Professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e com mais de 30 anos de experiência, Vasco Peixoto de Freitas é um nome incontornável quando se fala de conhecimento na área da física das construções. Numa entrevista à margem da conferência Eco-Cidades, que decorreu nos dias 9 e 10 de Dezembro, no Porto, o também director do Laboratório de Física e Tecnologia das Construções falou sobre como o país tem regulado o desempenho energético dos edifícios e deixou um alerta: as condições reais de utilização não estão a ser tidas em conta.
Como vê a conjuntura actual para o desempenho energético dos edifícios?
Começo por uma pequena nota histórica: até 1990, os nossos edifícios não tinham qualquer tratamento da envolvente e o primeiro passo veio com um decreto-lei, de 1990, que obrigou a isolar as coberturas, a envolvente, na perspectiva da conservação. Depois, surgiram as directivas, que obrigam à certificação. A certificação é um passo positivo para quem consome energia; é uma ferramenta que, por um lado, indica qual o consumo de energia e, por outro, permite corrigir edifícios menos eficientes para os transformar em edifícios mais eficientes. Para quem aquece em contínuo, a certificação permite convergir para a eficiência energética. Seguiu-se uma terceira fase, em que se pede que os edifícios tenham balanço energético quase nulo – é um novo desafio que pressupõe que se introduzam energias renováveis para compensar aquilo que o edifício está a gastar. E estamos agora num quarto desafio, cujo objectivo é reabilitar muito do nosso património, e, ao fazê-lo, temos de encontrar um conjunto de medidas que permita tornar o edifício mais eficiente, mas tendo cuidado com as condições de utilização. Significa que, se não utilizarmos o edifício da forma que o modelo define, o certificado energético (CE) não é suficientemente objectivo.
O modelo actual está adequado à nossa realidade?
Considero que o modelo que está em vigor desde 1 de Julho, e o que já estava antes, é adequado para a construção nova e para edifícios que tenham uma lógica de conforto – conforto corresponde a consumo de energia, e há que ser eficiente nesse consumo e dar um contributo mais reduzido para a perturbação ambiental. O problema não está aí, mas no facto de o modelo que estamos a seguir não ser ajustado às condições reais de utilização. E não é só em Portugal, isto acontece também noutros países europeus. Há um desfasamento entre aquilo que é o cálculo teórico e o consumo real dos edifícios. No caso dos países do Sul da Europa, esse desfasamento é enorme. Ora, se tal acontece, significa que, havendo um CE, as pessoas não o valorizam e não o conseguem entender de uma forma completa, porque este não corresponde às condições de utilização.
As pessoas não se revêem e aos seus consumos no CE?
O CE não é um instrumento que sensibilize as pessoas para utilizarem melhor os edifícios e para consumirem menos energia nos edifícios. E isso acontece porque os CE têm um conjunto de números que, embora correctos e interessantes, não traduzem a realidade de Portugal.
Porque é que isso acontece?
Por três [tipos de] razões: culturais – não aquecemos por prática cultural, mesmo as famílias com recursos –; económicas – há famílias que, efectivamente, não têm recursos financeiros para gastar em energia, mesmo que o seu edifício seja eficiente –; e razões que se prendem com o próprio clima. Temos os edifícios mais frios da Europa no Inverno por uma razão simples: o clima é bastante moderado e permite-nos sobreviver nesses edifícios tão frios, enquanto, em países do resto da Europa que são até bastante pobres, se não se gastasse algum dinheiro em energia, acabaríamos por não sobreviver em edifícios tão gelados, porque o clima exterior não o permitiria.
O problema está na essência do CE ou na forma como em Portugal o entendemos?
O CE é correcto. Para qualquer país do Centro e Norte da Europa, é correctíssimo e, para Portugal, também poderia ser um instrumento interessante. Numa perspectiva da construção nova, daqui a três décadas, o edifício vai continuar a existir e [nessa altura], se as condições económicas e culturais se alterarem, as pessoas vão aquecer e climatizar as casas, e, portanto, faz todo o sentido haver um CE que dê uma ideia de futuro.
O que faria sentido no contexto nacional?
