O crescimento das energias solar e eólica tem vindo a aumentar a um ritmo tão rápido que, pela primeira vez, segundo as estimativas do Institute for Energy Economics and Financial Analysis (IEEFA), o carvão, que há muito domina a rede eléctrica nos Estados Unidos, deverá ser ultrapassado em 2021. 

O crescimento bem-sucedido da energia solar e eólica nos Estados Unidos tem sido inversamente proporcional ao colapso do carvão naquele país. Segundo PJ Deschenes, sócio do Greentech Capital Advisors, um banco de investimento dedicado à energia limpa, entrevistado pela estação televisiva CNN, o carvão está a perder força mais cedo do que o previsto, estando para breve o próximo capítulo da transição energética.

O chamado rei da rede eléctrica foi, durante décadas, o alicerce da indústria da energia nos Estados Unidos, mas uma combinação de factores, desde as preocupações ambientais, passando pela concorrência e o envelhecimento das centrais eléctricas, acabou por causar uma forte diminuição na sua utilização. O preço barato do gás natural foi também decisivo e o declínio do carvão começou a ser sentido no final da década passada, acabando por ser destronado pelo gás natural em 2016, segundo dados revelados pela US Energy Information Administration.

Apesar de Donald Trump ter prometido salvar o carvão, a indústria continuou a cair e, no passado mês de Outubro, a Murray Energy, a maior empresa privada de extração de carvão dos Estados Unidos, faliu. Seguiu-se o fecho, em Novembro, da Navajo Generation Station, a maior central de carvão da zona Oeste do país. Este encerramento levou a que a electricidade do Sul do estado do Nevada passasse a ser livre de carvão.

Várias empresas de energia têm estado a substituir as antigas centrais de carvão por centrais eólicas e solares e as companhias públicas, como a PSEG (PEG) e a Xcel Energy (XEL), que dependiam do carvão, estão empenhadas em fornecer electricidade isenta de carbono.

Segundo dados da Agência Internacional de Energia, o consumo de carvão nas centrais de energia dos EUA deverá ser o mais baixo desde 1978. O que vai levar a que a participação de mercado do carvão caia abaixo de 22%, face aos 28% alcançados em 2018, tornando as centrais existentes ainda menos rentáveis.

Dennis Wamsted, analista do IEEFA, prevê que 2021 seja o “ano de transição” nos Estados Unidos, onde o carvão será suplantado por fontes renováveis, que incluem energia solar, eólica, hidroelétrica, biomassa e geotérmica. Num relatório, Wamsted afirmou que “o carvão e as energias renováveis ​​estão a caminhar rapidamente em direcções opostas” e, caso a transição não aconteça em 2021, “será, sem dúvida em 2022″.

Uma transição que já aconteceu no Texas, aquele que foi o primeiro estado do carvão e que, pela primeira vez na sua história, viu a energia eólica a ultrapassar o combustível fóssil na primeira metade deste ano.

Mas esta tendência não está a acontecer somente nos Estados Unidos. A produção global de electricidade a partir de carvão está prestes a cair para um recorde de 3 % em 2019, de acordo com a CarbonBrief, um site do Reino Unido que se dedica aos últimos desenvolvimentos sobre o clima e a energia, tanto em termos científicos como políticos.

Uma queda impulsionada pelas descidas históricas na Alemanha e Coreia do Sul, mas também pela primeira queda na Índia, em, pelo menos, três décadas e que acontece na altura em que as Nações Unidas, ao organizarem a Cimeira Sobre o Clima (COP25) alertaram para a falta de acção dos países para impedir que a temperatura do planeta suba para níveis quase catastróficos.

O Acordo de Paris não está a ser cumprido e os Estados Unidos, apesar de serem considerados um dos países mais poluidores do mundo, vão sair deste acordo por decisão da administração Trump, que considera que o cumprimento do acordo prejudicaria a economia dos EUA, restringindo os produtores domésticos, enquanto outros grandes poluidores, como a China, aumentam as emissões.

Apesar desta decisão, na COP25, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que está a decorrer em Madrid até 13 de Dezembro, a representante dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, prometeu que o Congresso norte-americano vai combater com urgência o aquecimento global, apesar da oposição do presidente a um pacto internacional. A porta-voz da Câmara dos Representantes afirmou que participa na Cimeira para dizer que os Estados Unidos continuam [no Pacto de Paris] e que quer mostrar o empenho dos democratas norte-americanos em combater a ameaça para a humanidade que é a crise climática.

Mesmo que todos os países cumpram agora o Acordo de Paris, não será suficiente para limitar a subida da temperatura média do planeta a um objectivo entre 1,5 e 2 graus Celsius acima dos níveis antes da Revolução Industrial. Segundo um relatório sobre o aquecimento do planeta divulgado na Cimeira, pela Organização Mundial de Meteorologia das Nações Unidas, a tendência de aquecimento da terra tem-se mantido desde os anos 1980, com cada década a ser sempre mais quente do que a anterior. E 2019, apesar de ainda não ter acabado, está previsto que seja o segundo ou terceiro ano mais quente desde que há registo. Espera-se, assim, que, da COP 25, saiam medidas que consigam chegar a tempo de impedir que a terra entre num estado irreversível.