No dia 25 de Novembro, a Coopérnico, cooperativa portuguesa de energias renováveis, assinalou os dez anos de existência com uma sessão sobre cooperativas de energia e outra sobre diferentes experiências de cooperativismo. João Crispim, presidente da direcção da Coopérnico para 2024-2027, que esteve presente nas celebrações em Telheiras, parte das vantagens deste modelo para abordar o caminho que tem sido feito e o que ainda falta fazer neste contexto.
Na primeira apresentação, Dirk Vansintjan, presidente da Rescoop.EU (Federação Europeia das Cooperativas de Energia), disse que há menos cooperativas de energia no Sul (e no Leste também) da Europa. Porque é que isto acontece?
Há certamente vários factores políticos, económicos e culturais que podem justificar o crescimento muito desigual desta forma de organização cooperativa. Ainda assim, com os bons exemplos dados pelo Dirk e a nossa participação na Rescoop.EU não temos dúvidas sobre a aplicabilidade do modelo e as vantagens para os cooperantes e para a sociedade em geral que este modelo traz. Aplicado ao sector energético, está demonstrada a vantagem na aceitação popular pela energia renovável, na capacidade de mobilização de temas conexos como a eficiência energética e na dinamização da economia local. É também um passo na direcção certa da descentralização e organização de baixo para cima, que é uma parte integrante de como vemos o futuro do sector.
A Coopérnico celebrou dez anos de existência. Como se compara a realidade de hoje com essa de há uma década? Que evolução tem havido nas questões que dizem respeito à energia e às comunidades energéticas?
Há dez anos, as comunidades de energia eram ficção. Os equipamentos tinham outros custos e a digitalização do sistema energético em baixa tensão estava na infância. O autoconsumo individual estava a arrancar. Foram, entretanto, dados passos muito importantes no sentido certo. Embora lentamente, e certamente muito tarde. Mas avançou-se na digitalização da energia, com contadores inteligentes. A legislação também deu um passo, mas a regulamentação e a capacidade de resposta das instituições tarda ainda, dificultando o que tem de ser fácil e atrasando o que tem de ser rápido. Do ponto de vista social, a informação flui, e entidades como a Coopérnico têm tido um papel muito activo, tanto na divulgação, como em estabelecer [projectos] pilotos que têm vindo a demonstrar ineficiências e desafios na forma de implementação, que depois procuramos resolver com as instituições. Nesse sentido, também entidades como a ERSE ou a DGEG têm tido papéis interessantes, e têm tido a abertura para analisar e dar resposta ao que nós, do lado do cidadão, sofremos.
O que prevê ou ambiciona para o futuro do sector das cooperativas de energia e para a Coopérnico, em particular? Quais os desafios e as oportunidades?
Ambicionamos um reconhecimento da diferença. O nosso impacto é local, e a nossa proximidade aos cooperantes é a nossa força. Queremos crescer, e estes dez anos de aprendizagem apontam na mesma direcção que o Dirk mencionou: a segurança das cooperativas de energia vem do acesso a activos de produção em mercado que permitem segurar os cooperadores-clientes mesmo em tempos de volatilidade de mercado. Nas condições actuais, e sem esse reconhecimento, estamos fora da nossa natureza, competindo em vez de cooperar.