Reduzir a pegada energética nas escolas e ajudar a alterar os comportamentos nas comunidades escolares foi o objectivo do ClimACT. Este projecto europeu, financiado através do programa Interreg Sudoe (que apoia projectos transnacionais nos países do Sudoeste da Europa), foi levado a cabo em Portugal, Espanha, França e Gibraltar e distinguido, pela Comissão Europeia, nos EU Sustainable Energy Awards na categoria Inovação e Juventude, no âmbito da Semana Europeia da Energia Sustentável. Baseado em Lisboa, o projecto foi coordenado por Marta Almeida, investigadora do Instituto Superior Técnico (IST), e terminou no dia 30 de Junho. A partir de agora, cabe às escolas continuar a mudança que o ClimACT iniciou.

O primeiro passo do ClimACT foi realizar auditorias sobre o uso de energia em todas as escolas participantes. Encontraram diferenças de país para país? A que conclusões chegaram?

Mais do que diferenças entre países, encontrámos diferenças entre os graus de ensino: os edifícios de uma escola primária são diferentes dos de uma escola secundária ou de uma universidade. Como este projecto trabalha em todos os graus de ensino, deparámo-nos com edifícios com complexidades diferentes. Uma universidade, por exemplo, tem edifícios muito mais complexos, com laboratórios ou sistemas de ventilação (mecânica), ao contrário das escolas de ensino não superior, em que a maioria tem ventilação natural. Estas características fazem com que os consumos sejam muito superiores quando se trata de universidades.

Que recomendações foram feitas às escolas no que toca a mudanças?

Fizemos recomendações de três níveis. Primeiro, sobre a gestão dos edifícios, como apagar as luzes quando não há utilização dos espaços ou colocação de sensores. Também encontrámos equipamentos muito velhos e, portanto, com consumos muito elevados, ou equipamentos sobredimensionados, nas cozinhas. Depois, seguiram-se as sugestões de alteração em relação ao edifício, como a troca das lâmpadas para outras mais eficientes ou nos isolamentos. Mas essas medidas, de alteração da estrutura do edifício, não foram implementadas porque o projecto não tem contemplado financiamento para efectuar essas alterações. Desenvolvemos, por isso, uma plataforma que põe em contacto as escolas e empresas de energia que podem investir nas escolas, e que acabam por ser pagas com a poupança que as escolas vão ter no futuro. Essa plataforma já foi lançada, há escolas e municípios que as gerem interessados em utilizá-la e, neste momento, estamos a contactar ESCO [empresas de serviço de energia] que possam vir a financiar essas obras. Depois da nossa avaliação, as escolas estão muito bem caracterizadas em termos de auditorias energéticas e estão preparadas para poder ter a visita destas empresas. Da nossa parte, temos condições para que se consiga estabelecer esse contacto e que comecem a existir implementações de medidas. Por último, as sugestões passaram por medidas comportamentais, em que fizemos uma sensibilização dos alunos, professores e staff das escolas no sentido de explicar a importância de se envolverem nesta temática de reduzir os consumos. E isso foi implementado.

Portanto, não foram feitas alterações nos edifícios no âmbito das alterações propostas pelo ClimACT?

Não. Há escolas que já tinham alterações previamente contempladas e, por acaso, foram efectuadas durante o período do projecto. Não estava previso que o ClimACT efectuasse alterações nas escolas, precisamente porque não havia dinheiro alocado para o efeito. O que foi feito, como referi, foi a implementação de medidas de gestão e comportamentais e, para as medidas que serão mais dispendiosas, temos a plataforma que está a começar a funcionar a partir deste mês de Julho.

Com um orçamento de 1,3 milhões de euros, o ClimACT mobilizou cerca de 14000 estudantes, 2000 pais e mais de 1000 professores em quase 40 escolas, ajudando crianças e jovens até ao nível universitário a adquirir as competências de que necessitam para se responsabilizar pelo consumo de energia nas suas escolas.

Agora que o ClimACT terminou, as escolas têm ferramentas e vão continuar a funcionar com base nas recomendações efectuadas?

O projecto foi construído de forma a que todas as ferramentas que foram desenvolvidas ao longo dos três anos que durou continuem disponíveis para as escolas ClimACT e para todas as outras escolas.

Para outras escolas também? Uma escola que não tenha feito parte do projecto pode aderir às suas plataformas?

Pode. Nós desenvolvemos ferramentas que permitem isso mesmo. Temos uma plataforma de benchmarking, onde as escolas conseguem perceber como se posicionam em relação às outras escolas, seleccionando, logo ao início, o nível de ensino em que se inserem, uma vez que os edifícios são diferentes consoante o nível de ensino, como já referi. A partir do momento em que a escola consegue perceber onde se situa (dentro da plataforma e face às outras), fica mais fácil de entender para onde quer ir e perceber que tipo de medidas deve implementar. Depois, fizemos uma ferramenta de apoio à decisão, que faz uma avaliação de medidas a implementar nas escolas. A avaliação é feita com base de ciclo de vida e de custo benefício. É uma outra ferramenta que também fica disponível para todas as escolas ClimACT e não-ClimACT. Temos também a já referida plataforma de correspondência de recursos, que liga as escolas às empresas de energia, e há também uma plataforma educacional, com conteúdos (adaptados a cada nível de ensino) para professores e alunos, de modo a capacitá-los para que compreendam o que está por trás das alterações climáticas, em termos técnicos, sociais e económicos.

E existe também a estrutura ClimACT.

Sim, foi algo muito importante que criámos dentro das escolas. Chamámos-lhe Estrutura Baixo Carbono e é constituída por um coordenador, que é quem faz a ligação entre o projecto e as escolas, e por uma Comissão Baixo Carbono, que é constituída por professores, alunos, funcionários da escola, pais, e a junta de freguesia ou a câmara municipal, associadas à escola. Esta Comissão foi treinada durante o todo o projecto para que consiga dar-lhe continuidade depois de este acabar. O estado da escola é analisado, são decididas as medidas a serem implementadas e é, depois, outra unidade desta estrutura, a Brigada Baixo Carbono, que as implementa. O impacto da implementação dessas medidas é avaliado pela Comissão Baixo Carbono, que comunica a toda a comunidade escolar os resultados que foram obtidos. Desta forma, é possível que o ClimACT consiga continuar para além do prazo de funcionamento do projecto.