Paralelamente ao CE, seria importante que as pessoas tivessem um indicador que dissesse: “se usar o edifício desta maneira, como é que me sinto mais ou menos desconfortável”. Nós não temos conforto. A maior parte das famílias portuguesas vive desconfortável. Fizemos contas muito simples para verificar a alteração da mortalidade em função das cidades do país: ao longo do ano, a mortalidade é praticamente constante em Ponta Delgada, aumenta um pouco no Inverno no Porto, e aumenta muito mais em Bragança. Ou seja, há uma relação entre o período de Inverno e o clima e a mortalidade – não há nenhuma dúvida de que o que as pessoas precisam é de ter menos desconforto, sobretudo as de mais idade, para se poderem sentir um pouco melhor. Posto isto, em paralelo ao CE, faria sentido – isto não vem em nenhuma directiva –, para a nossa realidade, que pudesse haver um índice que medisse o desconforto que as pessoas vão ter na forma real como vão utilizar as suas casas. E, em função de medidas de melhoria, seria possível perceber como se conseguiria diminuir esse desconforto.
Havendo esse índice paralelo, não estaríamos à margem do que são as regras europeias?
Devemos sempre cumprir as directivas europeias, porque temos essa obrigação e faz todo o sentido haver uma certificação nos edifícios, até para, do ponto de vista energético, se poder dizer o que cada país consome. Sobre isso, não se discute: é uma directiva, tem de se cumprir. Mas estamos a prestar uma informação por excesso. O que acho é que, para motivarmos a sociedade e para que todos os utilizadores estejam sensíveis, seria importante que as pessoas tivessem informação sobre como tenderiam para o conforto em função das medidas de melhoria que vão fazer, sobretudo nos edifícios existentes, para não estarmos a fazer um investimento e a implementar um conjunto de medidas que não se traduz num benefício efectivo para as pessoas. Tenho defendido que seria importante fazer-se um estudo em que se pudesse estabelecer uma relação entre investimento e aumento da temperatura interior, isto é, se gastar mil ou dez mil euros numa reabilitação, o que é que consigo em termos de aumento da temperatura interior, para as condições reais de utilização. Tenho sugerido um modelo paralelo, por exemplo, para a habitação social: em vez de se financiar só a subida da classe energética na reabilitação, haveria, adicionalmente, um outro parâmetro, mais importante, que identificaria a diminuição do índice de desconforto para famílias que são bastante pobres e que aquecem muito poucas horas por ano. Esse, sim, é um índice que as pessoas compreendem: “se fizer esta medida, tenho esta diminuição de horas de desconforto”.
Haverá também um problema no que se refere à comunicação da informação do CE e até à (i)literacia energética da sociedade?
A melhoria da comunicação passa por uma informação simples e credível. A transmissão dessa informação é algo que não podemos deixar ficar na mão de actores que possam ter um interesse pontual. Significa isto que deveria ser criado, muito rapidamente, um grupo de trabalho em que estivessem envolvidos a ADENE, as universidades, os laboratórios, as empresas de construção – como se faz em muitos sítios da Europa – para poder estabelecer um guião que fosse credível, que tivesse uma aceitação pelos vários actores e que, consequentemente, tivesse a credibilidade necessária para que cada utilizador de edifícios – que somos todos nós – o pudesse compreender. O primeiro passo seria criar algo credível e independente, e, se fosse possível, produzir rapidamente esse guião sobre as medidas de melhoria, não para as condições ideais de conforto, mas para as condições reais de utilização. Isso seria um salto qualitativo que permitiria a quem está a ponderar investir numa medida de melhoria perceber quais as consequências da relação investimento/diminuição de desconforto ou tendência para o conforto.
Visto que temos vários fundos disponíveis para a renovação energética, este seria um momento oportuno para o fazer?
Claro que sim. O desafio até 2050 é enorme. No documento publicado pelo Conselho de Ministros e pela ADENE, havia uma estimativa de investimento para a reabilitação de edifícios de 148 mil milhões de euros, dos quais 110 mil milhões para o sector residencial – mas trata-se de um investimento potencial, e costumo sempre perguntar quem e como se paga. Admito que vá haver recursos financeiros para incentivar a eficiência energética. Conheço dois programas que têm verbas relativamente modestas, com as quais dificilmente se consegue diminuir a pobreza energética e o desconforto.
