Os números relativos ao comportamento do PIB no segundo trimestre de 2020, conhecidos no final de julho, são avassaladores: 15 % de queda na Europa e 16,5 % de queda em Portugal, que apresenta o quarto pior comportamento, só atrás de Itália, Espanha e França.
Estes números apontam para uma contração anual da economia portuguesa que rondará os 10 % do PIB no final de 2020. Isto, se não existir mais nenhum imprevisto, como seja uma segunda vaga pandémica que se espera de dimensão relevante.
Mesmo considerando que em 2021 a recuperação possa ser rápida, com um crescimento do PIB que facilmente poderá rondar os 5 – 6 %, de forma global, a economia portuguesa vai sofrer um impacto muito forte que se traduzirá em forte desemprego e queda do consumo. Se somarmos a queda que se verifica também nos principais parceiros comerciais, como Espanha, a provável dificuldade de recuperação do turismo no curto prazo e a maior dificuldade em regenerar a economia que Portugal tradicionalmente apresenta quando comparado com países congéneres, está montado um cenário catastrófico.
Quando nos focamos, de forma particular, no mercado imobiliário, não tendo números concretos e desagregados da queda no segundo trimestre, estamos convictos de que esta terá sido muito baixa ou mesmo residual. Tudo indica que este mercado estará a sofrer um atraso na propagação dos efeitos globais da crise. Neste momento, terminam-se obras e projetos que já vinham em andamento e que não apresentavam um racional económico de paragem abrupta. Por esta razão, só em finais de 2020 ou inícios de 2021, poderemos começar a ver os efeitos reais no setor.
Não pretendendo ser pessimistas nem alarmistas, mas apenas realistas, antevemos um cenário muito complicado, uma vez que, ao prever uma queda muito acentuada no turismo, que, tudo indica, veio para ficar, o setor imobiliário igualmente travará, acompanhando o desinvestimento neste setor.
Mesmo que os grandes investimentos não parem, vão certamente abrandar na sua velocidade de implementação, adaptando os investimentos à realidade económica, o que vai trazer dificuldades acrescidas ao setor.
Outros setores poderão, no entanto, crescer nos próximos tempos, nomeadamente o da Saúde, com o acréscimo de importantes e indispensáveis melhorias em unidades de prestação de cuidados de saúde existentes ou outras a construir, e tudo o que se relaciona com atividades ligadas a Instalações, Equipamentos e Sistemas de Edifícios, onde se consideram incluídas as vertentes de Operação, Manutenção, Higienização e Desinfeção e também toda a problemática ligada à Qualidade do Ar Interior, parte integrante e mandatória da Qualidade Ambiental Interior, que, hoje e mais do que nunca, se reconhece primordial, mesmo para os proprietários e utilizadores anteriormente menos avisados, disponíveis ou sensibilizados.
No curto/médio prazo, julgamos que o setor da saúde terá um forte incentivo ao investimento nos próximos anos. A questão é que este setor é, na prática, fortemente suportado pelo Estado. Mesmo os investimentos privados dependem em grande medida dos acordos de cooperação e parceria que as entidades privadas possam estabelecer com o Sistema Nacional de Saúde (SNS). Assim sendo, tudo dependerá do papel que o Estado venha a desempenhar no fomento e investimento no setor da saúde. Parece que vontade e dinheiro proveniente de fundos europeus não faltam!
Com a questão da pandemia sempre presente durante os próximos (largos) meses ou mesmo anos, existirá um enorme espaço para que estas atividades assumam maior preponderância no setor e acabem por sair beneficiadas de toda esta difícil conjuntura.
Não pretendendo ser pessimistas nem alarmistas, mas apenas realistas, antevemos um cenário muito complicado, uma vez que, ao prever uma queda muito acentuada no turismo, que, tudo indica, veio para ficar, o setor imobiliário igualmente travará, acompanhando o desinvestimento neste setor.
