Segundo Daniel Mugnier, envolvido no programa de sistemas energéticos fotovoltaicos da Agência Internacional de Energia (IEA PVPS), a parcela de sistemas descentralizados está a crescer e representa já mais de metade do volume total. A informação foi adiantada durante uma das sessões da 40th European Photovoltaic Solar Energy Conference and Exhibition, onde mais especialistas discutiram o potencial do fotovoltaico. O evento, a acontecer em Lisboa desde segunda-feira, termina nesta sexta-feira.

Unlocking the PV Potential foi o chapéu sob o qual vários especialistas abordaram desafios e oportunidades, bem como experiências, na implementação do fotovoltaico. Daniel Mugnier, director-geral da francesa PLANAIR e chairman do IEA PVPS, foi um dos oradores convidados e reforçou, em consonância com os outros participantes, o cenário “promissor” que o fotovoltaico tem vindo a representar.

Recorde-se que, de acordo com os dados da IEA, a produção de energia solar fotovoltaica em 2022 foi de 1 300 TWh, representando um “aumento recorde” de 270 TWh (26 %). O estado de desenvolvimento do fotovoltaico, que estava classificado pela IEA como carecendo de mais esforços, foi, neste ano, graças a este resultado e à expectativa de crescimento, considerado como estando “on track” daquilo que se pretende para se alcançar o cenário net zero.

No que diz respeito ao segmento dos fotovoltaicos instalados em telhados, em particular na França, Daniel Mugnier sublinhou, durante o painel de discussão, que esta tecnologia “está mesmo a tornar-se um must [um imperativo]”. “Temos agora à nossa disposição muitas ferramentas, inovações e muitas soluções futuras para garantir uma instalação massiva de fotovoltaico em telhados. E, por isso, creio que criará um grande momentum”, realçou.

No decorrer da sua intervenção, o representante do IEA PVPS avançou ainda que a IEA vai divulgar brevemente um relatório no qual se aponta para o crescimento dos sistemas descentralizados. “Nesta publicação, iremos ver que a quota de sistemas descentralizados no mundo é agora mais de metade do volume total e que está a crescer, devagar, mas seguramente”.

Envolver cidadãos e decisores políticos

Neste processo de descentralização, o fotovoltaico tem, pela proximidade às pessoas, um papel a desempenhar, mas para desbloquear esse potencial Daniel Mugnier defendeu que será necessário haver um “interesse directo dos utilizadores”, bem como formas de financiamento que permitam um coinvestimento pelas pessoas e políticas públicas que favoreçam este enquadramento.

Para estimular o interesse e o envolvimento das pessoas será também necessário, já na perspectiva de Karim Megherbi, fundador e director executivo da empresa Orisun Invest, sediada no Dubai, trabalhar a comunicação com o público. “O nosso foco narrativo é, sobretudo, a capacidade e o mercado solar e os cidadãos estão perdidos aqui. (…) Temos de mudar a nossa comunicação e informar, de forma mais geral, os cidadãos sobre a transição energética”, destacou o responsável, criticando o facto de o próprio cenário net zero ser ininteligível.

“Precisamos de nos lembrar que se queremos mitigar as nossas emissões precisamos de diminuir o consumo de energia e aumentar a electrificação. (…) A [via da] electrificação significa que vamos duplicar a nossa necessidade de electricidade em 2050. Não precisamos apenas de descarbonizar 20 % da nossa electricidade”, alertou, perante o desafio deste cenário.

Dificuldades na instalação, com a escassez de mão-de-obra capacitada, nos licenciamentos e outros processos administrativos, bem como o desenho do mercado são alguns dos problemas que se colocam na área da energia solar fotovoltaica e que foram salientados neste painel desta conferência europeia. Não obstante, a expectativa é que o mercado desta tecnologia continue a crescer. “Continua a ser a fonte de energia com menor custo em muitas áreas do mundo e está a melhorar”, interveio também Michael Schmela, consultor executivo e director do vector Market Intelligence da SolarPower Europe.

Para o representante da associação europeia, não obstante o aumento do mercado, será necessário manter a aposta e dar sinais disso. No caso do fotovoltaico nos telhados, por exemplo, a crise energética foi um impulso à instalação para quem queria ter facturas de energia mais reduzidas. No entanto, agora, com os preços de electricidade na parte doméstica perto dos anteriores à crise, é preciso, na opinião de Michael Schmela, encontrar “soluções que permitam manter o momentum”.

“A Directiva para as Energias Renováveis [mais exigente] foi um grande contributo (…). A EPBD também seria uma parte importante porque nos traria requisitos obrigatórios para instalações nos telhados, o que será uma ferramenta importante para manter a procura neste lado”, conclui. Em complemento, Marco Pittalis, Project Officer do JRC da Comissão Europeia, aponta para a iniciativa global Covenant of Mayors for Climate & Energy, como uma forma de incentivar também decisores políticos a envolverem-se voluntariamente na procura da transição energética e climática, dando o exemplo a outras cidades e aos cidadãos.

40th European Photovoltaic Solar Energy Conference and Exhibition é a maior conferência europeia dedicada à investigação, à aplicação e às tecnologias da energia fotovoltaica, incluindo também a entrega de prémios e uma exposição de inovações da indústria. Está a decorrer desde segunda-feira no Centro de Congressos de Lisboa, terminando nesta sexta-feira.