Gonçalo Byrne é um dos arquitectos mais prestigiados no nosso país. Com uma extensa obra que começa logo a seguir ao 25 de Abril, a sua marca deixou rasto desde logo. Hoje, é candidato à presidência da Ordem dos Arquitectos e a bandeira da sustentabilidade acompanha-o em todos os seus projectos.
Multidisciplinariedade, convergência nas soluções e respeito pelo meio envolvente mantêm-se de pedra e cal nos dias de hoje em qualquer intervenção coordenada por Gonçalo Byrne. A engenharia é outra das suas bandeiras por cá, em Itália, na Suíça ou na Bélgica, apenas alguns dos países onde tem trabalho feito. “Costumo dizer muitas vezes que, sem os engenheiros, não teria feito as obras que fiz. Porque a arquitectura é uma profissão generalista. Sabe de tudo um pouco, mas não sabe o suficiente”.
Filho de um engenheiro, Gonçalo Byrne é muito sensível à questão da tecnologia, mas, reforça, “as coisas têm de ser vistas da maneira correcta”. A questão da sustentabilidade e da tecnologia que está aplicada na construção “é uma história mal contada”, denuncia. E recorda: “Eduardo Souto Moura disse uma coisa que nunca mais esqueci: ‘Um bom projecto de arquitectura é, por definição, sustentável´. Eu estou de acordo com ele se o projecto de arquitectura estiver atento às questões da sustentabilidade, o problema é que, muitas vezes, não está. A boa arquitectura pode ser espectacular, bem integrada, poética, mas, desse ponto de vista, pode ser um tiro no pé”.
Numa conversa com a nossa revista Edifícios e Energia a publicar na próxima edição, a reflexão sobre a questão da sustentabilidade foi transversal em todos os assuntos. Alinhado com este rigor, Gonçalo Byrne lembra-nos, a este respeito, que, na leitura francófona do conceito, a palavra sustentabilidade não é usada. E explica: “Nestes países, fala-se de desenvolvimento durável. Nunca se fala em sustentabilidade. Isto é muito importante, porque, quando falamos em sustentabilidade, esquecemo-nos de mencionar um dos factores mais importantes que tem a ver com o aumento do ciclo de vida dos edifícios, a sua duração”. Uma realidade que nós conhecemos em Portugal durante muitos anos e pelas piores razões, “o tempo da construção descartável no nosso país onde valia tudo”.
Sobre a actual situação económica motivada pela pandemia que domina o mundo e a sociedade, Gonçalo Byrne está confiante e garante-nos que o mercado continua a desenvolver-se mesmo durante estes últimos meses. “Há clientes na hotelaria que aproveitaram para investir e tudo indica que há uma retoma no horizonte, mesmo depois desta pancada brutal que estamos a levar, vamos ver se a evolução resiste do ponto de vista financeiro e da liquidez”.
Para breve, este arquitecto terá outro desafio no caso de ganhar as eleições à Ordem dos Arquitectos. “Para além de servir, representar e defender os arquitectos, a Ordem deve incutir na sociedade uma noção da Arquitectura enquanto direito dos cidadãos e garantia de qualidade de vida e de valorização do território, da cidade, do património e da paisagem. Para tal, promoveremos uma maior, mais proactiva e efectiva intervenção no espaço público político e mediático”, lê-se num dos pontos de candidatura do movimento “Pelos arquitectos e pela arquitectura”, dirigido por Gonçalo Byrne. Se assim for, a engenharia e a sustentabilidade poderão ter mais um aliado de peso.