A economia circular ocupa um espaço privilegiado nas estratégias de sustentabilidade, o que se tem reflectido no desenvolvimento de directivas europeias, por exemplo, no que diz respeito ao ecodesign para produtos sustentáveis ou ao direito à reparação de bens de consumo. Em Portugal, há um projecto desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), pela IAPMEI, I.P. – Agência para a Competitividade e Inovação e pela APA – Agência Portuguesa do Ambiente para promover a economia circular no design de produtos e negócios. Para perceber melhor em que consiste a iniciativa CIRCO Hub Portugal e como é que se cruza com o sector dos edifícios, convidámos Cristina Rocha, coordenadora do projecto e investigadora do LNEG, que sublinha que neste sector “o design circular tem aplicabilidade a vários níveis” e é vantajoso para as empresas.

Em que consiste a metodologia de design circular promovida pelo Circo Hub Portugal e qual o seu enquadramento em Portugal?

O projecto CIRCO Hub Portugal é um programa de capacitação e transformação dirigido a empresas e a designers, orientado para o desenvolvimento de produtos e negócios circulares. Trata-se da implementação em Portugal do programa internacional CIRCO (Creating Business through Circular Design), desenvolvido originalmente nos Países Baixos em 2015 com uma elevada taxa de sucesso. Em Portugal, o projecto é financiado pelo Fundo Ambiental e o consórcio é composto pelo LNEG (coordenador), pela IAPMEI e pela APA.

O CIRCO aplica o design e design thinking ao desenvolvimento de produtos, serviços e modelos de negócio circulares, trabalhados em sessões criativas e colaborativas. As empresas que aderem ao CIRCO Hub Portugal participam activamente em três workshops distribuídos ao longo de um mês (designados por track de design de negócios circulares CIRCO):

  • Dia 1 – Iniciação: identificar oportunidades na cadeia de valor atual: onde se verificam as maiores perdas de valor (económico, ambiental e social)?
  • Dia 2 – Ideação: qual ou quais os modelos de negócio mais favoráveis à captura e retenção de valor? Quais as suas implicações para o design de produto?
  • Dia 3 – Implementação: quais as principais actividades para passar à prática? E como convencer os stakeholders internos ou externos?

No final de cada track, os participantes terão desenvolvido um roteiro concreto para pôr em prática um produto, serviço e/ou modelo de negócio circular. É de salientar que este percurso formativo foi considerado enquadrado no conceito de “formação profissional contínua” ministrada no contexto laboral, dando, assim, lugar à emissão de certificado e a registo na Caderneta Individual de Competências, nos termos do regime jurídico do Sistema Nacional de Qualificações.

Existe também uma vertente do CIRCO orientada para designers, igualmente certificada, que consiste em dois workshops de meio dia.

As inscrições para empresas e designers ainda estão abertas, bastando para o efeito preencher o formulário de inscrição disponível em www.circohubportugal.pt.

No âmbito do CIRCO Hub Portugal, o LNEG avançou que tem como objectivo formar 100 empresas em ecodesign e que já foi organizada uma formação orientada para a construção. Que oportunidades é que estes modelos circulares podem trazer às empresas portuguesas do sector dos edifícios?

No sector dos edifícios, ou, de forma mais alargada, do habitat, o design circular tem aplicabilidade a vários níveis: produção dos materiais de construção, produção de mobiliário e equipamentos que integram os edifícios e o próprio projecto dos edifícios. Com o crescimento de soluções pré-fabricadas, esse potencial é ainda maior. Sendo o sector da construção bastante intensivo em termos de recursos e de resíduos em Portugal, são produzidas anualmente cerca de 1,5 toneladas de resíduos de construção e demolição , a aplicação de estratégias de design circular que permitem que os edifícios possam ser “desmontados”, em vez de demolidos, tem um enorme potencial de circularidade. Verifica-se que a grande maioria dos materiais de construção que são concebidos para serem desmontados podem, efectivamente, ser reutilizados.
O design circular define o potencial de redução, reutilização, reparação, remanufactura e reciclagem dos produtos utilizados na construção. Através do design circular, é possível [o seguinte]:
  • Desenvolver soluções que se adequam à necessidade de maior flexibilidade e adaptabilidade dos edifícios;
  • Seleccionar materiais mais sustentáveis e que possam ser facilmente separados para uma gestão mais sustentável;
  • Desenvolver produtos de construção que permitam uma desconstrução não destrutiva.

O pensamento de design aplica-se não só aos produtos, mas também aos modelos de negócio. No sector da construção vão aparecendo soluções inovadoras em que determinados elementos construtivos são alugados ou alvo de uma subscrição, por exemplo, na área da iluminação, como é o caso de pay per lux.

Com estas soluções, a grande vantagem para as empresas consiste em dissociar receita de produção. Com os custos e a disponibilidade de matérias-primas, bem como os custos de energia, a crescerem, a adopção do design circular permite às empresas poupanças directas, a conquista de novos mercados, cada vez mais exigentes, e a preparação para requisitos legais com metas cada vez mais exigentes em termos de eficiência energética e material do sector.