Imagine-se chegar a 2030 com o triplo da capacidade instalada de energias renováveis e com o dobro do progresso na intensidade energética. É o cenário que a presidência da Cimeira Mundial de Acção Climática (COP28) e 123 países estão a assumir como um compromisso, no decorrer de uma das propostas da Comissão Europeia para a transição energética.
É um Compromisso Global para as Energias Renováveis e para a Eficiência Energética e estabelece dois grandes objectivos globais até ao final da década que estão alinhados com a meta de 1,5 °C do Acordo de Paris. Um é conseguir triplicar a capacidade instalada de energia renovável atingindo pelo menos 11 TW. O outro é alcançar 4 % de progresso anual global em intensidade energética, duplicando, assim, o esforço na eficiência energética.
O compromisso estava já na agenda da cimeira, tendo sido desenvolvido em estreita cooperação pela Comissão Europeia e pela presidência da COP28, com o apoio da Agência Internacional da Energia (AIE) e da Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA). Assumido já por mais de uma centena de países, entre os quais Portugal, durante a COP28, o compromisso vai resultar numa série de acções para assegurar o seu cumprimento.
Por exemplo, todos os anos, antes de as várias COP acontecerem, será publicada uma análise do progresso global. Além disso, a União Europeia também irá actuar junto de instituições financeiras europeias para conseguir, nos próximos dois anos, investir 2,3 mil milhões de euros do seu orçamento no apoio à transição energética (por via de empregos verdes e tecnologias-chave, etc.) por todo o mundo.
O compromisso foi adoptado nos primeiros dias da COP28, que está a acontecer no Dubai desde dia 30 de Novembro, mas a ideia é conseguir alcançar, até ao final da cimeira, no dia 12 de Dezembro, um acordo ainda mais ambicioso que passe, por exemplo, pela eliminação progressiva de combustíveis fósseis a nível mundial dos sistemas energéticos e, em paralelo, ir conseguindo que mais países se juntem a este desígnio.
IRENA e AIE apontam para benefícios das metas
Recentemente, a IRENA divulgou um relatório dedicado aos impactos sócio-económicos da transição energética, como segundo volume do Panorama das Transições Energéticas Mundiais 2023. Neste documento, a agência das renováveis mostra que o caminho do Acordo de Paris pode levar a um aumento médio anual de 1,5 % no PIB até 2050, bem como à criação de 40 milhões de empregos adicionais na esfera do sector energético, de que mais de 18 milhões dizem respeito apenas às energias renováveis.
No primeiro volume deste trabalho, a IRENA apelava já à necessidade de se triplicar a capacidade instalada de energia renovável até ao final da década de modo a atingir a meta de 1,5 ºC. Colocava ainda a tónica na necessidade também de se posicionar a electrificação e a eficiência energética como principais motores da transição energética.
Quanto à eficiência energética, que aparece no compromisso assumido na COP28 como um dos dois grandes pilares, a AIE também lançou, em Novembro, o relatório Energy Efficiency 2023. Nesta análise dos desenvolvimentos globais nos mercados e nas políticas de eficiência energética, a AIE também avança com este alvo de duplicar o progresso nesta área, explicando que isto poderia levar à redução das facturas energéticas em um terço e levar à redução de metade das emissões até 2030.
Em paralelo, a AIE aponta ainda para a capacidade de a aposta em medidas de eficiência energética se traduzir na criação de cerca de 4,5 milhões de empregos até 2030, com a maior parte a estar associada ao sector dos edifícios e ao sector industrial, dadas as necessidades de renovação energética, instalação de bombas de calor, sistemas de gestão energética, etc.
Recorde-se que também a União Europeia actualizou, recentemente, as suas metas para as energias renováveis e para a eficiência energética. Ambiciona, agora, até 2030, chegar a uma quota de 45 % de renováveis, obrigando a um mínimo de 42,5 %, e avança com uma meta de 11,7 % para a eficiência energética.