keynote speaker do internacional evento que decorre até sexta-feira em Coimbra, com a organização do Itecons – Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade.

Numa participação à distância naquela que é a primeira edição desta conferência internacional dedicada à construção, energia, ambiente e sustentabilidade, Lacasse falou sobre o trabalho que tem sido desenvolvido relativamente à compreensão dos efeitos das alterações climáticas na durabilidade do ambiente construído no Canadá, mas cuja pertinência, ainda que com contextos diversos, se estende a todo o globo.

Perante o agravar da crise climática, com o aumento da frequência de eventos extremos, alterações das temperaturas e aumento da precipitação e de fenómenos convectivos, o especialista lembrou que o ambiente construído e os seus elementos – nomeadamente, os edifícios – vão estar expostos a estes efeitos e isso deve passar a ser acautelado pelos profissionais do sector.

A resposta está em “aumentar a resiliência dos edifícios”, demonstrou Lacasse, que elencou três etapas para alcançar esse objectivo. A primeira passa por entender as alterações que estão a ocorrer nas cargas climáticas, tendo em consideração tanto o histórico como as projecções para o futuro; de seguida, calcular, simular e prever os seus impactos ao nível da resistência dos componentes e dos sistemas (por exemplo, é expectável que os efeitos térmicos causem uma mudança no uso de energia ou na capacidade necessária dos equipamentos de climatização, ou ainda que a maior precipitação e ventos fortes acelerem a degradação dos elementos da envolvente e tenham impacto no desempenho hidrotérmico); por fim, o conhecimento gerado deve servir para criar ou actualizar normas, orientações, ferramentas e regulamentos, que irão enquadrar a actividade dos profissionais, quer para a construção de novos edifícios, quer para a reabilitação, tendo em conta a necessidade de uma maior resiliência. Para alcançar “edifícios resilientes ao clima”, diz o investigador, é necessária uma “abordagem sistémica para avaliar a resiliência e o desempenho de longo prazo dos edifícios”.

No caso particular do Canadá, os resultados desta investigação estão já reflectidos na actualização de normas e orientações, nomeadamente a CSA S478:19, que aborda a durabilidade dos edifícios. Paralelamente, está já disponível uma base de dados de simulações de edifícios em 12 cidades do Canadá, sendo que, em breve, estarão disponíveis projecções climáticas para cerca de 564 locais do país. Já a nível global, Michael Lacasse referiu também algumas normas em evolução, como são os casos da CIB W080 (Prediction of Service Life of Building Materials and Components) e da CIB W086 (Building Pathology). O responsável destacou ainda o novo grupo de trabalho da CIB TG97, que aborda a importância da introdução de soluções baseadas na natureza (NbS) em edifícios e comunidades e cuja reunião inaugural, virtual, acontece a 22 de Outubro, com a coordenação do próprio Michael Lacasse.

A CEES 2021 acontece por estes dias em Coimbra, mas pode ser também vista em modo remoto. O encontro tem como objectivo reunir investigadores, engenheiros, gestores e todos os agentes envolvidos em políticas de construção, energia e ambiente, num debate sobre a sustentabilidade do ambiente construído e durante o qual serão apresentados trabalhos científicos relevantes nestas matérias e que se espera que impactem a indústria da construção.