Refere-se aos programas Vale Eficiência e Edifícios Mais Sustentáveis?
Sim, o Vale Eficiência, que tem os 1300 euros, mas que, no fundo, é para pessoas muito débeis do ponto de vista financeiro e com pouca capacidade de poder aplicar bem 1300 euros… E, com muito realismo, esse valor não é suficiente para contribuir para uma melhoria do conforto de pessoas que estão em pobreza energética. O outro programa tem um valor superior. É preciso estudá-lo, validá-lo e monitorizá-lo. Tenho proposto, em termos académicos, que seja feita uma amostra, nestes programas, em que se monitorizem as consequências dessas medidas e o investimento efectuado, e que se faça uma relação muito simples entre o dinheiro investido e o benefício obtido no conforto ou na eficiência energética. Assim, haverá uma relação custo-benefício, que, neste momento, não existe. Alguns desses apoios podem funcionar bem em alguns edifícios, mas receio que, noutros, funcionem menos bem e não tenham o benefício expectável.
“Em paralelo ao certificado energético, faria sentido, para a nossa realidade, que pudesse haver um índice que medisse o desconforto que as pessoas vão ter na forma real como vão utilizar as suas casas. E, em função de medidas de melhoria, seria possível perceber como se conseguiria diminuir esse desconforto.”
Eficiência energética e renováveis têm sido os ingredientes para a sustentabilidade dos edifícios, sendo que o objectivo derradeiro é a descarbonização. Parece-lhe uma meta exequível?
Sou muito sensível à descarbonização – penso que todos somos. Para cada um dos sectores da sociedade, em particular o dos edifícios, temos de perceber até onde é que podemos ir. Sabemos que, no sector residencial, em cada 100 euros que gastamos em energia, a maior parte vai para água quente sanitária, cozinha e electrodomésticos, e o aquecimento e arrefecimento poderão não ultrapassar os 25 %. Portanto, temos de ter a noção de que o aquecimento e arrefecimento são uma parcela pequena da energia total que o sector residencial, que é o maior, consome. Se quisermos tender para a descarbonização, temos de deixar de estar ligados à rede, de ter alimentação de gás e de electricidade, os edifícios ou as comunidades terão de ter a capacidade de poder produzir energia e o que gastam será igual ao que produzem. Do ponto de vista do princípio, [o modelo] é perfeito; só que é preciso um equilíbrio entre a utopia e a realidade. Para se poder fazer isso ao nível do edifício – ao nível do conjunto, é ainda mais complexo, mesmo que seja o desejável –, é necessário transformar os edifícios, que tradicionalmente eram simples, com técnicas tradicionais, conservadores em termos de tecnologia, em edifícios com muitos equipamentos e mecanismos muito complexos. Quando fazemos essa transformação, com vista a um balanço energético nulo e a ir buscar energias renováveis, estamos a criar algo que vai precisar de muita manutenção e cuja durabilidade, mais tarde ou mais cedo, vai ser posta em causa.
Como assim?
A minha preocupação é que, ao tender para números muito optimistas e utópicos, nos arrisquemos a transformar edifícios simples de usar, com pouca manutenção, em algo mais complexo. Por exemplo, um automóvel tem de ter uma revisão anual; nos edifícios, nós ainda não estamos preparados para isso. Dotar os edifícios dessa complexidade nesta transformação, de modo a que estes tendam para um balanço zero, é bom, pois estamos a contribuir para a descarbonização – ainda que considere que a descarbonização total até 2050 seja uma utopia, mas, por vezes, a sociedade precisa desses grandes desafios para acelerar processos –, mas pode fazer-nos gastar dinheiro sem ter o tal benefício efectivo. Dizer que uma família de habitação social vai [passar a] poupar dinheiro na climatização é pura utopia, porque, neste momento, ela gasta zero e vai continuar a gastar zero.
Tendo a descarbonização possível no horizonte, há também a questão da energia incorporada nos materiais. É uma preocupação ainda residual ou já começa a estar disseminada?
