A APESEnergia (Associação Portuguesa das Empresas de Serviços de Energia) e a sua congénere espanhola, ANESE (Asociación Nacional de Empresas de Servicios Energéticos), vão colaborar na partilha de conhecimentos e experiências no sentido de alavancar o mercado dos serviços de energia na Península Ibérica. Para além de promover a actividades das empresas do sector (ESE), a colaboração pretende ainda defender os interesses do mercado junto das entidades governamentais e regulatórias nos dois países.
O acordo entre as entidades prevê a realização de acções conjuntas e de iniciativas de cooperação e formação para a expansão das ESE associadas. Nos planos das entidades, está já prevista a organização de webinars, workshops, grupos de trabalho e conferências. Um dos primeiros resultados deste acordo vai estar visível na edição deste ano do Observatório de Eficiência Energética, uma publicação da ANESE que avalia o mercado dos serviços de energia no país vizinho e que, desta vez, incluirá também dados da realidade portuguesa.
Segundo a APESEnergia, “a assinatura deste acordo surge num momento de crescimento” da associação “em termos de associados, bem como no número de iniciativas”. Entre estas, destaca-se a parceria realizada com o Banco BBVA e que consiste numa assessoria especializada em eficiência energética.
Ao unir esforços com a ANESE, o presidente da associação portuguesa, Jorge Borges Araújo, acredita que será possível “explorar sinergias e replicar exemplos de sucesso”, assim como “alavancar a cooperação e acção das ESE associadas que operam no mercado ibérico, por forma a dinamizar os investimentos necessários à transição energética para que se atinjam os objectivos nacionais e europeus em termos de descarbonização”.
“Para a ANESE, é com grande satisfação que começamos a trabalhar com a APESEnergia para partilhar experiências e know-how a nível regulatório, de projectos e de financiamento”, afirmou, por sua vez, Carlos Ballesteros, director da ANESE, admitindo que, assim, será possível “contribuir para que o crescimento das ESE de ambos os países e o mercado de serviços de energia na Península Ibérica se desenvolvam cada vez mais, seguindo o caminho da transição energética e os objectivos da União Europeia e do Acordo de Paris”.
ESE em Portugal
A APESEnergia surgiu em 2011, numa altura em que o mercado dos serviços de energia, com base em contratos de desempenho energético, dava os primeiros passos no país, impulsionado pelas expectativas em torno do programa de eficiência energética na Administração Pública, ECO.AP. No entanto, foram várias as barreiras à sua concretização, incluindo a crise económica da altura, levantando constrangimentos ao investimento, dificuldades técnicas na implementação e a queixa por parte das ESE relativamente a um modelo “pouco equilibrado em termos de responsabilidades e garantias das partes”.
As expectativas do programa, em particular no que se refere à melhoria da eficiência energética nos edifícios públicos, acabaram por sair defraudadas. Numa entrevista recente à Edifícios e Energia, Jorge Borges Araújo explicava que, no modelo inicial do ECO.AP, “as ESE tinham de assumir muitos custos para além do que seria lógico num projecto de eficiência energética, mas o principal problema foi o completo desinteresse do Estado em avançar com projectos”. Quase dez anos depois, em Novembro do ano passado, o Governo aprovou a continuidade da iniciativa, mas com algumas novidades, entre elas novos modelos de contratualização e a junção da componente de eficiência hídrica à eficiência energética.
Apesar disto, no privado, o mercado dos serviços de energia em Portugal tem vindo a evoluir, em actividades como a indústria ou hotelaria, e é, hoje, “muito mais maduro”. “As pessoas e as empresas já perceberam que podem alcançar ganhos de rentabilidade com a eficiência energética. Temos empresas, técnicos, capacidade instalada, competência e empresas multinacionais a entrar no país e interessadas neste mercado. Temos todas as condições, só precisamos de que o Estado queira que a eficiência energética seja uma realidade”, defende o responsável da APESEnergia.
Borges Araújo acredita também que o sector tem um papel a desempenhar na recuperação económica necessária: “A APESE e as ESE podem ser um activo muito importante para agilizar os investimentos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência e no novo quadro comunitário e fazer chegar rapidamente as soluções às empresas e ao sector público”, concluiu.