A utilização de energia elétrica é, e continuará a ser, um dos vetores primordiais do desenvolvimento, pelo que a energia solar fotovoltaica ganhará tendencialmente uma dimensão de relevante importância.

Por sua vez, as prioridades do mercado único digital e da União da Energia impõem que estes sejam consonantes e sirvam objetivos comuns. A digitalização do sistema energético está a alterar rapidamente o panorama do sector, desde a integração das energias renováveis até às redes inteligentes e aos edifícios aptos a receber tecnologias inteligentes.

Estamos numa fase de transição energética com elevada inovação disruptiva, originando, em geral, uma disrupção tecnológica, que conduzirá ao aparecimento de novas alternativas de produtos e serviços que se afastam dos modelos tradicionais de mercado.

A disrupção inovativa ou mesmo a disrupção tecnológica nunca é um fenómeno imediato, mas sim um fenómeno que se estende ao longo do tempo, conforme salientou Clayton M. Christensen(1), criador do conceito, pois será necessário que as inovações criem um novo mercado de consumidores e tenha a possibilidade de impactar as empresas que lideram o setor.

A disrupção acontece sempre

Vejamos o exemplo dos telemóveis e smartphones. O primeiro conceito de combinação de telefonia com computação foi feito em 1909 por Nikola Tesla investigador de origem sérvia, mas o primeiro produto a combinar as funcionalidades de um telemóvel com as funcionalidades de processamento de dados apenas ocorreu em 1992 e o desenvolvimento do conceito smartphone somente foi usado pela primeira vez em 1997, pela empresa sueca Ericsson. Foi a partir da primeira década do presente século que o uso dos smartphones teve um crescimento exponencial, tornando-se, nos nossos dias, num companheiro indispensável, tendo mudado, irreversivelmente, os nossos hábitos do dia a dia.

Estamos preparados para o futuro?

O avanço da investigação nos múltiplos domínios da ciência e o desenvolvimento tecnológico das comunicações (clouds, redes 5G, redes wireless com acessos públicos gratuitos, smart grids e a integração de SRI – Smart Readiness Indicator e IoT – Internet of Things nos edifícios…) abre todo um mundo maravilhoso em relação ao futuro.

O conceito de smart cities, ao abranger os vários domínios, tais como a digitalização, mobilidade ou desenvolvimento urbano sustentável, evidencia a sua importância no futuro das nossas cidades.

A progressão do conceito está a ocorrer, mas provavelmente ainda demorará mais alguns anos a atingir uma plena ou mesmo média abrangência, lógica e sustentável, pois, para além das vontades e da generosidade de políticas públicas, ainda terá de haver mais ajustamentos legislativos, económicos e financeiros.

A arquitetura e a engenharia enfrentam, assim, novos e interessantes desafios, pois a implementação de energias renováveis num edifício não poderá ser o resultado de uma soma das duas intervenções separadas, mas, sim, o resultado de uma simbiose entre as partes que se pretende perfeita, dando origem a um produto esteticamente coerente e tecnologicamente evoluído.

Inevitavelmente, a eletromobilidade

A eletromobilidade está na ordem do dia e os veículos elétricos constituem uma importante componente do processo de transição para uma energia limpa com base em medidas de eficiência energética, combustíveis alternativos, energia renovável e soluções inovadoras de gestão da flexibilidade energética. Terão, assim, as normas de construção de ser eficazmente melhoradas através da introdução de requisitos específicos para apoiar a implantação da infraestrutura de carregamento nos parques de estacionamento de edifícios residenciais e não-residenciais.

Os Estados-Membros, visando a satisfação destes requisitos, deverão estabelecer medidas para simplificar a instalação de infraestruturas de carregamento, de modo a ultrapassar as dificuldades resultantes da dispersão de incentivos ou os encargos administrativos com que se deparam os proprietários quando tentam instalar um ponto de carregamento no seu espaço de estacionamento particular ou coletivo. Certamente que, nas próximas décadas, este vai ser o paradigma energético nas cidades.

Energia Inteligente ─ Smart Grids

Está em curso uma revolução, já muito pouco silenciosa, na área da energia: as redes inteligentes serão o futuro da utilização e da produção elétricas.

Estas não são questões utópicas, pertencentes a um futuro distante. As redes elétricas inteligentes, “smart grids”, estão a revolucionar a forma como encaramos todo o sistema, da produção ao consumo de eletricidade.

O que até agora era um processo em cadeia – produção, transporte, distribuição de eletricidade e consumo junto do cliente final – é, com as “smart grids”, cada vez mais uma rede energética integrada, em que o processo funcionará nos dois sentidos. Ao colocar os vários pontos desta rede a comunicar entre si, é possível não apenas ter soluções que façam uso mais inteligente da energia, mas também transformar consumidores em produtores (através da micro-geração ou micro-cogeração ou do armazenamento de energia sob diversas formas) e criar um mundo novo de produção, transporte e consumo eficiente, com enormes ganhos em termos económicos e ambientais.

O mercado das “smart grids” apresenta-se e desenvolve-se em três áreas fundamentais:

Smart metering – contagem e faturação inteligente;

Grid intelligence – infraestruturas de automação de rede e equipamentos de comando e de controlo;

Utility IT – gestão inteligente de informação, centralizada e descentralizada.

Várias companhias têm estado na vanguarda do desenvolvimento de soluções de “smart grids”, assumindo o negócio como um vetor estratégico.

De modo a digitalizar o setor dos edifícios, as metas e ambições para a implementação de redes com elevada capacidade de comunicação são importantes para haver edifícios residenciais inteligentes e comunidades bem conectadas, desenvolvendo-se um ambiente Ready to Services ↔ Ready to Grid.

Os novos desafios que se colocam à arquitetura e à engenharia

A arquitetura e a engenharia enfrentam, assim, novos e interessantes desafios, pois a implementação de energias renováveis num edifício não poderá ser o resultado de uma soma das duas intervenções separadas, mas, sim, o resultado de uma simbiose entre as partes que se pretende perfeita, dando origem a um produto esteticamente coerente e tecnologicamente evoluído.

Esta é uma preocupação nos nossos dias e há bons exemplos que estão – e continuarão certamente – a dar os seus frutos, como é o caso do Solar Decathlon.

O Solar Decathlon é uma competição colegiada, composta por dez concursos, que desafia as equipas de estudantes a projetar e construir edifícios altamente eficientes e inovadores alimentados por energia renovável. Os vencedores serão as equipas que melhor combinarem excelência em arquitetura e engenharia com inovação, potencial de mercado, eficiência de construção e produção inteligente de energia. Devemos apoiar e aderir sem hesitação!

 

 

(1) Académico americano, consultor de negócios e líder religioso, atualmente Professor de Business Administration na Harvard Business School da Universidade de Harvard. Ficou, sobretudo, conhecido através da teoria divulgada no livro que publicou em 1977, The Innovator’s Dilemma, tendo sido considerada, no início do séc. XXI, a ideia mais influente no domínio dos negócios.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Edifícios e Energia.