Desde a construção até à demolição, na perspectiva de uma economia circular, há estudos de investigação muito relevantes e investigadores em Portugal com conhecimento nesse domínio. Sou sensível a essa visão de sustentabilidade global. Se me perguntar se os modelos que temos disponíveis são objectivos e se as várias classificações de sustentabilidade chegam ao mesmo resultado, diria que estamos numa fase de progressão, mas ainda há dificuldades e arestas a limar para podermos ter uma convergência e técnicos diferentes chegarem a resultados iguais.
E porque isso ainda não acontece?
Porque os parâmetros que entram são sempre discutíveis. Mas pensar quanto CO2 é que se emite para produzir um equipamento, quanto tempo ele dura e o que precisamos de fazer para, depois, o destruir e reciclar é algo que faz todo o sentido. Quando pudermos fazer essas contas de uma forma completa, vamos ter muitas surpresas. Para os grandes edifícios, já existe essa abordagem; para o sector residencial, estamos ainda no início desse percurso.
As mudanças climáticas fazem parte dos desafios que nos esperam. Considera que estas terão impacto na forma como projectamos e construímos os edifícios?
As alterações climáticas serão um problema. Já temos dados que nos mostram, por exemplo, a evolução da temperatura. Não nos preocupa tanto a [subida da] temperatura média, mas, sim, os picos, que são os que geram maior desconforto. É expectável que haja aumentos de picos com algum significado – isso prende-se com as alterações climáticas, mas há outro nome do qual não nos podemos esquecer: a ilha de calor [urbano]. Ao termos grandes massas urbanas, sabemos que essas áreas têm mais 3-6 graus do que as zonas rurais. Quando construímos no mundo rural, temos um clima; quando o fazemos numa grande metrópole, a ilha de calor tem um impacto de 5-6 graus, o que é imenso! As ilhas de calor exigem preocupação. No caso da mudança climática, ainda não sabemos muito bem [como será]; há modelos muito inseguros, mas há também modelos que têm previsões de aumento da temperatura. No Inverno, para o clima do continente, isto será benéfico, pois significa que vamos ter menos consumo de energia. O Inverno – e vou dizer algo um pouco perigoso, mas que penso que seja a realidade – representa muito mais consumo de energia nos edifícios de habitação do que no Verão – nos edifícios de serviços, é diferente. A mudança climática, no sentido de aumento da temperatura, vai fazer com que gastemos menos energia no Inverno. Temos de começar a pensar no problema ao contrário: “o que vamos ter de mais desconforto e de mais consumo de energia nos períodos de arrefecimento, nas pontas de maior temperatura?”.
E como nos podemos adaptar a esse cenário?
[Isto] Vai obrigar-nos a reflectir nos edifícios que hoje fazemos – sobretudo na nova construção e não tanto na reabilitação –, nos quais não nos vamos poder esquecer, por exemplo, da inércia térmica, que é muito importante para atenuar os picos de temperatura. Temos de estar preparados também para a ventilação nocturna, que é algo que não se faz. É necessário equacionar os vidros, pois caminhamos para uma arquitectura do vidro. Veja-se os edifícios que estão a ser construídos com imenso vidro nas cidades do Médio Oriente; esses edifícios [já] são grandes consumidores de energia e, se houver uma mudança climática no sentido da elevação da temperatura… [serão ainda mais]. Tal significa que temos de ter muito cuidado com a protecção solar dos vidros, com a relação área de vidro/área de pavimento…
“Nós admitimos comprar um objecto, como um telemóvel, e saber que o vamos deitar fora. Já o custo de um edifício ou de uma fracção habitacional é de tal modo elevado que tem de ser muito mais perene e simultaneamente flexível.”
Será expectável também uma maior frequência de fenómenos como chuvadas ou tempestades. Haverá algum impacto aí ao nível da durabilidade dos edifícios?
Os riscos hígricos ou higrotérmicos estão a ser pensados em termos académicos. Há estudos e programas europeus que nos dizem que vamos ter períodos com maior precipitação, nível de água mais elevada, humidificação das paredes, inundações de pisos ao nível do solo – isso é estudado e há, na FEUP, investigação sobre secagem após inundações, consequências da chuva mais intensa na durabilidade, mas isto tem pouco a ver com o desempenho térmico e energético. Essas situações extremas de clima vão afectar o uso, quer ao nível da água nos pisos térreos, quer ao nível da humidificação e estanquidade da fachada, e merecem reflexão. Estamos longe de ter isso quantificado para a prática, mas a avaliação de risco dessa mudança climática na academia está a ser tida em consideração.
