Desde 2000, o peso da biomassa no sector do aquecimento tem crescido, entre as restantes energias renováveis, “perto de 3 %” ao ano. A conclusão é do mais recente relatório anual da associação Bioenergy Europe, que revela que, em 2018, a bioenergia representava já 85 % da energia renovável utilizada para fins de aquecimento.

A Bioenergy Europe, associação que dá voz aos interesses do sector europeu da biomassa, lançou, no início de Setembro, o seu relatório anual deste ano. Focado na temática da utilização da bioenergia para aquecimento, o documento vem sublinhar aquele que considera ser o “papel essencial, embora negligenciado, do sector do aquecimento e arrefecimento” para a concretização da meta presente no Pacto Ecológico Europeu para 2050, que prevê que o continente seja, até esse ano, o primeiro a alcançar a neutralidade carbónica. Apesar de os planos nacionais para a energia e clima dos Estados-Membros da União Europeia (UE) preverem um aumento da importância das energias renováveis no total da energia produzida dos “actuais 19,7 %” para 40 % em 2030, a Bioenergy Europe, que representa mais de 40 associações e 90 empresas europeias do sector energético, avisa que esta meta “deve ser revista em alta para se alcançar a neutralidade carbónica em 2050”.

Para a associação europeia, a resposta para a descarbonização do sector do aquecimento pode ser encontrada no recurso à biomassa. “Não reconhecer o papel de equipamentos de aquecimento desactualizados e ineficientes para as emissões de gases com efeito de estufa tem o potencial de afectar a capacidade de a UE alcançar as suas metas climáticas”, lê-se na nota de lançamento do relatório anual da Bioenergy Europe.

Segundo a associação sem fins lucrativos, “existe uma necessidade incontestável de uma maior penetração de soluções de energias renováveis e de uma maior eficiência energética” no sector do aquecimento. No relatório, a organização sublinha o facto de, em 2018, 79 % das fontes de energia para o sector do aquecimento ainda provirem de combustíveis fósseis e aponta a biomassa como uma “solução eficaz para o aquecimento residencial e para os processos industriais”, sendo “acessível, eficiente e abundante”.

O mais recente relatório estatístico da Bioenergy Europe dá conta de um crescimento médio anual do peso da biomassa no sector do aquecimento, relativamente às restantes fontes renováveis, de “perto de 3 %” desde 2000. Em 2018, revela o documento, a bioenergia representava já 85 % do total de energia renovável utilizada para fins de calor na Europa.

No sector do aquecimento residencial, a bioenergia representa, actualmente, apenas 49 % da energia renovável consumida. Neste sector, a associação europeia aponta a “modernização, correcta manutenção e instalação” de sistemas de aquecimento domésticos como “chave para a redução das emissões”. Neste sentido, a entidade europeia considera que a Renovation Wave – iniciativa da Comissão Europeia para a reabilitação energética do parque edificado europeu até 2050 – “precisa de apoiar e promover a substituição e modernização de instalações residenciais velhas e ineficientes por equipamentos de biomassa modernos e de alta qualidade”. O relatório recomenda ainda a implementação de redes de aquecimento urbano para a “integração inteligente do sector”.

Já no sector industrial, a biomassa representa 99 % da energia renovável utilizada para a produção de calor, facto que a associação classifica de “notável”.

Poderá a biomassa ter um “efeito perverso no clima”?

No passado mês de Agosto, o Conselho Consultivo das Academias de Ciência da Europa (EASAC) alertou para aquele que considera ser o “efeito perverso” da biomassa no clima. O órgão da academia de ciência europeia considera que “trocar o carvão pela biomassa nas centrais energéticas muitas vezes não reduz, ao invés, aumenta as emissões para a atmosfera”.

Michael Norton, director do programa ambiental da EASAC, considera que “a classificação da biomassa florestal enquanto renovável tem um efeito perverso no clima”, já que, sublinha, “grande parte da biomassa utilizada na Europa é tudo menos neutra em carbono”.