Um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra encontrou uma forma de extrair, com bactérias, um resíduo metálico dos painéis fotovoltaicos, avançou a instituição, no dia 16 de Novembro. A equipa está agora a estudar a melhor forma de purificar esse material e a estudar as suas propriedades.
Trata-se do projecto SUSTe – Development of SUStainable and integrative bioprocess for the recovery of TellurIum-based nanoparticles from photovoltaic wastes e consiste, segundo a Universidade de Coimbra, numa iniciativa que está a criar um “processo inovador para reciclar resíduos de painéis solares”, nomeadamente o telúrio.
Este processo passa pela utilização de bactérias que são capazes de captar este metal residual dos painéis de filme fino cádmio/telúrio, acumulá-lo e, posteriormente, dentro das próprias células, convertê-lo em nanopartículas. No âmbito de um modelo de economia circular, os investigadores acreditam que estas nanopartículas podem ter um “valor acrescentado”, sobretudo para aplicações biomédicas.
Como tal, e com o objectivo de obterem mais nanopartículas e com qualidade, os investigadores desenvolveram métodos de extracção de nanopartículas que utilizam solventes de origem biológica e cuja pegada ambiental não é negativa. “Temos que romper a célula [da bactéria, onde é feita a conversão] para extrair as nanopartículas e purificá-las”, descreve Jorge Pereira, investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Para o responsável, este processo de purificação, essencial para garantir a qualidade e um tamanho uniforme das nanopartículas, é “o grande desafio” e, por isso, a equipa continua a estudar “diferentes estratégias de separação e purificação”.
Em paralelo, a equipa de investigação está também a iniciar a caracterização das nanopartículas já recuperadas e das suas propriedades físicas e químicas, tendo em vista perceber se podem ser testadas como “biossensores ou noutras aplicações biomédicas”. Numa fase seguinte, será necessário encontrar uma empresa que recicle ou recupere painéis fotovoltaicos no sentido de testar estas questões nos próprios equipamentos.
Antecipar um problema ambiental
Enquanto Portugal aposta na energia solar através de painéis fotovoltaicos, sabendo que os respectivos resíduos são “altamente tóxicos para o meio ambiente”, o projecto SUSTe está pensado para “resolver um problema ambiental que ainda não existe, mas que há-de chegar”, sublinha a instituição de ensino superior.
Esta ambição preventiva e alinhada com a economia circular, pelo reaproveitamento para novos usos, valeu ao projecto uma vitória no âmbito da 3.ª edição do “Projectos Semente de Investigação Científica Interdisciplinar” Santander UC. Além de Jorge Pereira, o SUSTe envolve Rita Branco e Pedro Farias, do CEMMPRE- Center for Mechanical Engineering Materials and Processes, José Paixão, do CFisUC – Centro de Física da Universidade de Coimbra, Inês Costa, da Universidade de Coimbra, Helena Ribeiro e Carmem Gonçalves do CIEPQPF.