Portugal é um dos países da Europa com um maior nível de pobreza energética, onde um grande número de famílias não consegue manter o conforto térmico das habitações, ou seja, quente no Inverno e fresca no Verão. Esta é uma das principais conclusões de um estudo desenvolvido à escala europeia, e elaborado pela consultora OpenExp especializada na transição energética para a Coligação Europeia pelo Direito à Energia (e que tem a associação ambientalista ZERO como parceira na divulgação).
De acordo com o documento, Portugal encontra-se na quarta posição, em termos europeus, no que à pobreza energética diz respeito, estando com um nível “muito alto”, o segundo de uma escala de quatro níveis que vai do “baixo” ao “extremo”.
Este é um dado preocupante já que revela a dificuldade das famílias, principalmente as de mais baixos rendimentos, em manter as habitações com temperaturas adequadas, sendo que muitas destas questões advêm da deficiente qualidade da construção das habitações (com elevados índices de humidade, entre outras anomalias e patologias), para além do enorme peso da fatura energética no orçamento familiar e do uso de equipamentos com uma fraca eficiência energética.
Segundo o estudo, em Portugal, quase 25 % das mortes que ocorrem no Inverno são devidas ao frio causado pela má qualidade do parque habitacional. No Verão, os problemas são semelhantes, mas em sentido contrário, já que a permanente exposição ao calor coloca dificuldades de climatização, devido ao fraco isolamento das casas.
A nível europeu, apenas Bulgária, Hungria e Eslováquia estão pior do que Portugal. Estes três países apresentam níveis de pobreza energética “extremos”. Suécia e Finlândia encontram-se no extremo oposto da tabela. Aqueles dois países da Escandinávia têm níveis “baixos”, o que, paradoxalmente, coloca as nações mais a Norte da Europa com as melhores condições (habitações quentes no Inverno e frescas no Verão).
Francisco Ferreira, presidente da ZERO, referiu, em declarações à RTP, que “Portugal é um país onde o bem-estar e até algumas mortes prematuras acabam por ter lugar porque não conseguimos viver confortavelmente”.
Segundo o Pacto Europeu Energia e Clima 2030, aprovado pelos Estados-Membros, a União Europeia sugeriu a adopção de medidas de modo a lidar com a pobreza energética. No entanto, a Coligação para o Direito à Energia exige que os Estados-Membros desenvolvam planos nacionais de acção e planos de incentivos para apoiarem e protegerem as famílias mais desfavorecidas.
A Organização Mundial de Saúde estima que deficientes condições das habitações, que levam, por exemplo, a uma exposição ao frio e humidade, etc., prolongada e crónica possam ser responsáveis por cerca de 100 mil mortes anuais, a nível europeu.