Roberto Aguilò, presidente da Associação Argentina do Frio desde 1994 e especialista da ASHRAE, veio a Portugal, na semana passada, para abordar o papel dos refrigerantes naturais na protecção do ambiente numa sessão técnica promovida pela Ordem dos Engenheiros, através da Comissão de Especialização em Engenharia de Climatização, e pelo ASHRAE Portugal Chapter. Em entrevista à Edifícios e Energia, o responsável perspectivou uma expansão no uso destes refrigerantes e argumentou que estes são aqueles que estão “mais bem preparados para os futuros desafios”.

Do ponto de vista ambiental, não há refrigerantes tão bons como os refrigerantes naturais”, sublinha o especialista da ASHRAE. Com potenciais de aquecimento global muito próximos do zero, os refrigerantes naturais, que já são utilizados “há mais de 180 anos”, continuam a ser, e cada vez mais, uma escolha para uma boa parte da indústria da refrigeração – o amoníaco na refrigeração industrial, os hidrocarbonetos em sistemas de refrigeração mais pequenos, em equipamentos de refrigeração domésticos (como é o caso do isobutano) e em alguns equipamentos comerciais (como é o caso do propano), e o CO2 nas novas instalações novas, especialmente em supermercados e pequenas plantas. 

E a tendência, refere, é que a indústria se encaminhe para este tipo de refrigerantes. No caso do amoníaco, por exemplo, Roberto Aguilò afirma que “tem um lugar no sector da refrigeração e que sempre terá um lugar, talvez até maior agora porque há novas aplicações no caso dos chillers para o ar condicionado”. Ainda assim, há ainda lugar na indústria aos refrigerantes sintéticos, cujo impacto ambiental embora não tão elevado como noutros tipos de refrigerantes é superior ao dos refrigerantes naturais. 

“Os CFC, inicialmente, tinham sido idealizados como uma solução final, mas 50 anos mais tarde descobriu-se que destruíam a camada do ozono. Mais tarde, afirmou-se que os HFC eram muito bons e [depois soube-se que] eles aumentavam o potencial de aquecimento global. E, agora, fala-se nos HFOs – não sei o que irá acontecer nos anos futuros. Portanto, a grande vantagem dos refrigerantes naturais é que eles não serão banidos por nenhum regulamento. Quanto aos sintéticos, não sabemos”, realça o orador, acrescentando que “os refrigerantes estão mais bem preparados para os desafios futuros”.

O desafio da operação

A refrigeração é essencial para a sociedade, uma sociedade que “carece de alimentos frescos a todo o momento” e que desperdiça cerca de “um terço da comida perecível porque esta se estraga antes da compra dos consumidores, destaca Roberto Aguilò. A vantagem dos refrigerantes naturais, segundo o especialista, não se esgota no facto de serem mais ecológicos. Também tem a ver com o facto de serem competitivos em termos de eficiência, sobretudo o amoníaco. 

Em relação a custos, os refrigerantes naturais também são mais baratos, no entanto, o mais baixo preço de refrigerante não se traduz num menor custo final. “A instalação para o amoníaco ou para o CO2 é mais cara do que a instalação para os refrigerantes sintéticos, e [a instalação dos refrigerantes naturais é] mais elaborada e também necessita de mais manutenção. Portanto, o mais desafiante está na parte da operação.”

Enquanto o amoníaco apresenta um nível de toxicidade, o CO2 exige uma elevada pressão e outros como o propano ou o isobutano têm o desafio de serem inflamáveis. “Tem de se fazer mais para manter os sistemas. As pessoas que o fazem têm de estar qualificadas para tal”, explica, ilustrando como no caso da gestão do CO2 é necessário conhecimentos em electrónica. “Provavelmente, é necessário criar mais certificações quanto a isto.”