O mais recente ManpowerGroup Employment Outlook Survey, divulgado na semana passada, projecta um crescimento nas contratações no próximo trimestre em várias áreas, incluindo a de energia, de construção e de imobiliário. A subida da procura, que deverá acontecer tanto a nível nacional como global, acontece, no entanto, numa altura em que as empresas procuram formas de combater a escassez de talento que atinge valores máximos a nível global desde 2010.
Segundo o último ManpowerGroup Employment Outlook Survey, a energia e utilities é um dos sectores com as perspectivas de contratação mais fortes para o segundo trimestre de 2023. Em particular, este estudo sobre o emprego que reúne dados de mais de 38 mil empregadores de 41 países indica que a projecção para a criação líquida de emprego nesta área deverá ser de +26 % globalmente. Em Portugal, o valor apontado é de +29 %, “uma projecção saudável, mas que, na comparação com o trimestre passado, traduz uma diminuição de 14 pontos percentuais”, refere o ManpowerGroup.
Além da energia e utilities, o sector de indústria pesada e materiais, que inclui a construção e agricultura, e o de finanças e imobiliário também apresentam perspectivas de crescimento em Portugal e também, de forma mais optimista, a nível global.
Em Portugal, enquanto o de indústria pesada e materiais apresenta uma projecção de +15 %, “mantendo-se estável face ao trimestre passado, com uma evolução de dois pontos percentuais, mas um abrandamento considerável de 15 pontos percentuais face ao período homólogo de 2022”, o sector de finanças e imobiliário situa-se nos +7 %, representando, no entanto, “uma queda de 11 e 18 pontos percentuais face ao trimestre anterior e ao mesmo período do ano passado, respectivamente”. Já globalmente, os valores são de +21 % e de +29 %, de forma respectiva.
Escassez de talento em alta
O ManpowerGroup salienta ainda que a intenção de contratar acontece numa altura em que se atravessa o maior período de escassez de talento desde 2010. Globalmente, esta dificuldade de encontrar talento está a ser reportada por 77 % dos empregadores, com a engenharia a ser a segunda área técnica mais procurada. O obstáculo da escassez de talento é sentida de forma semelhante nos três sectores mencionados – no de indústria pesada e materiais é igual à média global (77 %), no de finanças e imobiliário está um pouco aligeirado (73 %) e no da energia e utilities está agravado, com 79 %.
E nesta procura de talento o que é que as empresas mais procuram em termos de soft skills em cada sector? Os resultados do relatório apontam para três capacidades transversais a estes três sectores – pensamento crítico e competência analítica, capacidade lógica e de resolução de problemas, resiliência e adaptabilidade. Ademais, a criatividade e originalidade é muito valorizada nos sectores de energia e utilities e de indústria pesada e de materiais; a fiabilidade e auto-disciplina é procurada pela indústria pesada e de materiais, bem como pelo sector imobiliário, a colaboração e trabalho de equipa é particularmente importante para o campo da energia e utilities e, por fim, a liderança e influência social é um aspecto relevante para o sector imobiliário.
Neste panorama global de escassez de talento, Portugal é o quarto país a sofrer mais deste problema, com 84 % dos empregadores a sentirem este obstáculo – 62 % sentem alguma dificuldade e 22 % muita dificuldade. Este valor representa uma ligeira melhoria em relação ao ano de 2022, em que 85 % dos empregadores reportavam esta dificuldade de forma transversal a vários sectores e um pouco por todas as regiões do país (sobretudo, no centro e na área da Grande Lisboa).
*Segundo o Talent Shortage Survey 2023, também do ManpowerGroup, os sectores nacionais de energia e utilities, de indústria pesada e de materiais, e de tecnologias da informação são os que apresentam maior dificuldade em contratar. Nos primeiros dois sectores, 89 % das empresas revelam dificuldades na contratação, enquanto no sector das tecnologias da informação são 87 %.
Combater a escassez de talento
Com as necessidades a serem maiores do que a oferta, as empresas (a nível global, de todos os sectores) dizem estar a tentar fechar a lacuna de capacidades através de actividades de upskilling e reskilling nas suas equipas, da contratação e do investimento em tecnologia que optimize processos.
Para enfrentarem a escassez de talento, as estratégias que estão a ser adoptadas passam, em 57 % dos casos, pela oferta de maior flexibilidade quanto aos horários e aos locais de trabalho, mas também pelo aumento de salários (33 %), pela procura de novas pools de talento, por exemplo, trabalhadores séniores (33 %). Com menores expressões, são também mencionadas a oferta de bónus iniciais (26 %), a priorização de processos de automatização de tarefas (24 %) e a diminuição de requisitos relacionados com as qualificações (18 %).
Em Portugal, no caso da construção, por exemplo, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou, no dia 10 de Março, o Índice de Emprego e de Remunerações na Construção, que mostra uma variação positiva no emprego e nos salários. “Em Janeiro [de 2023], os índices de emprego e de remunerações apresentaram variações homólogas de 2,5 % e 10,6 % (2,2 % e 5,8 % no mês anterior)”, descreve o INE, apontando para o aumento do salário mínimo a influenciar esta questão.
Recorde-se também que, a nível da energia e no contexto português, o Governo criou o Programa Trabalhos & Competências Verdes para incentivar a formação profissional em áreas relacionadas com a transição energética e, assim, auxiliar as empresas na adaptação à economia verde.
* Esta informação foi acrescentada no dia 28 de Março, às 15h10, uma vez que, entretanto, foi divulgado o Talent Shortage Survey 2023, com os dados actualizados.