Sob o mote “Rumo ao futuro”, a EFRIARC – Associação Portuguesa dos Engenheiros do Frio Industrial e Ar Condicionado realizou, ontem, no Hotel Ramada Lisbon, o 24.º Seminário de Outono. Durante o evento, Lennart Østergaard, senior manager da associação dinamarquesa VELTEK Ventilation, falou das crescentes exigências que se têm colocado ao nível dos edifícios como um todo e do seu impacto para a qualidade do ambiente interior (IEQ).

Os edifícios têm um impacto significativo no clima e, por isso, a discussão sobre a sustentabilidade não tem deixado de fora requisitos de desempenho climático para o ambiente construído cada vez mais exigentes. A nova Directiva para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD), embora ainda esteja sob revisão, vai orientar nesse sentido.

Lennart Østergaard, que além de senior manager da associação dinamarquesa VELTEK Ventilation é também chairman da Eurovent Commission, aproveitou o mote do 24.º Seminário de Outono da EFRIARC para perspectivar, precisamente, o futuro destes requisitos no que diz respeito à IEQ. “Temos de ter uma boa IEQ com o menor impacto ambiental”, “em todos os edifícios”, sublinhou.

Realçando a necessidade de se “ser proactivo” nesta matéria, o especialista partilhou, na sua apresentação, o caso dinamarquês. Como parte da estratégia nacional para um sector da construção mais sustentável, as autoridades dinamarquesas publicaram um conjunto de requisitos de sustentabilidade suplementares e voluntários aos já existentes nos regulamentos relativos aos edifícios. 

A iniciativa, conhecida como frivillige bæredygtighedsklasse ou Voluntary Sustainability Class, inclui, entre os requisitos, alguns que se cruzam com a IEQ, como é o caso de um plano de manutenção do clima interior ou como lidar com o ruído e com químicos problemáticos, levando Lennart Østergaard a afirmar que a sustentabilidade “é uma oportunidade”.

“A sustentabilidade pode aumentar o foco na IEQ”, destacou, acrescentando que isto terá implicações para a indústria AVAC, muito além da fase de utilização com a redução de consumos. “Não nos podemos focar só na superfície. Temos de nos focar nos materiais. (…) O impacto ambiental dos produtos tem de ser considerado”, cenário em que as Declarações Ambientais de Produto (DAP) e as Avaliações de Ciclo de Vida (ACV) se apresentam como aliadas.

Nesta perspectiva mais holística dos edifícios, em que se discute também aplicar um Potencial de Aquecimento Global (PAG) limite aos edifícios, as instalações, que “actualmente têm um peso de 8 % no PAG dos edifícios”, passarão a contribuir, em 2030, para “19 %” do PAG dos edifícios, referiu o responsável.

Neste contexto, Lennart Østergaard destacou também que a Dinamarca está a avançar no sentido de aplicar diferentes limites de PAG aos edifícios, consoante serem edifícios novos grandes ou pequenos ou edifícios sob renovações. “Na Suécia também estão a planear introduzir um PAG limite, como na Dinamarca, mas diferenciado por tipo de edifícios [serviços, residencial, etc.]”, adicionou.

Outros destaques do Seminário de Outono da EFRIARC

No 24.º Seminário de Outono da EFRIARC, com três blocos temáticos, houve ainda lugar a reflexões sobre o impacto das políticas do pacote Fit for 55 na climatização, a renovação energética dos edifícios, a ACV, a economia circular, a pré-fabricação, a literacia energética, os gases fluorados, a evolução dos fluidos refrigerantes naturais, a eficiência energética, o Sistema de Certificação Energética dos Edifícios (SCE) e a importância da qualificação dos técnicos deste SCE.

Quanto a este último ponto, Jorge Marques, director de Formação, Informação e Educação da ADENE – Agência para a Energia, adiantou que se está a desenvolver uma metodologia para apoiar e começar a qualificar e certificar Técnicos de Inspecção de Sistemas Técnicos (TIS), o que, nas suas palavras, “vai exigir articulação com todos os stakeholders”. 

Além desta formação, Jorge Marques diz que a ADENE tem vindo a apostar no alargamento de competências, promovendo formações na área da sustentabilidade, dedicadas a ESG, LEED, qualidade do ar interior e BIM, por exemplo, parcerias com outras entidades – estando actualmente a ser fechado um protocolo com a Associação Americana de Engenheiros de Energia (AEE) –, e diversas outras iniciativas.

Exemplos dessas iniciativas são, com o apoio do IEFP e da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, a criação de um Centro de Formação para a Transição Energética, e a dinamização do Programa Trabalhos & Competências Verdes. Este último já recebeu, segundo Jorge Marques, 41 pedidos para avaliação prévia, reflectindo um total de mais de 200 formações e de três mil formados.

O evento da EFRIARC, realizado ontem em Lisboa, ficou ainda marcado pela apresentação de um livro técnico sobre ventilação mecânica, pela assinatura de um protocolo entre a EFRIARC e a ASHRAE Portugal Chapter, e por uma sessão de homenagem aos associados com 20 anos de ligação à EFRIARC.