O sentimento do mercado
Por parte dos diversos intervenientes no mercado sente-se que:
- Os projetistas estão até mais ativos do que o habitual, talvez fruto de se encontrarem em teletrabalho e constantemente “agarrados” à máquina e isto porque, certamente, os seus clientes continuam também bastante ativos;
- Os instaladores, de um modo geral, durante este período, não suspenderam os trabalhos, o que parece ser o reflexo de estarem a trabalhar em obras de alguma urgência e outras inesperadas, sendo aqui, possivelmente, o paradigma decorrente da adaptação de algum tipo de instalação a algum requisito decorrente da situação atual, como é o caso exemplar dos estabelecimentos de saúde;
- Os proprietários, clientes finais, neste período, o que vão dizendo é que os investimentos têm de prosseguir e que a situação de Portugal “no fim do dia” não é diferente de qualquer outra geografia global, portanto a palavra de ordem é “prosseguir” – isto, pelo menos, no segmento do imobiliário e nalguns casos também das estruturas ligadas ao turismo, já que muitos dos clientes sabem que o mundo não vai acabar e têm de ter infraestruturas prontas para o “dia seguinte”;
- Por último, claro que recentemente temos sentido algumas inquietações relacionadas com as recentes perspetivas de que talvez a situação pandémica esteja para durar e, aqui, pode, sim, haver uma dificuldade clara de liquidez que terá certamente implicações – este receio é o de que os setores governamentais, direta ou indiretamente, tentam apaziguar com as injeções de capital que têm feito na economia – mas tudo é novo e, portanto, as injeções de capital até poderão ter efeitos adversos.
Viver com a COVID-19
Desde há muito que temos vindo a alertar para a necessidade de alteração de hábitos e comportamentos, a nível da construção, instalação, operação e manutenção, mas, para que tal aconteça, é necessário que se dê uma forte disrupção com as más práticas. A evidência aparece, infelizmente, apenas quando ocorre um grande desastre — então, aí, as consciências agitam-se e faz-se luz!
Se é proprietário, administrador de condomínio, locatário ou simples utilizador de um edifício comercial ou de serviços ou de um edifício de habitação multifamiliar, promova e incentive a criação de um documento com a definição das estratégias de mitigação que a instalação de AVAC deverá respeitar, para conforto, segurança e saúde de todos os ocupantes.
O plano deverá ser elaborado de modo a que os operadores das instalações e os ocupantes compreendam totalmente o alcance do referido plano.
Asseguremos a existência de um plano estratégico para a Operação, Manutenção, Higienização e Desinfeção das Instalações de AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado) nos nossos edifícios. O plano deverá incluir as estratégias não-AVAC, bem como as estratégias de mitigação do AVAC. As estratégias não-AVAC podem incluir, mas não se limitando apenas a estes, os seguintes itens:
- Níveis de ocupação permitidos no(s) edifício(s);
- Requisito ou recomendação de uso de máscara facial ou viseira;
- Distanciamento físico entre mesas, salas de descanso, salas de conferências, elevador, etc.;
- Fluxo direcional para acesso ao espaço a ocupar;
- Higiene pessoal;
- Requisitos de limpeza.
As estratégias de AVAC podem incluir, mas não se limitando apenas a estes, os seguintes itens:
- Aumento de ventilação;
- Filtragem melhorada ou reforçada;
- Eventuais dispositivos de limpeza do ar (UVGI ou outras tecnologias mais recentes).
É crucial notar que cada sistema de AVAC existente precisa de ser verificado e analisado segundo os melhores critérios, protocolos e controlos de engenharia, de modo a se conseguir utilizar ou melhorar o seu potencial de redução da transmissão de vírus no edifício.
Recordemos que:
- A COVID-19 está aí para ficar — por dois ou mais anos;
- O fecho dos edifícios é caro;
- Se fechados, os edifícios também não são saudáveis;
- É necessário regressar à normalidade;
- A reocupação dos edifícios é indispensável;
- É necessário ficarmos seguros e saudáveis;
- • É necessário convivermos com pessoas, mas em segurança.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Edifícios e Energia.