A energia geotérmica poderá dar resposta a metade das necessidades de aquecimento e arrefecimento até 2030 – este é um dos argumentos que 150 empresas do sector dirigem à Comissão Europeia para incentivar a preparação de uma estratégia europeia para a energia térmica e para a extracção sustentável de matérias-primas até ao próximo ano. O apelo foi formalizado numa carta dirigida à presidente Ursula von der Leyen, datada de dia 11 de Abril.

“A Europa repousa numa quantidade vasta de energia geotérmica, que pode fornecer abastecimento permanente de energia, aquecimento e arrefecimento renováveis, bem como lítio e outras matérias-primas extraídas de forma sustentável, em todo o lado”, mas a energia geotérmica “continua subdesenvolvida e fora de vista dos decisores políticos europeus”, sublinha a carta dirigida a Bruxelas. Neste apelo à criação de uma estratégia europeia, as 150 entidades, entre as quais a EGEC – European Geothermal Energy Council, reforçam ainda a urgência da medida no actual contexto de dependência de gás russo e de necessidade de uma “rápida transição energética maximizando o uso de recursos locais”.

“Com as políticas certas”, a energia geotérmica tem o potencial de dar resposta a metade das necessidades energéticas para aquecimento e arrefecimento até ao final da década, diz a EGEC. Para chegar a esta conclusão, a  associação industrial aponta para a existência de reservatórios, mapeados em 2013, suficientes para aquecer 25 % da população europeia e para as bombas de calor baseadas em geotermia, que, de acordo com o relatório de 2021 da Agência Internacional de Energia, são uma solução de aquecimento renovável mais “custo-efectiva” do que o gás e outras tecnologias renováveis. 

A EGEC sublinha também que a ampla disponibilidade de energia geotérmica, e de fontes em todo o lado, associada a um longo ciclo de vida, representa uma “solução para cidades urbanas e rurais” custo-efectiva para a descarbonização em massa. E, nas palavras do secretário-geral da EGEC, Philippe Dumas, uma estratégia europeia irá “fornecer o foco político necessário para desbloquear barreiras” e alavancar o investimento privado nesta energia.

Tornar a energia geotérmica na “principal fonte de energia renovável”

Para as entidades signatárias, que incluem desde departamentos governamentais de gestão de recursos subterrâneos (Geological Surveys) e fornecedoras de serviços de climatização, até empresas multinacionais de serviços energéticos e ao sector financeiro, a estratégia deve ter como objectivo tornar a energia geotérmica na “principal fonte de energia renovável do mercado interno e dos países vizinhos”. Para isso, deverá, entre outras medidas, identificar barreiras, propor medidas para acelerar a implementação e para financiar projectos, incluir as infraestruturas de climatização e garantir a manutenção de padrões ambientais elevados. 

Desta estratégia, deverá ainda fazer parte um plano para a extracção sustentável de lítio e de outros minerais ou matérias-primas para acelerar a transição energética. Segundo a EGEC, a extracção com zero emissões é a base para o desenvolvimento de uma cadeia de valor de baterias de lítio na Europa.

Recorde-se que, em Abril de 2021, a indústria europeia do aquecimento e arrefecimento renovável, incluindo a associação industrial EGEC, tinha enviado uma carta aberta a Bruxelas a pedir metas vinculativas e planos nacionais para a descarbonização do sector nos edifícios europeus. Com o ataque da Rússia à Ucrânia e com o nível de dependência europeia perante o gás russo, o debate da transição energética no sector ganhou fôlego, impulsionando o programa europeu REpowerEU, avançado em Março deste ano, no qual a energia geotérmica não aparece destacada.