Que outros desafios vê para os edifícios neste futuro?
Os edifícios terão de ser pensados com uma flexibilidade que não tinham no passado. A sociedade evolui muito depressa. Em 30 anos, a tecnologia e o desejo das pessoas vão ser muito diferentes do que são actualmente. A casa dos meus avós não era muito diferente da casa dos meus pais, mas a casa das minhas filhas vai ser muito diferente da dos filhos que elas eventualmente irão ter. Temos de pensar numa casa flexível, em que as instalações e a forma como se utiliza funcionalmente o edifício possam ser ajustadas. O segundo desafio é algo que tenho alguma dificuldade em compreender, mas que vai existir, que é a digitalização. Vamos tender para um edifício em que a automação e o controlo à distância vão estar presentes. Isso é extraordinário, mas vai dotar os edifícios de uma grande complexidade. E, quanto mais complexo é um edifício, menos tempo ele vai durar. Por isso, um dos grandes desafios do futuro é termos edifícios flexíveis que integrem a digitalização, as novas tecnologias, mas que simultaneamente funcionem por um tempo razoável, como temos esperança de que funcionem. Nós admitimos comprar um objecto, como um telemóvel, e saber que o vamos deitar fora. Já o custo de um edifício ou de uma fracção habitacional é de tal modo elevado que tem de ser muito mais perene e simultaneamente flexível. Essa integração vai ter de ser muito rápida e será um dos grandes desafios.
Mas encara essa integração de novas tecnologias como sendo positiva?
Muito positiva, desde que não esmaguem o ser humano – com isto, quero dizer estarmos dependentes e subjugados a um conjunto de sistemas que nós próprios temos de ajustar e programar e que, em lugar de nos trazer tranquilidade e felicidade, nos traga, depois, preocupações. Mas admito que esta seja uma preocupação para a minha geração e não para quem tem 20 ou 30 anos [risos].
Tem uma longa experiência enquanto docente. Perante as incertezas do futuro e rapidez das mudanças, como é que se ensina futuros engenheiros a ter a flexibilidade e a mente aberta necessárias para encontrar novas soluções?
O ensino sempre foi conservador, mas há um enorme esforço na universidade, e, em particular, na FEUP, no sentido da inovação, de novas práticas e métodos pedagógicos, e, sobretudo, de obrigar os alunos a pensar em metodologias, em formas de abordagem, para resolver problemas complexos similares e não problemas em concreto. Por tradição, nós, no ensino, não gostamos de aulas direccionadas, mas os alunos nem sempre são muito reactivos, é preciso provocar a reacção – é algo que faz parte da nossa cultura. Na minha prática pedagógica, a avaliação pode ser feita com consulta, porque o conhecimento é tanto e tão vasto que não vale a pena fazer de outra forma. O desafio está em obrigar as pessoas a reflectir e não tanto a adquirir o conhecimento como consolidado; a ter as metodologias e não tanto a resolver os problemas concretos. [Porém] Quando os alunos começam a sua actividade profissional, não é isso que lhes é pedido, diz-se que a preparação que é dada na universidade não é melhor do que a de há 30 anos, quando se saía muito preparado para resolver os problemas da profissão, seja na área do projecto, seja na área da execução. Só que não vale a pena fazer essa preparação para o imediato porque, passado algum tempo, os alunos têm de estar abertos para resolver desafios diferentes. A universidade, hoje, não pode ser mais do que abrir perspectivas, explicitar todo o conhecimento técnico-científico disponível – e o rigor técnico-científico também se perde com os novos meios, como o Powerpoint, em que ganha a linguagem gráfica. É, sobretudo, essa abordagem que acho que é preciso ter e para a qual não sei se tanto os professores como os alunos estão preparados, ou se preferem, do ponto de vista de avaliação e da sua passagem pela universidade, uma abordagem muito mais direccionada e que os deixe muito mais tranquilos [risos].
Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 139 da Edifícios e Energia (Janeiro/Fevereiro 2022).