Nesta terça-feira, a Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA) lançou o relatório Innovation Landscape for smart electrification, onde se explora a electrificação inteligente com energias renováveis no uso de energia nos edifícios, na indústria e nos transportes e se apresenta uma caixa de ferramentas com 100 soluções para levar a cabo a descarbonização neste âmbito, 35 das quais dedicadas ao aquecimento e arrefecimento.

“A electrificação do uso de energia na indústria, nos transportes e nos edifícios com as energias renováveis é uma forma financeiramente efectiva de descarbonizar os sectores de uso final, aumentar a segurança do fornecimento, reduzir a dependência dos combustíveis fósseis importados e mitigar os riscos da volatilidade dos preços dos combustíveis, como aconteceu nos últimos anos”, refere a IRENA, num comunicado a dar conta da publicação do novo relatório sobre o tema.

Neste documento, a IRENA faz um balanço do estado da arte da electrificação em diferentes áreas, apresenta as metas necessárias para cumprir o cenário de limitar o aquecimento global em 1,5 ºC e avança com um conjunto de instrumentos que podem ajudar a inovar e a acelerar a descarbonização.

No âmbito do aquecimento e do arrefecimento, uma das componentes em destaque neste relatório, a IRENA conclui que “a electrificação, sobretudo do aquecimento [onde os edifícios e o sector industrial são responsáveis por 95 % da procura total], é a estratégia-chave para descarbonizar o aquecimento e o arrefecimento”. Isto acontece, explica a agência, porque o aquecimento ainda está pouco electrificado – “a maior parte do calor provém de combustíveis fósseis e de algum uso insustentável de biomassa”. 

No que se refere ao arrefecimento, a previsão é de que a procura aumente em 45 % até 2050, em relação a 2016, sendo que metade das necessidades estarão associadas ao arrefecimento de espaços – sobretudo em edifícios – e a outra metade à refrigeração industrial e comercial. No entanto, aqui, “uma vez que o arrefecimento já é predominantemente produzido por electricidade, os ganhos de descarbonização estarão associados a estratégias de electrificação inteligente em vez de maior electrificação”.

O que fazer no aquecimento e arrefecimento?

Ainda que diga que uma “estratégia inteligente eficaz dependa de múltiplas variáveis, como grau de flexibilidade do sistema energético ou da capacidade da rede”, a IRENA aponta, neste documento, para a necessidade de inovações a nível da electrificação inteligente de aquecimento e arrefecimento, avançando com 35 propostas para tal, distribuídas por quatro vertentes.

Numa primeira, da tecnologia e infraestrutura, são apresentadas como soluções as tecnologias de conversão (como bombas de calor de alta e baixa temperatura e tecnologia que utiliza resíduos de calor para energia), o armazenamento térmico, os sistemas de aquecimento e arrefecimento urbanos e a digitalização (IoT para a electrificação inteligente, inteligência artificial para previsão de procura deste tipo de necessidades energéticas, blockchain para transações, etc.).

Num segundo vector, relacionado com o desenho e com a regulação do mercado, são apresentados instrumentos no âmbito do mercado eléctrico, como tarifas dinâmicas, acordos de compra de energia flexível, e no âmbito de incentivos e regulamentos ao sector, por exemplo, normas e certificações para os equipamentos, programas de eficiência energética nos edifícios e na indústria, entre outros.

Na vertente de planeamento e operação do sistema, abordam-se duas questões: o planeamento integrado, onde são apresentadas como ferramentas o planeamento holístico para as cidades, os mapas de aquecimento e arrefecimento e o acoplamento de cargas de arrefecimento com a produção solar; e a operação inteligente, onde se inserem soluções para esta operação com inércia térmica, com armazenamento térmico sazonal, entre outros.

A última categoria diz respeito aos modelos de negócio. Serviços para o sistema eléctrico, agregadores, aquecimento e arrefecimento como serviço, modelos de recuperação de calor (por exemplo, de data centers ou de processos industriais ou ainda de fluxos de energia circular nas cidades) e ainda modelos para facilitar a criação de iniciativas onde a comunidade é proprietária são as propostas da IRENA, que avança também, no relatório, com orientações para a implementação das ferramentas deste toolkit.